12/12/2016

Um passo para trás

Você sabe como suas roupas foram fabricadas?

Com a chegada das festas de fim de ano, especialmente o Natal, muitas pessoas vão às compras para presentear família e amigos. É comum comprarmos perfumes, maquiagens, brinquedos, livros e roupas. Esta última opção de presente, aliás, é muito procurada, não apenas para presentear quem quer que seja, mas para usar nas celebrações de final do ano e, assim, desfrutar das festividades em grande estilo e na moda.

Porém, você já se perguntou sobre a origem de suas roupas? Nós prezamos por alimentos mais saudáveis, por uma vida com menor quantidade de produtos industriais, remédios, efeitos negativos da tecnologia e assim por diante. Mas já pensou que é importante também querer usar roupas cuja origem seja de confiança e que conte com mão de obra assalariada (e me refiro a um salário ideal para sobreviver, não pensando em luxuosidade) e boas condições de trabalho para quem costurou a saia, o terno, a calça jeans, que você comprou na loja, no shopping, na internet, nos brechós espalhados aos montes?

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Talvez, possa ser exagero querer saber de tudo isso antes de comprar uma peça de roupa, mas depois de assistir ao filme ‘The True Cost’ a sua postura vai mudar. O documentário reúne depoimentos de pesquisadores, jornalistas, estilistas, empreendedores e economistas, ou seja, pessoas que lidam e estudam os efeitos da chamada indústria da moda rápida. O nome já diz tudo, se trata de uma indústria que induz o consumidor a comprar, em um menor período de tempo, mais e mais roupas, sem mesmo saber se usará as peças.

Confere maior credibilidade ao documentário – que estreou em 2015 – o depoimento de uma mulher que trabalha em uma das indústrias têxteis, localizadas em países de terceiro mundo, e que luta diariamente com seu sindicado por melhores condições de trabalho. São milhares as pessoas que convivem com os perigos de indústrias que se instalam em países como Camboja, Bangladesh, China, e que exploram a mão de obra e não oferecem justas remunerações aos seus trabalhadores. Ativistas ambientais e sociais também são entrevistados no documentário, e seus relatos – e dados estatísticos – são assustadores!

A transparência das indústrias e companhias da moda, cujos nomes aparecem claramente no documentário, não existe. Não é um cenário animador. Já circularam diversas vezes nos noticiários tragédias com edifícios onde trabalhadores morreram após desabamentos, por conta das precárias condições do local do trabalho, assim como pessoas que sofrem com grandes problemas de saúde devido à água poluída de rios localizados perto de aldeias e vilas, pois são os destinos finais de despejamento de produtos químicos usados para a coloração de roupas.

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Além disso, como se não fosse o suficiente, o documentário fala do algodão usado para a fabricação das vestimentas. Algodão geneticamente modificado, capaz de resistir a muitos eventos naturais, mas que necessita de intensa pulverização usando pesticidas e verdadeiros venenos, ou seja, também estamos vestindo produtos químicos. Ademais, são venenos que prejudicam a vida de famílias e crianças inteiras e que adquirem câncer, problemas mentais e outras deficiências que foram clinicamente comprovadas após estudos realizados por médicos e que, também, oferecem depoimentos para o filme documental.

É assustador, mas quem está fora da realidade somos nós, quando não pensamos na origem de tantas roupas e marcas que consumimos. O desafio é enorme, e reconheço que não são suficientes atitudes rápidas para mudarmos um sistema consumista; é necessário que no novo ano que se aproxima possamos refletir e provocar mudanças, começando por nossos hábitos. É necessário darmos um passo para trás.

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Verônica Lazzeroni Del Cet é estudante de Letras na Unicamp


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