História da imigração holandesa no Brasil é contada na Expoflora 2018
Decoradores e artistas florais holandeses homenageiam os imigrantes na exposição de arranjos florais
A Exposição de arranjos florais, principal atração da Expoflora, homenageia nesta edição os 70 anos da imigração holandesa no Brasil. Jan Willem van der Boon e Jessica Drost, no comando de uma equipe de 22 pessoas, assinam 14 cenários em uma área de 750 m² que conta, por meio de arranjos florais, a chegada dos holandeses ao Brasil, suas impressões sobre o novo país e as lembranças da Holanda.
Os arranjos trazem as tendências e as novidades em flores e em plantas ornamentais para as estações Primavera-Verão. Para a decoração, os artistas estimam que foram utilizados aproximadamente 2.000 mil vasos de flores e 272 mil hastes de mais de 3.500 variedades de cerca de 350 espécies diferentes.
Sobre a história
A exposição começa com a viagem dos imigrantes holandeses que vieram para o Brasil em 1948, após a segunda Guerra Mundial. Com a Holanda parcialmente devastada, havia o problema da falta de alimentos e, para incrementar a produção, seriam necessários grandes investimentos.
Muitos holandeses não tinham sequer onde morar e estavam abalados pela perda de amigos, parentes e bens. Temiam-se, ainda, a ocorrência de outra guerra na Europa e uma possível ocupação comunista. Não havia perspectivas para as novas gerações, inclusive em virtude do reduzido tamanho do território holandês que, comparativamente, é 250 vezes menor que o brasileiro.
O Brasil foi escolhido porque era o único país que aceitava a imigração em grupos, tinha identificação religiosa com os holandeses (catolicismo) e terras disponíveis para aquisição. Assim, os holandeses vieram apoiados pela Liga de Agricultores Católicos, entidade que se encarregou de organizar parte do projeto de imigração. Diferentemente de outros grupos migratórios, os holandeses, desde o início, tinham em mente fazer do Brasil sua nova pátria.
Cenários
Foi neste contexto que Jean e Jéssica criaram os 14 cenários da Exposição de arranjos florais. O primeiro cenário – “A viagem” – representa o navio que trouxe os primeiros imigrantes. Foi um mês no mar, mirando apenas a amplidão do azul pelas escotilhas. Tudo muito rústico, sem nenhum conforto. O sono era compartilhado em beliches em meio a móveis, malas e baús, repletos de sonhos e lembranças. O verde representa a esperança e o amarelo, a certeza de uma vida digna. O timão sobre as flores garante que a embarcação os levará para uma vida melhor. Nos arranjos, muitas flores de corte, como alstroemérias, gladíolos (palma de Santa Rita), bocas-de-leão, crisântemos, tangos, violetas e kalanchoes.
O segundo cenário representa a “Parada de ônibus”, local onde pela primeira vez os imigrantes pisaram no solo da Fazenda Ribeirão, em cujas terras foi construída Holambra – junção das palavras Holambra, América e Brasil. Trata-se da reprodução do ponto de ônibus de madeira fincada na terra batida e com telhas francesas na cobertura. Era o local de desembarque dos novos moradores deste pedaço de chão, vindos de Jaguariúna, então a última estação do trem que os trazia do porto de Santos. Ao fundo, reprodução em fotos de um campo de gladíolos (palmas de Santa Rita) primeira flor plantada em Holambra, dez anos após a chegada dos primeiros holandeses. Gladíolos, samambaias, tostões e galhos secos destacam-se nos arranjos.
O terceiro cenário – “Impressões do Brasil” – homenageia o pintor, desenhista, artista plástico e botânico Albert Eckhout. Ele é autor de pinturas envolvendo a população, os indígenas e as paisagens da região Nordeste do Brasil. Reproduções de seis de seus quadros foram penduradas em suportes de bambu. Diversas variedades de orquídeas – phalaenopsis, denphal, cattleya, oncidium (chuva de ouro) – e bromélias das mais diferentes cores enfeitam o ambiente.
O quarto ambiente é o “Terra Prometida” e mostra um globo com a indicação do trajeto Holanda-Brasil. No cenário, apenas plantas tropicais e flores verdes. Entre elas, tostão, kalanchoe verde, antúrio, musgo, fórmio e aspidistra.
Do quinto ao sexto cenário, os artistas florais mostram a diversidade encontrada no vasto território brasileiro. O quinto ambiente é o “Sertão” e retrata a aridez da terra, também encontrada no final dos anos 1950 na Fazenda Ribeirão, esgotada pelas culturas do açúcar e do café. Para iniciar o plantio de alimentos, no princípio, os agricultores holandeses tiveram que importar um navio de calcário para tratar o solo. Cactos e suculentas em vasos de cerâmica, terreno arenoso e tons marrom e ocre são usados na decoração. As conchas que formam o lustre trazem a lembrança da sopa de batatas, muitas vezes o único alimento que os imigrantes tinham para comer.
O sexto cenário é o oposto e representa a “Selva”. A “torre verde” mostra a abundância da vegetação brasileira, representada por samambaias, bromélias, orquídeas Vanda e chuvas-de-ouro, rapsales, heras, jiboias e antúrios. Um cenário selvagem, onde o verde predomina.
No ambiente sete, a alegria e o colorido do “País tropical”. A lã colorida mistura-se às alpínias, estrelícias – conhecidas como “ave do paraíso” -, e muitos troncos de árvores. A opção foi pelas flores nas cores laranja, vermelha e rosa. As araras fazem a festa neste paraíso.
O oitavo ambiente – “Rio” – homenageia o urbano brasileiro representado pela “Cidade Maravilhosa”, cartão postal do Brasil. A única da qual os holandeses ouviram falar – embora pouco – antes do embarque no porto de Rotterdam. No ambiente, estão os pontos turísticos mais tradicionais, como o Cristo Redentor, os Arcos da Lapa e o Pão de Açúcar com um bondinho de madeira. Tudo em branco e preto para acompanhar o ondulado calçadão de Copacabana. Flor de alho, celósias, a trepadeira gloriosa, os perfumados goivos, gérberas, amaranthus, dálias, ornitorralum (a flor-dos-pássaros), lírios e molucelas, também conhecidas como sinos-da-Irlanda, estão em harmoniosos arranjos orgânicos.
O cenário nove é destinado à exposição dos “Lançamentos” de flores e plantas ornamentais: a rosa “Inglesa” (que tem mais de 100 pétalas e que lembra as raras e caras peônias) e a pelargonium (que se parece com o gerânio). Destaque para a petúnia “Night Sky” (roxa com pigmentos brancos, remetendo a um céu estrelado) e para a craspédia (arredondada, com várias florzinhas amarelas). O público conhecerá, ainda as alstresias (mistura de alstroemérias com frésias), as alstroemérias “Jumbo” e “Azul”, a suculenta echevéria na cor chocolate e duas novas variedades de crisântemos (“Lígia” e “Ipanema”). Tem flores de todos os tamanhos, como o lírio gigante “Jovem”, as minicallas, minigladíolos, minikalanchoes (em embalagens com a Turma da Mônica para atrair o interesse da criançada pelas flores) e as miniphalaenopsis em hitropote que duram 12 meses. Para a decoração, estão sendo apresentadas as orquídeas estaqueadas em formato de “coqueirinho” e as gipsofilas (mosquitinho) tinturadas em 12 cores.
O cenário 10 traz a “Casa de pau-a-pique”, reprodução estilizada da primeira moradia dos holandeses em Holambra. Construída com bambu e terra batida, a casa abre a sua porta com o coração vazado para exibir partes da rusticidade de seus cômodos e mobiliário, como o banheiro com vaso sanitário de madeira ligado direto à fossa, e as salas de jantar e estar e dormitórios unidos pela falta de espaço, apesar das famílias numerosas. Nos jardins verticais, os decoradores fizeram um mix das flores e plantas produzidas em Holambra. O banco na entrada servia para o descanso e para apreciar a paisagem daquela nova terra. A bicicleta, meio de transporte muito usado até hoje pelos holandeses e holambrenses, não poderia faltar nesse cenário.
O cenário 11 tem o poder das flores. “Flower power” foi um slogan usado pelos hippies entre os anos 60 e 70 como símbolo da ideologia da não-violência e de repúdio à Guerra do Vietnã. O ponto de encontro do movimento era em Amsterdam, num clube chamado Paradiso, escolhido devido ao nome, que lembrava um lugar pacífico. Hoje, ele funciona próximo ao Hard Rock Café e é um centro de música para todos. E foi nesse clima que chegou a nova leva de imigrantes ao Brasil e que introduziram a produção de flores em Holambra. Eles deram uma nova vida à antiga colônia e contribuíram para que ela se tornasse a “Cidade das Flores”, responsável pela metade das flores comercializadas no país. O Flower truck (caminhão de flores) representa o costume holandês de viajar em trailers. A proposta é demonstrar que a vida simples pode ter o colorido dos girassóis, lírios, crisântemos, ásteres, gérberas, cúrcumas e lisianthus. A sustentabilidade está presente no aproveitamento de materiais, como pallets, cubos de madeira revestidos com chita, vidros coloridos, tapetes, pufes, almofadas, cestas e cordão de lâmpadas.
No cenário 12 – “Arte holandesa” – a homenagem é para os grandes pintores dos Países Baixos. Nas molduras decoradas por flores, reproduções de obras de Piet Mondrian, cuja obra virou um símbolo poderoso da modernidade; Rembrandt, considerado um dos maiores nomes da história da arte europeia e Van Gogh, gênio da pintura, tendo sua arte caracterizada por cores dramáticas e vibrantes, além de pinceladas impulsivas e expressivas. Flores, como cravos, rosas, celósias e girassóis “saem” dos “quadros vivos”, para reverenciar os artistas.
As lembranças das “Cidades holandesas” estão guardadas no cenário 13. Cacos de cerâmica da cidade de Delft, símbolo da cultura holandesa, revestem os sobrados com arquitetura típica. Ícones como o “casal de beijoqueiros”, a “menina que carrega os baldes de leite”, a “vaca holandesa”, além de moinhos, tamancos e bicicletas suspensas decoram o espaço. As flores escolhidas são nas cores azul, vermelha e branca, justamente as da bandeira holandesa, Na decoração, delfiniums, lírios, rosas, tuias, buxinhas, crisântemos bola, hortênsias, agapanthus e esporinhas. A rua é imaginária, mas remete a uma pequena cidade holandesa onde sonhos, lembranças e esperança se misturam. Lembranças que se acumulam e que não saem da mente. Nem do coração.
O último cenário (14) é o “Progresso”, representado pelas pequenas estufas de flores, feitas de alumínio e plástico. A simplicidade remete às primeiras estufas instaladas em Holambra, que foram adaptadas de galinheiros. Os artistas usam material de sombreamento para proteger as flores em vasos. Cada estufa produz flores de uma cor: vermelha, amarela, rosa, roxa e branca. As caixas estão prontas para que Holambra entregue as suas flores por todo o Brasil.
Serviço
37ª Expoflora
Data: 24 de agosto a 23 de setembro (de sexta a domingo)
Horário: das 9h às 19h
Ingressos: R$ 48,00 na bilheteria e no site
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