07/11/2017

Vereadores encaminham denúncia ao Ministério Público contra Fernando Fiori

Decisão dos legisladores ocorreu após denúncia de pagamentos ilegais feitos a primeira-dama ser rejeitada duas vezes

Rui do Amaral

Uma pauta delicada, discutida e votada em duas Sessões Ordinárias da Câmara Legislativa, na noite do dia 21 de agosto e, novamente, no dia 4 de setembro, pode tomar proporções maiores nos próximos dias. Duas representações semelhantes, elaboradas pelo morador Giovani do Rosario Maia, de 19 anos, e por Elaine Aparecida Mariano, apontaram improbidade administrativa na gestão do prefeito Fernando Fiori de Godoy (PTB).

Segundo as denúncias, a primeira-dama Diva de Souza Godoy, que ocupa o cargo de presidente do Fundo Social de Solidariedade, estaria recebendo salários relacionados à função de professora titular de Educação Básica II, cargo este que, ainda de acordo com a representação, não mais é exercido por Diva desde 2013, ano em que o marido assumiu a chefia do Executivo. Ambas as denúncias foram rejeitadas pelos vereadores.

A primeira representação, apresentada na 21ª Sessão, contém, em anexo, documentos que visam fundamentar a denúncia de pagamentos ilícitos à primeira-dama. Holerites com informações de pagamentos relacionados à função de professora do ensino público dos meses de agosto e outubro de 2016 e maio de 2017, cadastro de trabalhadores (onde não consta o nome de Diva de Souza Godoy) e uma cópia da portaria nº 107/2013, que contém a designação da primeira-dama ao cargo no Departamento de Promoção Social, estão presentes na documentação.

Já no segundo documento, apresentado na 22ª Sessão, um novo Holerite está anexado, onde consta pagamento líquido de R$ 3.642,98 referente ao mês de fevereiro deste ano.

O Portal da Transparência da Prefeitura de Holambra pode ser acessado por quaisquer cidadãos.

Ambas as representações foram rejeitadas após a leitura do Parecer Jurídico, que nos dois casos alegaram que “a representação carece de pressupostos de admissibilidade, pois imputa fatos que não podem ser julgados pela Câmara de Vereadores, e sim pelo Poder Judiciário”.

Os pareceres foram elaborados pelo advogado Roberto Laffythy Lino, diretor-jurídico da Câmara Municipal de Holambra, e foram lidos pelos vereadores, esclarecendo que faltam documentos para abrir um processo de investigação, afirmando, na época, que este deveria ser protocolado no Ministério Público e, se o mesmo considerar coerente, o próprio MP tratará de abrir uma comissão investigativa.

Também segundo os pareceres, os documentos, mesmo se votados a favor de seus recebimentos, não implicariam na abertura de uma investigação, e sim em seu recebimento pela Câmara. Em seguida, nas duas sessões, a representação seguiu para votação, que obteve o mesmo resultado em ambas as ocasiões.

Um dos holerites utilizados em uma das representações, referente à agosto de 2016

Outro holerite utilizado no documento, referente ao mês de setembro deste ano

Por seis votos a três, o documento foi arquivado pelos legisladores. Edison da Farmácia (PV), Jacinta (PSDB), Jesus da Farmácia (PSD), Lucas Simioni (PP), Sitta da Fanfarra (PSDB) e Naiara (PMDB) somaram os seis votos contra o recebimento das representações, enquanto Cido Urso (PTB), Pernambuco (PSD) e Serjão (SD) votaram a favor dos documentos (as votações foram exatamente iguais nas duas sessões onde houve a leitura das representações).

O vereador Mauro Sérgio de Oliveira, o Serjão (SD), comentou, na época, sobre a decisão da Câmara em arquivar o caso. “Eu vejo a Câmara muito submissa ao Executivo aqui em Holambra. Você consegue ver funcionários do Legislativo com conversas com funcionários da Prefeitura e eu acho que os vereadores não podem trabalhar em função do Executivo”, explica o legislador.

“Para mim é um absurdo a representação ter sido arquivada. Nós temos provas concretas e precisamos acatar essa denúncia, houve irresponsabilidade dos vereadores, começando pela presidente, até o último dos que votaram contra. Para mim, eles amarelaram justamente por que a denúncia está correta”, completa.

Foi então que os três legisladores que votaram a favor do recebimento das representações decidiram tomar outro caminho, já descrito nos pareceres jurídicos anteriores: o Ministério Público.

Serjão (SD) foi um dos vereadores a votar a favor das representações

Ministério Público

Agora, a denúncia, duas vezes rejeitada pela Câmara, foi apresentada pelos vereadores Cido Urso (PTB), Serjão (SD) e Pernambuco (PSD) no Ministério Público de Artur Nogueira, que tratará de analisar o pedido e avaliar se cabe ou não investigação. De acordo com Pernambuco (PSD), o caso se trata de abuso de poder. “Isso é abuso de dinheiro público. Nossa Câmara teve medo de investigar, tivemos de recorrer ao Ministério Público. Eles vão analisar e investigar o que for necessário, resta a gente aguardar”, afirmou o legislador ao Portal Holambrense.

Vale lembrar que a Entrância Intermediária da 7ª Circunscrição Judiciária do Ministério Público de Artur Nogueira (SP) atende, além do município nogueirense, as cidades de Holambra e Engenheiro Coelho (SP), sob responsabilidade do promotor de justiça, Pedro dos Reis Campos.

Protesto

Durante a 25ª sessão ordinária da Câmara de Holambra, um ato chamou a atenção, também relacionado às votações das representações que acusam a primeira-dama. Na ocasião, o vereador Pernambuco (PSD) expôs um cartaz onde criticava a postura “passiva” dos colegas de plenário diante das acusações.

O vereador deu a entender que os colegas se omitem na hora de tomar alguma decisão que possa prejudicar a gestão do prefeito Fernando Fiori (PTB). Segue o texto na íntegra: “Em tribuna, eu me calo contra alguns vereadores que se calam a favor do prefeito que abusa do poder e mau uso do dinheiro público”.

Prefeitura

Por meio da Assessoria de Comunicação, a Prefeitura se manifestou por meio de uma nota oficial, onde não chegou a entrar em detalhes sobre o ato de protesto de Eduardo Silva (PSD). “Acerca desse tema, a Prefeitura esclarece apenas que a Câmara Municipal é um espaço democrático em que toda e qualquer ideia, opinião ou posicionamento pode ser manifestado livremente. Ressalta, ainda, que segue trabalhando regularmente para assegurar a execução de serviços importantes e necessários à população nas mais diversas áreas, respeitando sempre todos os princípios da administração pública”, declarou a nota oficial na ocasião.

De acordo com a Constituição Brasileira, caracteriza-se como improbidade administrativa, dentre outros aspectos, o “enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade em determinadas entidades”.

……………………………………..

Tem uma sugestão de reportagem? Clique aqui e envie para o Portal Holambrense.


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.