05/04/2016

Moradora de Holambra cuida de mais de 100 cães e luta por novo espaço

Há 13 anos Nelly Van Schagen dedica a vida para a proteção de animais. Com o contrato do aluguel encerrado, ela procura ajuda para dar continuidade ao trabalho.

Ouvir um coro de cães é saber que a casa de Nelly Van Schagen está perto. A holandesa que deixou Amsterdã para procurar uma vida diferente no Brasil, sem querer acabou-a encontrando no cuidado dos mais de 100 cães que abriga hoje nas casas dos bairros Alegre e Centro de Holambra. Trabalho que faz com gosto, mas que tem lhe custado caro.

Na entrada da casa que é cercada por lonas, vê-se o corsa branco da protetora. Um veículo sem estofado, perdido pelas mordidas dos cães, e amassado. “Não posso ficar sem carro e não posso comprar um novo. Pelo menos tem espaço para meu GPS”, explica Nell, como é conhecida, referindo-se a uma das cadelas que a acompanha nas idas ao centro de Holambra. Tudo na sua casa é pensado para os animais e mesmo a latida que parece mais comum ao ouvido de leigos é um alerta para a atenta Nell. Se Isabela late, é que Pedro teve convulsão. Se Catarina rosna, é porque pode estar metida em briga. Se Snoopy se ouriça, é um anúncio que os bois do terreno vizinho estão próximos à cerca.  “É preciso saber ouvi-los. Isso é importante”, frisa.

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Resgate inesperado

A 13 anos atrás, quando uma filhote invadiu sua casa por um fenda de 10 centímetros, Nell não imaginava que passaria a dedicar a vida para o cuidado desses animais. Na época, a cadela franzina adentrou por uma passagem de escoamento de água e seu estado debilitado fez Nell a levar para um veterinário. Enrolou-a em panos e no outro dia a deixou no consultório para cuidados. Nell também acreditava que ela seria adotada ali.

Dia a dia, porém, a holandesa acompanhava a recuperação da cadela e sentia aperto ao peito quando sabia que ainda não havia encontrado um lar. A própria pestanejava em fazê-lo, já que possuía gatos e não julgava oportuno uni-los à cadela.

A sorte mudou quando em uma manhã enquanto tomava banho ouviu um dos gatos miar. Ao deixar o banheiro percebeu que a cadela que outrora invadira sua casa estava ao portão, pedindo abrigo. Nell, de novo, envolveu-a em panos e levou-a ao veterinário, acreditando que a haviam abandonado ali na tentativa forçada de uma adoção. “Sabe aquela história de que animal escolhe você? Foi isso. Ninguém soube explicar muito bem como foi que ela escapou de lá e conseguiu achar o caminho justamente da minha casa. Mas foi assim que começou. E ela era bem assim”, e aponta para uma cadela cor caramelo, que a rodeia enquanto relembra a história.

Com o tempo mais animais foram se unindo a primeira resgatada, o que fez Nell mudar-se para o bairro Alegre há seis anos, a fim de cuidar de todos.

Os cães em sua propriedade repetem histórias de maus tratos e abandonos, alguns citados nominalmente pela protetora enquanto os acaricia. Mas o sonho de Nell, não é que fiquem nos canis criados em sua propriedade e sim que encontrem um dono ou uma dona.

O próprio espaço da casa é pensado para isso. Os largos canis permitem que os animais brinquem e interajam. Mesmo assim “está longe de ser o melhor”. Segundo Nell o ideal seri que que cada canil tivesse 250 metros quadrados, um espaço que simulasse os atuais terrenos da cidade para onde, ela crê, “os cães irão em breve”.

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Espaço

Porém, os 30 mil metros quadrados alugados por Nell estão em quarentena. Há dois anos que seu contrato venceu  e desde então a protetora convive com o medo do despejo e a ânsia de conseguir um novo local. Sem recursos, ela apenas mantem os animais e junto com um grupo de cerca de dez pessoas fundou a Associação Arca de Holambra, voltada para proteção animal, a fim de capitalizar fundos. No entanto, sem sucesso.

Hoje, entre as despesas de Nell estão R$ 100 diários gastos com alimentação, o aluguel mensal de R$ 1,5 mil e o pago em castrações e vacinas, que não consegue contabilizar.

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Condenados

Apesar disso a protetora repete diversas vezes que é seu desejo que esses animais ganhem uma casa e que um dia este trabalho seja desnecessário. Caminho que ela diz ser longo, mas que não deixará de trilhar nenhum dia. “Muitos são grandes demais ou tem alguma doença. Ninguém adota esses e eu sei que ficarão aqui. Queria muito que todos tivessem uma casa. Porque eles gostam de conviver com humanos”, desabafa, enquanto vê o sol se pôr, sabendo que no outro dia a luta continuará.

 Interessados em ajudá-la podem entrar em contato pelo telefone 9 9666-6884.

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