17/04/2016

Delegada de Holambra fala sobre os crimes que preocupam a cidade

ENTREVISTA: Juliana Belinatti Menardo fala sobre violência doméstica e furtos na cidade.

Responsável desde 2013 pela Delegacia de Polícia de Holambra, Juliana Belinatti Menardo é formada em Direito pela Unimep e tem opiniões fortes. Durante uma conversa com a equipe do Portal Holambrense ela falou sobre assuntos diversos e ainda disse o porquê é a favor do desmilitarismo. “Penso que pra ser uma polícia eficiente mesmo, ela deveria ser desmilitarizada. Ter treinamento de um policial civil. Porque a gente tem que ter esse diálogo com o cidadão. E não imaginar que o cidadão está contra a gente”, destacou.

Diante dos índices de criminalidade que caíram de 2014 para cá, avalia que Holambra segue como uma cidade tranquila, mas que ainda sofre com a violência contra a mulher e os furtos, principais ocorrências registradas na cidade.

Conte um pouco da sua carreira até chegar em Holambra. Eu fui advogada tributarista, trabalhei na prefeitura municipal de Cosmópolis. Antes advoguei em outras áreas, me especializei. Depois de Cosmópolis passei em um concurso e virei delegada de polícia, em 2012.

Você começou em qual delegacia? Primeiro fui para uma academia de polícia e fiquei lá de quatro a cinco meses. Depois de lá fui para a Delegacia de Polícia de Barueri, na grande São Paulo. Fiquei lá durante oito meses depois vim para Holambra.

E isso foi em que ano? Foi em 2013.

A Delegacia já era neste espaço novo? Não. Era no outro prédio, próximo à Polícia Militar. Na Jorge Latur.

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Sentiu muita diferença de Barueri a Holambra?  Sim. Porque Barueri é uma cidade mais violenta e está bem próxima a São Paulo. E como integra a grande São Paulo o índice de criminalidade é bem alto. E Holambra é uma cidade bem pacífica. Tem um índice baixo de criminalidade.

Hoje você não atua apenas em Holambra, serve a Mogi Guaçu também… Na semana passada eu estava respondendo para Mogi Guaçu. As vezes a gente acumula várias unidades policiais. Hoje, por exemplo, só estou com Holambra, semana passada estava com Mogi Guaçu também. Às vezes na Delegacia da Mulher de Mogi Guaçu, às vezes acumula com Jaguariúna, Pedreira. A minha seccional é Mogi Guaçu e ela abrange oito municípios aqui da região.

Você é mulher e ocupa um cargo que por muito tempo foi apenas de homens. Passou por muito machismo até chegar aqui? Eu acho que não, sabe. Antigamente havia muito esse preconceito com a mulher, mas agora vejo que há até uma certa proteção. Dos policiais mesmo. Na hora de atuar eles tem um jeito de falar com a mulher. Mas eu não vejo muito isso não. Está mudando bastante.

Nunca sentiu ser barrada ou ser tratada cm desdém pelo fato de ser mulher… Não, não. O pessoal fica surpreso por ter uma mulher no cargo, mas não senti nenhum problema com isso não. Até porque tem muitas mulheres agora.

E isso acaba servindo de representatividade para outras mulheres que pensam em seguir esta carreira… É. Isso mesmo.

Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, o principal crime cometido em Holambra é o furto. Qual trabalho preventivo seria essencial para coibir os furtos? Nosso maior problema mesmo é o furto de residência. A questão é que a Polícia Civil não trabalha muito com a prevenção. A prevenção seria com a Polícia Militar, Guarda Municipal. Mas é claro que como a gente integra as instituições policiais, a gente também tem esta preocupação. O furto, como é um crime em que é difícil ter vestígios, se não tiver uma câmara de segurança, um vizinho que tenha olhado a placa do veículo, fica difícil solucionar. Então é isso o que a gente precisa. Uma cidade monitorada direitinho… se tiver residências com monitoramento também ajuda a descobrir quem é.  Porque não se tem aquela visão de quem foi, no roubo não, no roubo é mais fácil. Alguém visualiza e reconhece. Agora furto a gente depende de monitoramento, de algum vizinho… sabe aquele trabalho de comunidade local? Que alguém ouve um barulho e vai lá ver? Tem que ter isso. Senão a gente não consegue.

Olhando os dados, chama a atenção que em épocas que acontecem grandes eventos, como a Expoflora, o número de furtos não aumenta. O que pode explicar isso em vista de que outras cidades o fluxo é o oposto?  A Expoflora é muito bem organizada. Ela tem uma segurança boa, estacionamento muito bom. E isso depende muito do evento. Por exemplo, quando acontece o rodeio em Jaguariúna, é histórico, porque lá é um outro tipo de evento. Mas aqui é um evento mais familiar. É direcionado para uma população mais específica que é a população familiar. É um evento típico que não se compara a um rodeio, que tem um público diferente. Então é mais por isso mesmo: O público é diferente e o próprio evento faz uma segurança muito boa também.

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Hoje a Delegacia conta com qual efetivo para fazer as investigações? Aqui na Delegacia de Polícia temos quatro policiais civis, tenho a colaboração de dois guardas municipais, dois estagiários e um funcionário que a prefeitura sede pra gente.

Qual a situação da cidade em relação aos crimes de violência doméstica? Como estávamos falando, a cidade tem muito furto de residência, mas muito Maria da Penha também. E acredito que este seja o nosso segundo crime mais cometido na cidade. Depois vem embriaguez. Embriaguez devido aos barzinhos que temos na cidade.  E embriaguez ao volante é algo que acontece muito à noite. Mas é uma coisa de cultura, infelizmente. Agora, com relação à Maria da Penha, a gente tem muitos casos também. E aí o que é que acontece, a gente tem medidas protetivas, a gente informa o judiciário que a vítima, à mulher, tem direito a algumas medidas protetivas, de afastamento do lar para o agressor, ou a proibição de aproximação. E a gente faz essa ponte com o judiciário e o judiciário que avalia o caso e se ele aceita a medida protetiva, a gente cumpre. Mas tem muita ocorrência sim.

Esse dado surpreende pelo porte de uma cidade como Holambra… Ah, sim. Geralmente acontece com casais que vieram de fora, não são pessoas do município. São pessoas que vieram de outras origens. O que a gente verifica facilmente olhado o B.O. Não há um ponto, uma questão específica que determine a Maria da Penha. Ela ainda é um pouco cultural.

Qual seria o melhor método para combater esse tipo de violência, pensando agora no âmbito sociedade? Penso que seria mais uma questão de educação mesmo, uma questão cultural. Porque Maria da Penha é um problema da fragilidade do gênero. É uma questão ainda cultural no Brasil de se achar que a mulher não tem palavra, não tem uma visão correta do mundo… Então o homem vai, agride, e acha que vai ficar por isso mesmo. Então a lei Maria da Penha veio pra proteger essa fragilidade do gênero mesmo. Só que a gente percebe que está enraizado na cultura brasileira. Por isso acho que é uma questão de educação mesmo. Tem que mudar essa visão de mundo. A gente percebe que já mudou um pouco. Por exemplo eu, como delegada, não sinto preconceito. Mas ainda existe na questão Maria da Penha. Tem muitos homens que agridem as mulheres achando que vai ficar por isso mesmo. Que ele é dono dela, proprietário… mas não é bem assim.

Em Holambra não há uma Delegacia para mulher. Todos os serviços são concentrados aqui? Sim. Aqui é uma Delegacia geral. Delegacia da Mulher é só para centros maiores em que o fluxo é muito grande. Então aqui nem caberia.

Porte de entorpecentes é um problema para Holambra também? A droga é um problema que assim como Maria da Penha já se alastrou para diversas cidades. Tem bastante usuários de drogas. A gente não tem muito tráfico de entorpecentes, mas usuário tem, e usuário é uma questão de saúde. Não é nem uma questão criminal. As pessoas usam mesmo droga. É uma questão de acompanhamento, principalmente do adolescente e jovem. Claro que se começa a utilizar droga vira uma questão criminal. Entra o tráfico e aí começa a usar o próprio tráfico ou outros delitos para consumir a própria droga. Então, o uso da droga vai se alastrando e criado baixa criminalidade. Se a gente não consegue conter vira alta criminalidade.

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Acredita que a descriminalização da maconha é uma pauta importante para diminuir esses números? Eu acho complicado falar de descriminalização. A gente percebe que apesar de você tornar uma determina conduta criminosa não mais criminosa e isso melhorar a visão de não ter mais tráfico, fica mais apaziguado, a gente tem também aquela questão que usuários de crack, após o uso, se tornam pessoas violentas. E também vai entrar no crime de alguma forma. Então não sei até que ponto… A gente fala crack, que é a pior droga que tem. Mas se a pessoa entra pela maconha devagarzinho ela pode entrar em uma cocaína e entrar no crack. A gente fala que a maconha é a porta de entrada, né. Então o uso da droga em si eu não vejo até que ponto pode ser benéfico para a sociedade. Pode ser benéfico a descriminalização do tráfico, mas penso que para a saúde pública fica muito grave. Porque teremos muitas pessoas utilizando a bel prazer e isso, em grande escala, é violento. Então não vejo muito benefício na descriminalização.

De dois anos pra cá, movimentos sociais passaram a pedir a desmilitarização da polícia militar e muitos agentes se colocaram a favor dela. Como você vê essa pauta? Eu sou a favor da unificação da polícia e da desmilitarização sim. Acho que a polícia tem que ser civil e não militar. Porque o regime militar lida com o crime de uma forma diferente do jeito que um policial formado em civil. A gente tem que lidar com o cidadão como um cidadão, e não como se ele fosse o mal, ou achando que ele vai causar um dano, como na época da ditadura quando todo mundo era um mal pro Estado. Concordo que a polícia militar mudou muito desde o regime militar. Mas penso que pra ser uma polícia eficiente mesmo, ela deveria ser desmilitarizada. Ter treinamento de um policial civil mesmo. Porque a gente tem que ter esse diálogo com o cidadão. E não imaginar que o cidadão está contra a gente.

No ano passado durante manifestações dos estudantes em São Paulo foram relatados uma série de abusos da PM. Acredita que há excessos em algumas ações? Sim, claro. Não chego a dizer que eles estão errados porque eles são treinados dessa forma e aí é próprio da maneira como eles são acionados o agir dessa forma, mas é claro que o militarismo ajuda a cometer abusos.


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