18/02/2018

A trágica história da cruz na Praça dos Pioneiros

Local foi palco de um assassinato antes de Holambra ser Holambra

Rui do Amaral

Holambra, década de 1980. A ‘Cidade das Flores’ ainda nem havia sido emancipada, sendo, à época, apenas uma comunidade organizada no entorno de cooperativas. Onde hoje repousa a verdejante Praça dos Pioneiros, não havia asfalto e nem uma praça como a que se tem hoje. Talvez, um dos únicos estabelecimentos que permaneceram quase que inalterados foi a famosa Banca do Mané, propriedade de Alcides Apolinário (conhecido massivamente por Mané da Banca). E é justamente ali, ao lado da loja de revistas, que o clima esquentou há cerca de 30 anos. Vale destacar que, por não haver registros oficiais, não se sabe até que ponto os relatos a seguir realmente ocorreram, sendo em sua maioria apenas lembranças de antigos moradores.

Mané conta como se fosse ontem o fato que chamou a atenção dos moradores daquela singela colônia holandesa que aos poucos se erguia no interior de São Paulo. Naquele tempo, os trabalhadores rurais costumavam se encontrar em um extinto bar localizado onde hoje é um depósito. Mesmo sem recordar o ano exato em que o fato ocorreu (uns dizem anos 80, outros, 90), Mané da Banca relembra que um rapaz forte e alto vindo do Nordeste havia chegado na região a pouco tempo e trabalhava como segurança noturno nos estabelecimentos no entorno da praça. “Na verdade, eu não lembro se ele era nordestino e vinha de São Paulo ou se vinha do Nordeste mesmo. O que sei é que ele gostava de tomar uns goles”, recorda.

Um pequeno bar, sem muita estrutura. Alguns amigos agricultores estavam sentados em uma mesa com uma garrafa de vidro ao centro. Todos com seus chapéus sobre a mesa, conversando irreverentemente como bons amigos. A cada piada, um gole de cachaça quente. A luz do Sol entrava por uma larga fresta na porta da frente. De repente, o ambiente escureceu-se com a chegada dele, o forasteiro. Sua estatura avantajada tapou a fresta da porta, chamando a atenção de todos dentro do recinto.

Ao se aproximar do balcão, pede uma generosa dose se alguma bebida forte. Entre os amigos que estavam na mesa, um seria personagem principal da história que se desenrolaria a seguir. O chamaremos de ‘caboclo’, como alguns velhos moradores de Holambra na época o descrevem.

Na memória de Mané, o “estranho sem nome” vindo do Nordeste, enquanto saboreava seu destilado no estabelecimento já citado, se desentendeu com o caboclo, que trabalhava como agricultor em uma fazenda da região. Quando a briga começou, o nordestino sacou um chicote e acertou o homem. “Essa é a última vez que você bate em alguém, não se esqueça disso”, ameaçou o caboclo logo após ser golpeado. Os dois foram embora antes do cair da noite, mas a história estava longe de terminar.

O caboclo, que nada mais era do que um trabalhador de mãos calejadas e de baixa estatura, não aguentou o desaforo e a humilhação ao ser atacado em frente dos companheiros. Foi até à residência do patrão e lá encontrou o que precisava: uma arma calibre 12. Era escuro no entorno na Praça dos Pioneiros, já que no local não havia iluminação. O canto dos pássaros indicava o início da noite e montava o cenário ideal para o duelo que viria a seguir.

O caboclo chamou pelo forasteiro, sabendo que este estava pelas redondezas fazendo a segurança. Ao notar a presença do agricultor, o nordestino sacou uma pistola e começou a atirar. O agricultor prontamente correu e escondeu-se atrás de uma árvore que havia no local. De repente, os tiros cessaram e o nordestino se pôs a carregar a pistola. Foi o momento em que o caboclo percebeu ser sua oportunidade de vingança. “Agora é a minha vez, hein! ”, bradou, ao mesmo tempo em que apontava a arma calibre 12 para o rapaz. Apenas um tiro foi o suficiente para tirar a vida do pobre homem, que ficou estirado no chão enquanto seu algoz fugia.

Momentos depois, o local se tornou o centro das atenções, com policiais e curiosos marcando presença. Mané da Banca estava lá e conta que ouviu o relato descrito nesta reportagem direto da boca dos policiais. “Eles vieram me perguntar se eu conhecia o rapaz, mas eu só tinha ouvido falar. Depois, me contaram a história toda”, relembra.

Jan Eltink, um dos guias no Museu de Holambra e conhecido por saber de tudo que já ocorreu na Cidade das Flores, relembra que conheceu o rapaz assassinado. Em sua memória, ao contrário da lembrança de Mané da Banca, ele era um baixinho. “Não me recordo do nome dele, mas sei que era esquentado. Esse é o tipo de coisa que acaba acontecendo com quem procura briga, não tem consciência”, explica. “O fato é que se sabe muito pouco sobre a história deste homem”.

Quem passa hoje pela praça pode observar uma cruz no local onde o rapaz foi assassinado, assim como uma foto e outras imagens. Segundo moradores, uma grande imagem da Nossa Senhora de Aparecida também ficava no espaço, mas foi furtada.

Tenha sido nos anos 1980 ou 1990, seja o jovem forasteiro alto ou baixo, o fato é que a história, que carrega uma boa dose de lenda urbana e tem diversas versões, permanece na memória de quem por aqui vivia e é praticamente desconhecida por muitos que moram hoje em Holambra. Quem diria que a Praça dos Pioneiros já foi palco de um duelo? O fato é que não faltam causos que tenham se passado na Cidade das Flores, até mesmo antes do município ser conhecido assim. Flores, personagens e histórias. Eis a receita de Holambra.

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