06/06/2016

‘Para sempre Alice’ explora o Mal de Alzheimer com delicadeza

Livro não trata só da doença, mas busca explorar o valor de uma memória e o que pode ser realmente importante na vida.

Escrito por Lisa Genova, ‘Para Sempre Alice’ conta a história de Alice Howland, além da luta que trava consigo mesma, na tentativa vã de vencer, diariamente, a doença do Mal de Alzheimer.

O livro conta, no período de dois anos, a fragilidade que a protagonista Alice vai adquirindo com o decorrer do tempo após ser diagnosticada com Mal de Alzheimer de instalação precoce. Por mais incrível que pareça, o livro adota uma linguagem simples e modo de narrar os sintomas de fácil compreensão para os leitores que não têm conhecimento aprofundado sobre neurociência, doença mental, genética e todo jargão científico que é usado na descrição de doenças, descrição de exames ou diagnósticos.

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‘Para Sempre Alice’ fala sobre a eterna fragilidade humana, seja a do paciente com diagnóstico de Alzheimer ou não, mas também sobre o que vale a pena priorizar, seja com relação ao tempo, ou presença. A protagonista Alice leciona psicologia na conceituada universidade norte-americana Harvard, além de ministrar palestras, participar de conferências, liderar grupo de pesquisas, entre outros compromissos que a carreira de docente em uma universidade exige.

Após 25 anos lecionando e construindo uma carreira profissional muito promissora e após os recentes incidentes com falhas de memórias, Alice se vê com dificuldades para lembrar de acontecimentos recentes, compromissos e mais gravemente se vê desorientada e sem saber onde está, em um final de tarde, quando praticava sua habitual corrida. Percebe, então, que algo está errado com ela, suspeitando ser a menopausa.

Entretanto, logo depois de consultas médicas o diagnóstico vem e surpreende, de maneira maldosa, Alice e toda sua família. Não são efeitos da menopausa, porém algo mais sério. Chegou a hora de Alice tomar decisões importantes, ponderar sobre o que é realmente importante para sua vida, conforme a doença avança e vai tirando dela tudo o que ela havia conquistado profissionalmente, mas, além disso, vai tomando das mãos de Alice e da vida dela, a simples consciência do que é ser a Alice, do que fazer, do que responder, do que falar.

A autora Lisa Genova conseguiu reunir em seu livro não apenas a sua manifestação em relação ao pouco debate existente sobre a doença do Mal de Alzheimer, como também consegue despertar no leitor a necessidade de compreender a doença e compreender que, assim como portadores de deficiência física – recente ou de nascença- têm ao dispor muito apoio e ajuda de superação pessoal, não sofrendo limitações, os portadores do Mal de Alzheimer não devem sofrer limitações também, mas sim novas propostas de readaptação pessoal e aceitação de um quadro clínico progressivo e que tende piorar.

Durante a narrativa, Alice se vê em constante luta consigo mesma, mas não permite as limitações impostas. Ela tenta a todo custo superar, mesmo que em proporções pequenas, a dificuldade de lembrar compromissos, de lembrar datas e promete a si mesma, com um esquema programado e que só ela sabe, que não vai permitir chegar em um estado crítico de perda de sua memória.

O desafio maior da protagonista é aceitar sua nova condição, tentar vencer o receio de se perder, de perder a habilidade em comunicar-se, de ver tirado dela a consciência, a memória, assim como perceber que o mais importante para sua vida, sua vida com neurônios enfraquecidos, não são os momentos colecionáveis na mente, mas sim aqueles espontâneos, em que somos pegos de surpresa pelo sorvete delicioso de chocolate, pela apresentação da pianista no restaurante, ou pelo cheirinho do neto recém-nascido.

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Verônica Lazzeroni Del Cet é estudante de Letras na Unicamp


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