Diretor de coleta do Hemocentro elogia campanha de sangue em Holambra
Médico hematologista e hemoterapeuta Vagner de Castro é morador local e há 23 anos atua como diretor responsável pelo serviço de coleta no Hemocentro
Da redação
Vagner de Castro é médico hematologista e hemoterapeuta, e há 23 anos atua como diretor responsável pelo serviço de coleta no Hemocentro. Por ser morador de Holambra, Castro consegue traçar um panorama ainda mais efetivo das campanhas no município. Durante a entrevista, Castro discorre sobre a importância de ser um doador voluntário e dá sugestões para que Holambra se torne pioneira em ações que possam contribuir significativamente para o aumento desses voluntários.
Além disso, o médico também comenta sobre o Junho Vermelho. A ação é uma campanha apoiada pelo Governo Estadual que visa conscientizar a população sobre a importância de se doar sangue. Durante este mês, todas as cidades do estado realizam ações para incentivar os cidadãos a se tornarem doadores.
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
O que é o sangue e por que ele é essencial para a vida humana? O sangue é um dos tecidos do organismo e tem várias funções. Dentre estas funções, tem-se a oxigenação de todos os tecidos; cérebro, rim, pulmão, coração, fígado; tem a função de defesa de imunidade, ele tem a função de transportar as substâncias e nutrientes da nossa alimentação. E tem também por função a coagulação sanguínea, que cessa a perda de sangue de um vaso rompido.
Quantos litros de sangue tem uma pessoa normalmente? Na verdade, isso vai depender muito do tamanho e do peso da pessoa. O volume sanguíneo, em litros, corresponde a cerca de 70% do peso da pessoa. Então, uma pessoa que pesa 70 quilos vai ter 4,9 litros de sangue circulando.
Quais os principais fatores que levam uma pessoa a precisar da transfusão de sangue? Se a pessoa tem perdas das células que fazem o transporte de oxigênio, que são os glóbulos vermelhos, e nesse caso existem várias razões para que isso aconteça, desde uma alimentação inadequada, falta de nutrientes até doenças da própria medula ósseo onde são produzidas as células do sangue, pode levar a necessidade de se fazer reposição da célula pronta. Se a medula não está produzindo e você precisa manter a oxigenação dos tecidos, então é necessário fazer essa transfusão.
Existem também vários grupos sanguíneos. O que seria isso? Grupo sanguíneo é que nem cor de olho, cor de cabelo, cada pessoa tem seu grupo sanguíneo. Existem vários grupos sanguíneos, os mais frequentes são os que a gente procura mais que é o ABO e o Fator RH, que são os mais envolvidos em compatibilidade. Existem, hoje, mais de três mil grupos sanguíneos, entre glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas, identificados. Quando o indivíduo possui um determinado grupo sanguíneo, o ideal é que ele receba um glóbulo vermelho igual ao que ele tem no corpo dele. Quando você passa um incompatível, você pode ter complicações graves.
“Se a medula não está produzindo e você precisa manter a oxigenação dos tecidos, então é necessário fazer essa transfusão”
Como estão os estoques do Hemocentro de Campinas atualmente? A gente passou por uma fase muito crítica até mais ou menos uns 15 dias atrás. Porque o tempo estava ruim, estava chovendo, estava frio, e somando com feriados consecutivos, que a gente teve no final de abril e começo de maio, passamos por uma crise grande. A queda foi de aproximadamente dez por cento, mas persistente por quase um mês. A ponto da gente chegar a suspender cirurgias agendadas aqui no complexo da Unicamp. De 15 dias para cá, com a campanha que a gente soltou do Junho Vermelho e com a divulgação que a gente teve na imprensa, pelas redes sociais, a gente conseguiu reverter essa situação. Essa reversão, a gente sabe que é uma coisa temporária também. O tempo continua ruim, continua chovendo e as pessoas continuam sem disposição para sair de casa. A gente prevê que, não havendo manutenção deste aumento de doações, nós podemos voltar a ter problemas nas próximas semanas.
Você falou em uma queda de quase 10%. Em números reais, quantas bolsas deixaram de ser arrecadadas? Não dá para falar em perdas de bolsa de sangue porque, como eu falei para você, o estoque é muito dinâmico. Mas a média que a gente estava tendo era em torno de 230 bolsas coletadas diariamente. A gente conseguiu voltar com uma média de 330 bolsas. Então, houve um aumento de 100 bolsas, em média, por dia, nos últimos 15 dias, e isso nos trouxe uma tranquilidade. Esse aumento corresponde a 48% nos números de doações nestas últimas duas semanas. O que a gente gostaria era de ter um aumento ainda que não fosse grande. Que mantivéssemos uma média de 280 bolsas por dia para gente poder ficar em uma situação de tranquilidade.
De que maneira essa queda afeta o serviço do Hemocentro? Se não tem sangue, tem gente que morre, tem gente que não faz cirurgia, tem gente que não consegue fazer as transfusões de rotinas para manter a integridade e a qualidade de vida boa. O sangue não tem nenhum substituto sintético, então a gente conta com as doações para que manter a vitalidade das pessoas que dependem da transfusão.
“O sangue não tem nenhum substituto sintético, então a gente conta com as doações”
E como surgiu o Junho Vermelho? Qual o objetivo da campanha? No dia 14 de junho é comemorado o dia internacional do voluntário doador de sangue. E o estado de São Paulo promulgou uma lei que define este mês junho como Junho Vermelho, justamente, por causa do dia mundial do doador voluntário de sangue.
Holambra é uma cidade de 13 mil habitantes e conta com cerca de 50 bolsas por campanha. Este número é compatível com o tamanho do município? É importante lembrar que a gente tem um comparecimento bastante razoável, proporcional ao tamanho da cidade. Nós temos uma média de 50 bolsas a cada coleta toda vez que vamos a Holambra. Exceto no mês de novembro do ano passado que a gente teve, pontualmente, um número baixo com 26 candidatos. Mas, em outras coleta, a gente consegue manter a média de 50 bolsas coletadas. Então, a gente percebe que a comunidade aí de Holambra é bastante engajada na questão de doação de sangue e a gente pretende que isso se mantenha e até cresça.
Esta quantidade razoável poderia ser maior? Com certeza dá para aumentar. Porque Holambra, hoje, conta com 13 mil habitantes. Se a gente pegar aí três por cento da população para fazer doações regulares, a gente teria 390 por coletas. É óbvio que isso é um número alto. Neste casso, nós estamos falando de doações regulares padrão Organização Mundial da Saúde (OMS). O que a gente gostaria de ter um acréscimo de chegar a pelo menos dois por cento da população doando regulamente. A coleta de Holambra é ruim? Não, não é ruim, mas dá para melhorar.
Você acha que há o devido incentivo por parte dos governos municipais, estaduais e federal para as campanhas de doação de sangue? Na verdade, não existe um envolvimento formal e regular em relação as campanhas. Em Holambra, a Prefeitura solta as notas de campanha na imprensa. Mas não sei, se pelo fato de a Terceira Idade ficar fora do centro – o que pode dificultar um pouquinho o acesso –, ou, eventualmente, intensificar a forma de divulgação, envolvendo, talvez, o padre Paulo, colocar alguma coisa na semana que antecede a coleta. De forma alguma estamos dizendo que a cidade não está envolvida porque a gente consegue manter uma coleta regular, mas de novo, poderia ser melhor. A gente tem apoio do diretor de Saúde na divulgação. Só que o trabalho de divulgação é um trabalho árduo, ele consiste numa mudança de cultura.
Que sugestão você deixaria para que Holambra pudesse melhorar estes números de doadores? Uma coisa que Holambra poderia dar exemplo é na divulgação nas escolas para criar esta cultura nos estudantes. Que as escolas, principalmente, municipais discutissem isso e levassem a essas crianças a questão referente a doação de sangue. Porque, no futuro, essas crianças vão ser adultas e, adquirindo essas informações, a médio e longo prazo, a gente vai ver uma reflexo positivo.
“A coleta de Holambra é ruim? Não, não é ruim, mas dá para melhorar”
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