28/05/2017

Diretora do Núcleo de Artesãos vê pouca valorização do seguimento em Holambra

Sônia Maria da Silva Pottes, de 65 anos, assevera que as vendas são potencializadas pelos turistas

Leonardo Saimon

Sônia Maria da Silva Pottes, de 65 anos, tem dedicado parte de sua vida para o artesanato – exceto quando precisa cuidar dos netos. Ela relembra a árdua trajetória para conseguir manter o Núcleo de Artesãos coeso e luta para que o seguimento seja reconhecido dentro da cidade. Sônia relembra um Projeto de Lei (PL) que regulamentava o artesanato em Holambra, mas esclarece que o projeto não foi levado adiante. Assim, foi criado uma Feira de Artesanato, a qual não tem ligação com o Núcleo dos Artesãos.

Além deste cenário fragmentado, Sônia também conta que o grupo é majoritariamente composto por moradores que não são de Holambra. E os clientes também são, em sua maior parte, turistas. Os percalços da vida, contudo, não a desanimaram. Ao Portal Holambrense, Sônia ainda explica a relação do artesanato com o município holambrense.

Confira a entrevista na íntegra: 

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Como você passou a se envolver com o artesanato? Eu sempre fiz artesanato aqui em casa. Era meu hobby digamos assim. E hoje, eu sou aposentada, mas tenho uma oficina onde faço artesanato também.

E como foi que o Núcleo de Artesãos de Holambra nasceu? Em 2001, 2002, eu recebi de uma senhora que faleceu uma série de materiais de artesanato: lã, linha, tecido. E eu não sabia o que fazer com aquilo, era um volume muito grande. Foi quando eu entrei em contato com outras amigas que faziam esse tipo de arte à respeito do que nós podíamos fazer. Então, surgiu a ideia da gente montar um grupo de artesãos. Primeiro, fizemos uma pesquisa pelo jornal para saber quantos artesãos tinham na cidade. Porque a gente não conhecia o universo do artesanato na cidade. A quantidade que apareceu foi exorbitante, inclusive, a gente pedia para que a pessoa mandasse uma peça do que fazia: tricô, crochê. A intenção era montar um grupo de tricô, um grupo de crochê para poder usar as lãs. Mas o que apareceu foi de um universo muito maior. Quando foi em 2004, eu falei “vamos fazer ou não uma associação?”. Os que estavam mais envolvidos toparam a ideia.

De 2001 a 2004 vocês estavam informais? Sim, estávamos.

Quantas pessoas tinham na época? Começamos com 15, 16 pessoas e chegamos a trinta.

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Qual relação você observa entre o artesanato em Holambra? Hoje, pelo material que a gente trabalha, Holambra é referência de souvenir. Não vou dizer que a gente não vende outras coisa, vende! Não vou dizer que as outras peças não venda. Vende! Porque o turista, quando ele sai pra passear, ele está disposto a gastar. Se tem uma coisa que ele gosta, independentemente de ser artesanal ou não, souvenir ou não, ele compra. Aqui no grupo, a gente tem procurado sempre dar ênfase ao artesanato não só ao souvenir, mas outros tipos também.

Qual o maior desafio do Núcleo de Artesãos, hoje?  É divulgar o trabalho dos associados que é a finalidade da associação, incrementar e desenvolver e promover o artesanato para o associado. Outro desafio é a gente manter a qualidade, o pessoal investir nas técnicas, aprimorá-las para que essas técnicas não se perca. E sempre fazer com que o artesão tenha sempre o seu lugar de destaque.


“Um dos desafios é fazer com que o artesão tenha sempre o seu lugar de destaque”


Este é um modelo de negócio rentável?  É! O pessoal está satisfeito. Depois que a gente ficou só aqui, ficou bem melhor. Quando a gente estava no centro, com as mudanças que nós fizemos, perdemos um pouco a referência. O pessoal não sabia onde a gente estava. No momento em que a gente se fixou aqui, a procura tem sido bem saudável. Até o pessoal da cidade também vem.

Quantas peças vocês têm aqui? Não tem como saber. Mas a gente limita para que as pessoas tragam em média de meia dúzia à trinta peças. Trinta para aqueles que vendem e meia dúzia para os que produzem produtos grandes. Mas tem gente que consegue fazer três no mês porque depende do trabalho, depende muito da técnica e do objetivo do trabalho.

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A Feira de Artesanato tem alguma relação com o Núcleo de Artesãos? Não, porque eles não quiseram se unir. Não quiseram tornar tudo uma coisa só. Eles querem deixar do jeito que está. Mas não vejo problema nenhum. Tudo é saudável. Eu faço esse trabalho para ajudar aqueles que querem expor, que querem vender. Além disso, meu objetivo é atender não só o turista, mas atender o morador da cidade. Só que o foco do morador é diferente.

A criação da Feira de Artesanato tem afetado o desempenho do Núcleo? A gente estava, há um ano, com menos associados. Com uma média de quinze. Nesse tempo, as vendas estavam fracas e ter que fazer o plantão na loja estava desestimulando os associados a permanecerem. Por ser uma associação, a intenção era unir todos os artesãos da cidade para se tornar um grupo forte e até mesmo para que a gente pudesse pensar na possibilidade de fazer algo de maior âmbito: uma loja maior, um espaço maior e ter mais pessoas envolvidas. Só que, por algum motivo, havia um antagonismo do pessoal de eles não quererem se associar. Como associação, nós temos regras, temos normas. Eu tentei fazer as coisas ficarem mais flexíveis possível pra que desse espaço para todo mundo. Mas eles não queriam, achavam que a Prefeitura deveria ceder um espaço para eles. Mas não há nenhum atrito com eles, muito pelo contrário, alguns do que estavam aqui foram para lá. Eu acho que é uma concorrência saudável porque eles fazem coisas que nós não fazemos assim como a gente faz coisas que eles não fazem. O foco deles é outro. A desvantagem que eu vejo é que na forma de feira você só pode vender aos sábados e domingo.


“A intenção era unir todos os artesãos da cidade para se tornar um grupo forte”


O morador de Holambra costuma comprar? É muito pouco. Se não tivesse turista, nossas vendas não estariam saudáveis. Mesmo os que participam da feira falam a mesma coisa. Se não tivesse turista a gente não teria boas vendas.

Você acredita que isso poderia ser diferente? Gostaríamos que fosse. Mas aí vai da população. No interesse da população pelo que se faz de artesanato na cidade. Eu não tenho como impor, isso vai de cada um. Se eles acham que o trabalho dos artesãos não tem qualidade, não é bom ou eles não gostam do que a gente faz, eles podem ajudar a dar uma ideia do que a gente pode fazer para melhorar. Porque aqui na associação a gente exige qualidade, a gente não deixa repetir produto e nem copiar o produto do outro, então, a gente tem as regras para valorizar o trabalho de cada um.

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Qual o horário de funcionamento do Núcleo? Das nove às cinco, de terça à domingo.

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