22/01/2017

Voluntária apela ao poder público para combater abandono de animais em Holambra

Janaína Frade propõe alternativas que contorne este problema que, segundo ela, é alto no município

Leonardo Saimon/ Michael Harteman

Depois de passar por momentos difíceis, Janaína Frade viu no altruísmo a fórmula para enfrentar as tempestades. A excentricidade da holambrense é um de seus traços. Ora ela ri, ora se emociona, mas leva bem a sério quando o assunto é violência contra animais. E por causa disso, sua militância se tornou conhecida em Holambra. Já procurou vereadores, e bateu na porta de Prefeitura, mas segundo ela, tudo em vão. O jeito foi abraçar a causa por conta própria.

Como uma andorinha só não faz verão e Janaína sabe disso, ela encontrou apoio em outros voluntários que assim como ela lutam pela mesma causa. Paulo Alves, Karla Rigobelli, Vanessa Fogaça e Danielly Rocha formam o time que já realizaram diversas ações de sucesso no município entre elas o bingo que reuniu cerca de mil pessoas em junho do ano passado e, recentemente, o jantar beneficente que reuniu cerca de 250 pessoas.

Contudo, Janaína também cobra ações do poder público. A voluntária lamenta a falta de iniciativa dos órgãos municipais para diminuir este problema. Em entrevista ao Portal Holambrense, ela sugere algumas alternativas que poderiam amenizar o abandono dos animais na cidade.

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Desde quando você passou a ser voluntária? Eu sou divorciada há cinco anos. E depois disso, tive uma depressão muito profunda. Comecei a fazer tratamento psicológico com psiquiatra e tudo mais. Mas eu não queria tomar e nem me tornar dependente de remédio. Foi quando meu psicólogo me apresentou uma Organização Não-governamental (ONG) de Santo Antônio de Posse, onde eles cuidavam de animais abandonados e necessitados de ajuda. Depois disso, fui morar em uma chácara e toda vez que a ONG tinha um animal abandonado eles me ligavam e eu ia até lá buscar esses animais. Foi quando tudo começou. Voltei a morar em Holambra e quis dar continuidade a este tipo de projeto. Muitas pessoas acham que eu estou ajudando, mas na verdade esta é uma forma de eu ser ajudada.

Você sempre gostou de animais? Sim, sim. Sempre!


“As críticas não me derrubam mais, já me derrubaram, hoje não”


Você também tem amigos que te ajudam nos projetos. Como surgiu essa parceria? Na páscoa do ano passado, a gente teve muitos casos de animais abandonados, com problemas ou que sofreram algum tipo de trauma como atropelamento, por exemplo. Eu tenho gato na minha casa que foi arremessado. Só que eu não tinha fundos para manter esses animais. Eu entrei em contato com a Nell e ela me falou de uma guarda municipal que gostava muito de animais e pediu para que eu conversasse com ela. Eu fui atrás e conversei com a Karla Rigobelli. Fizemos uma rifa, fui atrás de uma amiga que fazia chocolate que combinou de cobrar somente o valor gasto com os ingredientes. A Karla e eu fizemos umas três rifas. Uma noite, a gente saiu para tomar um suco e surgiu daquele dia um grupo de voluntários que faria esse trabalho.

Você é de Holambra? Sim, sim. Nascida e criada em Holambra. Mas quando me tornei voluntária morava em outra cidade. Há dois anos, retornei ao município.

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Quais foram as ações que você ajudou a realizar na cidade? Eu ajudei a fazer o bingo, que foi um sucesso. Nosso grupo arrecadou R$ 21 mil a atingimos a meta que era de ter mil pessoas no evento. Eu me lembro que na primeira reunião que tivemos na Câmara Municipal e uma pessoa disse para nós irmos com calma que se nós vendêssemos – não lembro ao certo o valor, mas era muito baixo – tipo umas 200 cartelas, nós já estaríamos no lucro. Eu olhei para a Dani e pensei ‘eu vou fazer ele engolir as 600 cartelas que eu vou vender’. Isso eu acho que me motivou. Ele não falou por mal, mas doeu. E graças a Deus vendemos tudo. Depois ajudei a realizar Caminhada Animal com os jovens da Interact, que também foi um sucesso porque eles imaginavam que não ia dar ninguém além dos familiares deles. E há algumas semanas, a gente realizou o Jantar Beneficente que superou as nossas expectativas.

Como que surgiu a ideia do jantar beneficente? Inicialmente, o Alves e eu queríamos fazer um bingo porque o dinheiro que tínhamos arrecadado no Bingo Beneficente, em junho do ano passado, acabaria em dezembro. Só que as meninas estavam desanimadas devido algumas pessoas questionarem a utilização desse dinheiro apesar de nós prestarmos contas de tudo que nós gastamos. Mas em novembro, quando a gente decidiu que iria fazer o jantar, nós entramos em contato com a Prefeitura, mas até hoje a Prefeitura nunca nos respondeu. Eu entrei em contato com o Adaelso, do Clube Fazenda Ribeirão, falei do projeto do jantar a ele e ele abraçou a causa.  Depois daí, fizemos as vendas e começamos a fazer as coisas acontecerem. O jantar também superou nossas expectativas porque nós estávamos com medo e infelizmente a gente não teve ajuda.  A gente ainda não conseguiu fazer o fechamento porque como o Alves é guarda municipal, a Karla também, eu trabalho e a nossa rotina tem sido bem corrida, não deu ainda para gente fechar totalmente. Mas nós calculamos que foram vendidos mais de 247 convites, mas este número era a quantidade de pessoas que estavam lá.


“Esta é uma forma de eu ser ajudada”


Atualmente, quantos animais você cuida direta e indiretamente? Com os da Nell, uns 16, entre cachorros e gatos.

Como o holambrense corresponde a estes projetos? Eles sempre correspondem bem. Embora eu já tenha ouvido muitas críticas. Só que essas críticas não me derrubam mais, já me derrubaram, hoje não. Mas os moradores sempre comparecem aos eventos.

Em Holambra, há diversas ONGs contra abandono de animais. Essa quantidade de entidades em um município pequeno ajuda ou atrapalha? Atrapalha! Porque muitos projetos não são sérios e acabam queimando nosso trabalho. Por isso, que o nosso grupo acaba prestando conta de tudo para não restar dúvidas.

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Não existem números exatos que apontem a quantidade de animais abandonados em Holambra. Mas você acredita que esse índice é alto? Sim, sim. É alto! E como acontece das pessoas me ligarem relatando abandono de animais e pedindo para que eu desse um jeito. Eu não tenho como dar um jeito porque não tem para onde eu levar.

Por que você acha que é alto esse tipo de abandono? Eu ainda não cheguei a esta reposta. Mas eu queria um parecer do poder público sobre o assunto. Você já pensou, se numa cidade tão bonita e tão bela como Holambra, estes animais ficassem nas ruas? Todos esses animais que eu cuido, que a Nell cuida ficassem pelas vias desta cidade turística? Ia ficar feio, não é.


“Muitos projetos não são sérios e acabam queimando nosso trabalho”


O que você acha que poderia ser feito em Holambra para reverter essa situação? A princípio, castração desses animais. Foi feito a castração de 120 animais, mas não foram feitos em animais de rua. Acredito que um centro de Zoonoses no município também seria uma alternativa. Embora, nós façamos algumas parcerias com entidades de outras cidades normalmente a gente não pode encaminhar os animais daqui para outro lugar.

Vocês já pediram ajuda à Prefeitura? Sim, já fomos atrás. Mas eles dizem que já passaram o procedimento para a Nell. Que ela precisa ter um CNPJ para formalizar uma ONG. Eu desisti, sabe? A Prefeitura eu não procuro mais para nada. Muito pelo contrário, as vezes vem deboche da parte de alguns funcionários deles. A Prefeitura conta com dois veterinários, mas não prestam nenhum tipo de ajuda. Se eu e a Nell não formos fazer alguma coisa, nada se resolve. Precisa a gente que é voluntário ir lá e fazer?

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