22/05/2016

Diretor de teatro fala sobre trajetória e desafios em Holambra

Antônio Carlos Théko também avalia decisão tomada pelo governo federal de extinguir Ministério da Cultura.

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A partir deste domingo (22) o grupo de teatro holambrense Cia Galhofeiros irá se apresentar em diversas cidades da região. A primeira parada dos atores será em Amparo onde eles apresentarão a peça Porco Mau e as três Lobinhas. O grupo existe há cerca de cinco meses como resultado de uma oficina de teatro realizada em Holambra e dirigida pelo então diretor, Antônio Carlos Théko. Na ocasião, após nove meses de oficina, Théko selecionou os alunos que se destacaram durante todo o curso. Atualmente, a equipe conta com oito artistas: Flávia Costa, Edison Neto, Joaquim Oliveira, Cristiane Polovyi, Gabriel Expedito, Adriana Castilho, Taís Franciele, além do próprio diretor, Antônio Carlos Théko.

Amante do teatro e do cinema, o ex-artista plástico e atual diretor teatral Théko, de 53 anos, nasceu em São Paulo e, desde 2006, tem dedicado sua vida em trabalhos voltados ao mundo artístico. De forma divertida e autêntica, Théko, fala da paixão pelo trabalho que tem realizado em Holambra e dos desafios que enfrenta para conseguir continuar o projeto. “Precisamos do apoio das empresas da região, se elas puderem nos ajudar financeiramente, com pouco que seja, já é o suficiente”, pontua. Nas últimas semanas, eles têm arrecadado fantasias e roupas customizadas para ampliar as possibilidades de figurino do grupo.

Em entrevista ao Portal Holambrense, o diretor também comenta sobre a as decisões tomadas pelo governo federal ao extinguir o Ministério da Cultura. Segundo ele, a decisão do atual presidente interino, Michel Temer, é polêmica e equivocada. Ele acredita que, dessa forma, os maiores prejudicados são os pequenos produtores. “Eles deveriam rever as leis e não extinguir o ministério”, avalia.

Quando nasceu essa paixão pelo teatro e pelo cinema? Eu comecei a atuar em 2005, a convite de um amigo meu. Antes disso, eu era artista plástico e fazia exposições de quadros, mas as pessoas não entediam o que eu queria dizer, porque eles (os quadros) eram surrealistas. E eu tinha essa frustração das pessoas não entenderem o que eu queria fazer. Parei de pintar e fui estudar fotografia. Então eu parei com a fotografia, mas ainda sentia a necessidade de fazer alguma coisa. Foi então que surgiu a oportunidade de ir morar em Boa Esperança (MG), e lá eu senti um vazio porque a cidade era bem pequena. Nesse tempo, o marido de uma amiga da minha esposa me fez o convite para atuar. A primeira vez eu recusei, depois ele tornou a me convidar e eu sempre hesitando. Até que um dia ele perguntou o que eu perderia caso aceitasse. Então eu pensei melhor e resolvi cair de cabeça nesse universo.

Você tem ideia de quantas vezes você já subiu ao palco? Não tenho ideia porque eu já subi em cada palco. Eu teria que pegar e anotar todas as vezes que atuei. Acredito que umas 50 vezes.

Qual a diferença de atuar em cinema e atuar em teatro? Tem uma diferença muito grande, vou explicar o porquê. Porque teatro você é amplo e mais expressivo. Você precisa gesticular mais. Tudo é amplo e exagerado. No cinema não. No cinema é tudo mais contido, a sua voz é mais baixa. É menos gesto, é menos tudo, é muito mais intimista. Tanto que quando eu fui gravar o primeiro filme as pessoas com quem eu trabalhava diziam “menos, Antônio Carlos, menos. ”

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Como você chegou em Holambra? Quando eu vim fazer curso no polo cinematográfico em 2006, eu e minha esposa procuramos casa para morar em Paulínia, mas não tinha. Procuramos em Jaguariúna, também não tinha. Então um amigo meu falou de Holambra e quando eu cheguei na cidade eu disse “é aqui que nós vamos morar. ” Já fechamos um aluguel aqui e quando nós voltamos já viemos com os móveis e tudo.

Como e quando surgiu o grupo teatral que atualmente você coordena? Quando eu me mudei para Holambra eu pensei que precisava montar um grupo de teatro. Em 2010, eu vi o primeiro presépio vivo aqui em Holambra e imaginei que dessa encenação eu tiraria bons atores. Eu descobri um rapaz chamado Fábio Junior e juntos montamos o primeiro grupo de teatro chamado Eterna Arte. Com esse grupo nós apresentamos duas peças, mas o grupo se desfez porque uma parte era de estudantes que foram fazer faculdade. Então eu parei para me dedicar novamente ao estudo. Depois de realizar a primeira oficina, eu selecionei os atores que mais apresentaram responsabilidade, comprometimento, talento e aptidão para o teatro durante a oficina.

De onde que veio o nome Cia Galhofeiros? Nós pesquisamos esse nome e ele foi escolhido para representar a veia muito artística para a comédia que todos nós temos. Nós somos muito cômicos.

Todos os atores do Cia Galhofeiro são holambrenses? Sim. Todos os atores são de Holambra.

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Quando que surgiu a oportunidade de você montar a oficina de teatro em Holambra? Foi quando a secretária de Cultura, Alessandra Caratti, me perguntou o porquê de eu não fazer uma oficina de teatro aqui para formar atores holambrenses. Só que nessa época, eles ainda não tinham a verba.  Foi quando, em 2015, a prefeitura nos comunicou que já tinham a verba para começar a oficina. Então o Fábio Junior (ex- ator de um outro grupo de teatro que tinha em Holambra) e eu resolvemos dar a oficina incentivados pela prefeitura.

Existe projeto para novas oficinas? Olha, a diretora do departamento de Cultura pediu para eu mandar projetos para novas oficinas. Eu fiz o projeto e já está na mão dela, mas até agora eu não tive reposta. Até porque a crise financeira tem afetado a cultura. Inclusive nós estávamos pensando em selecionar novos atores destas oficinas para ampliar o grupo.

Vocês estão apresentando em outras cidades também? Sim. Neste domingo (22) nós vamos apresentar a peça Porco Mau e as Três Porquinhas às 16 horas na praça Pádua Salles, em Amparo. Mas nós já temos agenda para outras cidades da região também.

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Do que trata a peça que vocês irão apresentar? A peça narra a continuação da fábula do Lobo Mau e os Três porquinhos com uma visão atualizada, inserindo objetos tecnológicos de última geração no dia a dia dos personagens, trazendo assim a história para a realidade das crianças. Todos já conhecem a história de Prático, Heitor e Cícero, os três Porquinhos, que colocaram o Lobo Mau para correr depois que ele caiu no caldeirão de água quente, mas o que aconteceu com eles depois que o Lobo foi embora? E quem são as Três Lobinhas?  De onde elas vieram? Porco Mau? Mas não era o Lobo Mau? Tudo irá ser revelado nessa história onde tudo parece que está fora do lugar.

A peça surgiu de que forma? Eu estava em Minas Gerais, na beira do lago, na cidade de Boa Esperança. Eu pensei em fazer algo diferente. Então surgiu a ideia e eu fiz metade dessa peça. Ela ficou parada por muito tempo e eu sempre olhava para ela querendo apresentá-la. Durante as oficinas eu vi que era o momento de eu tirar ela da gaveta e rapidamente terminei a metade que faltava.

O presidente interino, Michel Temer, optou nos últimos dias pela extinção do Ministério da Cultura. Como você avalia essa decisão? Eu acho que extinguir é um erro. Eu acredito que deveria ser feito um pente fino no ministério e nas leis de incentivo à cultura. A Lei Rouanet, por exemplo, foi distorcida e só aprovavam para grandes shows como o Rock In Rio. Então o Rock In Rio arrecadava não sei quantos milhões e ainda cobrava pelo ingresso. O montante de recursos que tinha nessas leis ia para esses eventos. Agora vai um pequeno produtor buscar esse dinheiro, vê se consegue. Você mostra o projeto para as empresas e elas querem saber quem são os famosos que irão atuar nela. Se não tiver famosos, eles acreditam que a marca não vai ter visibilidade. Não importa quanto você peça, se não tiver ator conhecido, eles não ajudam. Existia essa distinção e esse era o erro. A solução seria eles distribuíram de forma equilibrada. Extinguir esse ministério foi a maior besteira que eles fizeram e isso ainda vai dar pano pra manga.

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