Rivalidade e amor
‘Amor, sublime amor’ mostra rivalidade e dificuldades que latinos têm até hoje quando decidem viver nos Estados Unidos
O filme é antigo, estreou em 1960. A imagem, trilha sonora e efeitos cinematográficos são diferentes, obviamente, de todo filme estadunidense que assistimos na atualidade. Embora não muito atual, pensando em seu ano de lançamento, aborda um assunto que acontece até nos dias de hoje, fundamentando sua narrativa inteira na tentativa de mostrar uma rivalidade que pode culminar em destruição.
Os atores selecionados para cada papel não aparentam ser os jovens que esperaríamos se o filme fosse produzido agora em nossa época, mas essa constatação é meramente uma curiosidade, afinal, basta pensar em outros filmes antigos, como exemplo, ‘Grease’ para ver que era muito comum atores adultos (notando a aparência) atuarem como jovens ou adolescentes rebeldes norte-americanos.
Em ‘Amor, Sublime Amor’, há adultos interpretando jovens sem perspectivas de um futuro bom, com emprego ou condição de vida de qualidade. O filme – que se enquadra no gênero musical – mostra, inclusive, a partir de sua trilha sonora, que se tratam de adolescentes sem rumo, sendo que, a sociedade faz de tudo para ‘silenciar’ todo e qualquer tipo de problema que eles possam gerar. Jovens infratores, jovens perdidos, jovens que não ganham a esperança ou apoio necessários.
Por ser um filme musical, as músicas cantadas revelam-se como parte indissociável da narrativa, pois são, afinal, trechos da história muito explicativos para o telespectador. É através de diversas canções e coreografias muito animadas, que conhecemos os personagens, além da forte rivalidade entre dois grupos. Um deles, os ‘Sharks’, composto por jovens estadunidenses e que dominam a periferia em que vivem. Metidos sempre em brigas, amedrontam qualquer um que cruze o caminho. O outro grupo, os ‘Jets’, é composto exclusivamente por porto-riquenhos. Trata-se, portanto, de duas gangues da grande cidade de Nova Iorque.
Contudo, muito mais do que um filme que mostra a paixão proibida entre um casal de origens completamente diferentes, é, também, um musical preocupado em mostrar como a rivalidade entre americanos e latinos é acirrada e como, certas vezes, até os encarregados pela proteção de qualquer cidadão – pensando na figura do delegado e xerife da região onde as gangues vivem – estão obstinados em não facilitar a vida de quem não é, a partir da visão deles, americano de verdade, mas sim um estrangeiro latino.
Por outro lado, outros fatos surgem durante a narrativa e que são interessantes, como exemplo, a dificuldade que latinos enfrentam em um país estrangeiro e como sentem a não receptividade dos estadunidenses. Ao longo de algumas cenas, com as coreografias e músicas, dificuldades como não encontrar um bom emprego ou as más condições de moradia são citadas pelos porto-riquenhos. Eles são a voz de todos os mexicanos, colombianos, venezuelanos e outros que não conseguem encontrar no país estrangeiro a sensação de lar, de morada com oportunidades iguais e possibilidades de uma vida melhor.
Nós, brasileiros, não sofremos tanto se pensarmos na receptividade de nossos estrangeiros em solo americano, mas, mesmo assim, ainda há casos que enfrentam, diariamente a dificuldade de serem aceitos como qualquer outro, com os mesmos direitos.
Ao longo do musical e no decorrer das canções, percebemos que a fatalidade maior de toda a rivalidade entre as duas gangues – uma representação da rivalidade latino-estadunidense – gera malefícios para os dois lados. De qualquer maneira, os dois lados são prejudicados com as atitudes xenofóbicas.
De forma delicada e embalando uma história de amor muito melodramática entre Tony e Maria, ‘Amor, Sublime amor’ é a representação fiel, para a sua época, sobre a relação de não amizade entre nacionalidades muito diferentes. Porém, ainda é uma representação fiel quando pensamos no caos e consequências trágicas para qualquer um que não aceita a diferença.
Direção: Robert Wise, Jerome Robbins
Elenco: Natalie Wood, Richard Beymer, George Chakiris e outros
Gêneros Comédia Musical, Comédia dramática
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Verônica Lazzeroni Del Cet é estudante de Letras na Unicamp
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