Filme baseado em fatos reais retrata a busca pela identidade

Se você soubesse que sua certidão de nascimento não contém as informações corretas sobre você, que nem mesmo há certeza absoluta que o seu nome é verdadeiro e que não foi trocado por outro, o que faria? Pode parecer uma pergunta fora do habitual, até porque possuímos certeza absoluta de quem somos, claro, pensando em nossos dados, como exemplo, os nossos nomes, data de nascimento, nome de nossos pais etc.

Porém, por mais impressionante que possa ser, há milhares de pessoas que descobrem a verdadeira identidade depois de certa idade, e que acabam, inclusive, descobrindo os seus verdadeiros nomes e até mesmo reencontrando irmãos ou mães, pois foram separados quando pequenos. Essa pequena ideia esboçada – mas real – de fato ocorreu e o filme ‘Oranges and Sunshine’ vai discutir exatamente sobre isso.

Ambientado no Reino Unido, Margaret Humphreys, uma assiste social, conduz um grupo de apoio para pessoas que foram adotadas quando pequenas ou que viveram grande parte da vida delas em lares adotivos, sempre convivendo com a constante dúvida sobre a identidade real e onde deveriam estar seus pais verdadeiros. Após uma das rotineiras reuniões, a assistente social recebe uma visita inesperada e que mudaria sua vida a partir de então. Uma moça jovem, que não sabia onde estaria sua mãe verdadeira, porém, o mais chocante vem em seguida; ela foi enviada com milhares de outras crianças, para a Austrália, em um navio, quando tinha apenas quatro anos.

Não acreditando, Margaret pensa ser uma história mal-entendida. Acredita que a moça esteja procurando a mãe, mas como seria possível ocorrer uma migração de milhares de crianças de um país para outro e ninguém nunca ter comentado? Inacreditável, essa foi a palavra ideal que a assistente social pensa quando analisa registros de nascimento, casamento e óbitos e acaba descobrindo o que até então permanecia em um silêncio incômodo.

Confrontada com a verdade, ela não medirá esforços para conhecer a fundo o que de fato ocorreu décadas atrás. Conhecendo aos poucos adultos que haviam sido enviados para a Austrália, juntamente com a ajuda de seu marido, irá procurar milhares de mães que perderam seus filhos quando eram crianças.

A narrativa é bem densa, os testemunhos muito fortes, se tratava de grandes esquemas para obtenção de mão de obra infantil e o pior, muitas mães nunca souberam o paradeiro de seus filhos. Estima-se que 130 mil crianças tenham sido enviadas para a Austrália e a busca por resposta permanece até hoje, após vinte e três anos do fatídico evento histórico ter terminado, os governos dos respectivos países envolvidos (Grã-Bretanha e Austrália) reconheceram a culpa e se desculparam por estragos tão profundos que causaram. Independente de todo o fato histórico e consequências, as responsabilidades assumidas nunca serão suficientes para colocar fim à tragédia humana pela qual crianças passaram e ainda passam, afinal, o tráfego de crianças permanece e como em tempos anteriores, nunca têm um final contente.

As atuações são o ponto forte do filme, a única questão que fica um pouco mal esclarecida é entender como as mães eram separadas de seus filhos, o argumento que pode servir como explicação é o fato de terem sido famílias com condições de vida precárias, fato que explica a primeira cena do filme, em que a assistente social e protagonista da história retira de uma mãe, que não tem condições de sustentar seu filho, um bebê de poucos meses de vida. Não é uma tarefa fácil, a profissão de assistente social é ter que conviver com a dor que escuta e com a qual convive, mas também é ter que lidar com a dor de ver famílias separadas por cumprir seu papel como profissional, uma vez que, podem atuar em lares e promovem o melhor para crianças.

Direção: Jim Loach

Gênero: Drama, biografia

Elenco: Emily Watson, Hugo Weaving, David Wenham, Richard Dillane e outros

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Verônica Lazzeroni Del Cet é estudante de Letras na Unicamp