24/04/2016

Grêmio do Ibrantina fala sobre sobre projetos e educação pública

Para presidenta e primeiro secretário da chapa, a escola é boa, mas governador deixa a desejar com os estudantes.

Na presidência do Grêmio estudantil da Escola Estadual Ibrantina Cardona, Estela Ernesto Grilo mostra que ser presidenta vai além de pensar apenas em festas para os estudantes. Em uma política que não sirva de pão e circo, ela tenta aproximar estudantes e comunidade com projetos que incluam arrecadação de alimentos e roupas para os menos favorecidos da cidade.

Aluna do terceiro ano matutino, Estela vem da experiência de um Grêmio pouco atuante em 2010, mas que a preparou para assumir o grau máximo de liderança estudantil neste ano. Ao lado dela, uma equipe de 17 estudantes, maioria meninas de primeiro e segundo ano do Ensino Médio, são seu braço direito para o trabalho na escola.

Durante uma conversa em uma das salas da direção na última quarta-feira (20), Estela e o primeiro secretário da chapa, Vinicius Antônio Marconi,de 16 anos, explicam as intenções do Grêmio e respondem sobre o sistema estadual de ensino. Não dizem que a escola foi afetada com o corte das merendas e nem que o ensino é “precário”, como normalmente categorizam instituições públicas, mas reconhecem que o governador Geraldo Alkmin deixou a desejar.

Como é constituída a chapa de vocês?
Estela
: Nós somos em 17 pessoas. A maioria dos membros são do primeiro ano e as funções deles são diversas. Desde tesoureiro, que cuida do dinheiro, até os fiscais, que fiscalizam estas pessoas. E os diretores de diversas áreas. Da área de cultura, esporte, saúde e meio ambiente. Quando tem algum projeto relevante relacionado a área deles eles têm que vir participar. E do pessoal da noite, como é preciso ter pessoal de todos os períodos, temos apenas duas pessoas. Houve falta de interesse.
Vinicius: Sobre a noite, a gente poderia ter escolhido não ter pegado pessoas, mas a questão foi que no ano passado as turmas da noite foram deixadas de lado. Então a gente optou por buscar essas pessoas, mas não tivemos tanta colaboração da parte deles.

Esse ano não teve eleições por serem chapa única. Como foi o processo até assumirem?
Estela: A organização começou em meados de março, mas assinamos a ata dia 12 de abril.

Antes de vocês a escola tinha Grêmio? Qual era a situação dos anos anteriores?
Estela:
Teve. Eu participei do Grêmio de 2014. Não teve tanta participação, não teve tanta atuação na escola, mas alguns até colaboraram, sobretudo para realizar festas na escola.
Vinicius: Ano passado não teve Grêmio. Isso por causa das greves.

Acreditam que assumir o Grêmio após um ano de hiato gera maior expectativa dos estudantes?
Vinicius:
Sim, muito, demais. Antes da gente assinar a ata eles estavam cobrando muito da gente.

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Cobrando o quê?
Vinicius: Alguns cobrando projetos.
Estela: Principalmente na área de interclasse, que são jogos entre as salas. E como a maioria gosta disso eles já estão cobrando. Perguntando se vai ter realmente… porque eles têm interesse de participar. Então eles já querem que aconteça porque nos outros anos só havia no final do ano letivo, em dezembro. E eram poucos alunos que realmente participavam. Agora eles querem que haja mais para que participem.

Além disso, quais os projetos que pretendem colocar em prática neste ano?
Estela:
Estamos pensando em colocar em prática projetos na área de arrecadação de alimentos, roupas e produtos de higiene para pessoas necessitadas. Um aluno da manhã também deu a ideia de fazer uma horta na escola para dar uma ajuda.
Vinicius: Eu mesmo dei uma ideia: a cidade tem os desbravadores, um grupo de escoteiros de uma determinada religião, que eu faço parte, e sugeri que nos juntássemos em alguns finais de semana para realizar projetos. Tem atuante na escola uma rádio e apresentações de bandas.
Estela: Mas essa apresentação de bandas não teve nos anos anteriores e como a maioria dos alunos participam, ou tocam violão ou cantam, acho importante abrir essa oportunidade para eles mostrarem o que fazem.

No ano passado o governador Geraldo Alckmin propôs a reorganização de ensino nas escolas estaduais. Como Holambra só possui o Ibrantina, a cidade  não foi afetada. Mas como vocês analisaram a medida, em vista de que muitos estudantes, inclusive em Artur Nogueira, ocuparam a escola em protesto contra o governador?
Vinicius:
Por não ter atingido muito a gente, mas vendo as outras escolas, não foi algo bom.
Estela: Foi chocante. Porque a ideia era dividir eles, fazer com que se sintam esquecidos. Porque falar que vai fechar a escola, reorganizar de acordo com a idade, divide muito as pessoas. Faz com que eles se desloquem mais dependendo do lugar. A gente não sofreu isso, mas sentimos um pouco da aflição deles. Nunca pensamos que aconteceria isso, então foi meio estranho ver em processo.

Sempre se fala que a educação pública é precária. Qual a situação do Ibrantina?
Estela:
O que faz o ensino estar precário não são os professores, são os alunos, por falta de interesse. E nessa escola, nós temos sorte, são poucos os alunos que não estão em aí, que não têm interesse. A maioria respeita, mas infelizmente tem alguns que acabam “ferrando” com a sala, “ferrando” com a escola. Mas aqui é interessante estudar, é uma oportunidade boa. Nós só ficamos um pouco sem professores no ano passado, quando os professores precisaram sair de licença. Mas não demorou tanto para entrar outro professor no lugar. E isso é bom. Mostra que o estado não está tão crítico.
Vinicius: E aqui na escola temos ótimos professores, mas a questão é como ela [Estela] disse, são os alunos.

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Uma polêmica recente envolvendo o governador Geraldo Alckmin diz respeito ao corte das merendas. A Ibrantina foi afetada?
Estela:
Não. Aqui não aconteceu isso. Só tivemos algumas mudanças por causa da reforma que está acontecendo na escola. E como eles estão fazendo a reforma na cozinha, não tem como trazer almoço, o arroz, feijão, salada. Então eles estão mandando lanche: pão com mortadela, suco e frutas. Que é uma substituição, em vista das nutricionistas, interessante. Mas em relação a falta de merenda não fomos afetados.

Você é mulher e está presidindo o Grêmio. Vê isso como uma representatividade para as outras estudantes da escola?
Estela:
Vejo. Muitas meninas pensam, principalmente nessa área de escola, que quem tem que ter o controle são os meninos e acho interessante que a maioria do grupo são meninas. Então elas que tomaram a iniciativa, que correram atrás. Acho legal isso.

É uma preocupação sua combater o machismo dentro da escola?
Estela:
Sim. Uma vez eu passei em uma sala e teve esse tipo de situação machista. Foi com uma menina que só por ser pequena, o rapaz olhou pra ela e ironizou: “Você vai fazer uma grande diferença neste Grêmio”. Achei isso de uma grande falta de respeito. Porque enquanto ela teve a coragem de dar o nome, levantar a mão e assumir esse compromisso, ele não. Então acho muito interessante essa força de vontade que as meninas estão tendo. E é uma forma de manter a igualdade entre os sexos.

Você já passou por uma situação machista dentro da escola?
Estela:
Não. Ainda bem que não.

Vocês estão no terceirão e devem sair da escola no próximo ano. Como pretendem deixar este legado?
Vinicius:
Essa foi uma questão pensada. Quando falamos em voltar com o Grêmio a gente achou muito errado juntar só os terceiros anos e não trazer ninguém para ensinar. Então o nosso objetivo é ensinar as turmas do primeiro e do segundo ano para que quando a gente saia eles tomem o lugar e saibam o que fazem, sem levar na brincadeira.
Estela: Porque muitos, quando chegam no Ibrantina, não têm noção do que é o Grêmio e como faz. Alguns chegam a achar que é só mais um peso que a escola está jogando para eles. Mas não é assim. É uma grande oportunidade de aprendizado. Tanto no trabalho em grupo quanto a aprender a organizar projetos e ajudar o próximo. E isso cria uma noção de responsabilidade maior.

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Dentro dos projetos que vocês me ciaram percebi que muitos vão além da atividade realizada dentro da escola, mas criam uma ponte com a comunidade. Acreditam que é importante essa interação?
Estela:
Sim, é importante.
Vinicius: Ainda mais quando teve a greve no ano passado que a gente achou que fosse um impacto apenas nos professores, mas não. Foi algo que atingiu os estudantes. Então a gente viu que se fizesse algo pela comunidade isso ajudaria muito os estudantes.

Vocês apoiaram a greve dos professores?
Estela:
Sim. Apoiamos porque é certo eles lutarem por melhorias. Pois estas melhorias não eram apenas para os salários deles, eram para a escola também. Porque infelizmente as salas estavam superlotadas. Aqui estava ok, mas em outras escolas a situação era muito complicada. E nós participamos em conjunto com ele. Foi algo que marcou estar ao lado deles atrás do que  precisavam.

Alguns alunos da noite do Ibrantina comentaram que há falta de professores e que as aulas acabam sendo reduzidas por isso. É um problema real?
Vinicius:
Vamos dizer que sim. Porque há uma visão generalizada de que todos da noite não querem focar no estudo, eles só querem o diploma de conclusão. Então os professores não dão aula atuante porque acham que os alunos não tem foco no estudo.
Estela: Depende da sala e também da faixa etária. Porque aqui nós temos três salas de EJA, Educação de Jovens e Adultos, e eles têm o senso de responsabilidade maior. Porque infelizmente eles pararam de estudar e agora correm atrás do prejuízo. Agora, os mais jovens não liga, não se interessam e isso refle nos professores que veem alunos desinteressados e não buscam ajuda-los por não ter retorno.


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