Presidente de ONG fala sobre combate à violência doméstica e drogas em Holambra

Leonardo Saimon

O jovem Fabiano Soares Lima, de 27 anos, é um holambrense sonhador que visa atuar a fim de mudar o mundo, por meio de ações altruístas. Talvez, não o mundo em seus mais de 200 países, porém o globo que lhe cerca, Holambra, Artur Nogueira e Jaguariúna, por meio da ONG Projeto Seja.  De que forma ele pretende fazer isso? É o que ele conta durante conversa com o Portal Holambrense.

Formado em Teologia básica e Fotografia, Lima já foi voluntário no Amazonas, e  atualmente, tem dedicado parte da vida em trabalhos com menores infratores e no combate a violência contra a mulher. “Por ser uma cidade turística, os números que mostram sobre o número de jovens que tem contato com o mundo das drogas, são maquiados no município”, revela o holambrense. “É bem mais do que mostram as estatísticas”, completa.

Segundo Lima, o apoio de autoridades políticas e civis do município são quase nulas, e o suporte das igrejas locais para tentar amenizar esta mazela social, deveria ser mais efetiva. Apesar disso, nada o impede de continuar trabalhando com pessoas em situações de vulnerabilidade.

Em Holambra, um dos projetos promovidos por este voluntário e sua equipe foi o primeiro 1° encontro Holambra Pela Paz em agosto deste ano. Onde contou com a presença de diversos esportistas.

Como surgiu a ideia de criar uma ONG? Trabalho apoiando e ajudando projetos sociais desde os meus 14 anos de idade, durante esse período conheci muita gente engajada e com boas ideias para mudar o mundo, mas com pouco apoio. O Projeto Seja nasceu com esse propósito, unir ideias, juntar forças e ser uma ponte entre o necessitado e aqueles que querem fazer a diferença na vida deles.

Conte um pouco sobre o trabalho que vocês desenvolvem… Temos o Trocando Ideias que é um programa de palestras de temas transversais que acontecem todos os meses em escolas públicas da nossa região. Tratamos temas como sexualidade precoce, drogas, sonhos, perspectiva de futuro e etc. Com uma linguagem bem dinâmica e atual, sendo um trabalho de mediação entre escola-aluno. Tem também o Mulheres Vivas: que é um programa de palestras e fóruns de conscientização sobre a violência doméstica, além de atendimentos especializados para as vítimas e seus familiares. Por fim, temos também trabalhos humanitários com pessoas em diversas situações de vulnerabilidade.

Como você vê a questão da violência doméstica em Holambra? Segundo dados da Policia Civil, só no primeiro trimestre de 2016 nove casos de violência doméstica foram registrados, contra seis no mesmo período do ano passado. Infelizmente sabemos que é muito difícil que esses números retratem a realidade, uma vez que há muitas denúncias não realizadas. Isso reflete que há muito trabalho de conscientização que ainda precisa ser feito e muitas pessoas que ainda precisam de ajuda.

Você acredita que entorpecente é um problema em Holambra? Acredito que temos um sério problema com drogas em Holambra e que precisamos melhorar através de nosso trabalho de conscientização sobre isso. Nossa cidade é cercada por conhecidos pontos de distribuição de entorpecentes, no qual estão sob o comando de traficantes poderosos. Assim como a maioria das cidades de nosso país, Holambra não está livre deste problema. Diante de tudo isso, o nosso papel é combater esse mal para que nossas crianças, adolescentes e jovens não se tornem presas fáceis e caiam nessa armadilha. 

Uma das áreas as quais vocês atuam é dando suporte a mulheres vítimas de violência doméstica. Por que vocês acreditam que esse trabalho de conscientização precisa ser feito? A cada ano a violência doméstica atinge 2 milhões de mulheres no Brasil, esse número é assustador! Precisamos conversar sobre o tema, pois a violência doméstica tem sérias consequências para a saúde física e mental da mulher. As mulheres precisam ter a consciência de que o ciúme, por exemplo, não é paixão. É algo mais complexo. O homem acha que tem posse da mulher e isto é um equívoco. Nossa sociedade é machista; muitos homens acreditam que a mulher não tem direito à autoestima, nem pode se manifestar e o pior é que muitas pessoas acham esse tipo de relacionamento aceitável.

Quantos voluntários vocês são, atualmente? Atualmente contamos com 4 voluntários fixos (que ajudam a desenvolver e executar todos os projetos). Os restantes são voluntários que aderem as campanhas e eventos que desenvolvemos ao longo do ano, temos um fluxo constante de pessoas novas dentro dos nossos projetos. Aproveito a oportunidade para dizer que estamos com as portas abertas pra receber aqueles que desejam dedicar o seu tempo pra ajudar o próximo, novas ideias e novas ações são sempre bem-vindas.

Por que você acredita ser importante trabalhar com ações voltadas para adolescentes? Acreditar na juventude é acreditar no futuro. É preciso resgatar em nossos jovens esse potencial de fazer a diferença, apresentando-lhes valores e princípios fundamentais na tomada de decisões de forma acertada e com resultados benéficos à longo prazo. Na prática, significa trabalhar de uma maneira com que cada adolescente possa se enxerga e, então, atingir a forma como eles veem o mundo.

Você encontra resistência para atuar com seu projeto em Holambra? Em Holambra temos vários parceiros que apoiam e nos ajudam nas atividades que temos na cidade. Queremos aumentar esse apoio em 2017, por exemplo, queremos no próximo ano letivo entrar nas escolas com as palestras do “Trocando Ideias” creio que é muito importante conversamos com os alunos na linguagem deles, de forma dinâmica e atual sobre sexualidade precoce, drogas, violência, entre outros assuntos.

Você recebe algum tipo de suporte financeiro para desenvolver seus projetos? Nosso suporte financeiro no momento é todo através de doações voluntárias… Para 2017 queremos implantar um negócio social, ou seja, algum tipo de comercio que vai servir como forma de arrecadar recursos para o sustento dos projetos no decorrer do ano.

Quais que são os planos para 2017? Poder ter maior participação nas escolas de Holambra e região e fazer com que esses jovens participem também dos projetos sociais levando esperança para outras pessoas. Conseguir que a mulher seja ouvida e tenha seus direitos garantidos e respeitados nesse país. A união das pessoas para uma sociedade com mais respeito e paz.

Quais são os resultados que você tem colhido com o trabalho que você vem realizando? Ver jovens debatendo sobre temas relevantes para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, a inquietação das pessoas perante às desigualdades encontradas em nosso cotidiano e as mudanças de atitudes a partir da conscientização dos temas abordados.

Quais aspectos em Holambra que você acredita que precisa melhorar? Acredito que precisamos sempre buscar melhorias em nossa rede pública de ensino, para que nossos alunos possam se desenvolver de forma integral e participem ativamente em nossa sociedade. Acredito que seja necessário discutir e criar formas de combater a discrepância social existente em nossa cidade.