21/05/2017

Vereador mais votado da história de Holambra abandona política e funda ONG no município

Astério Pinto Filho chegou a ser presidente da Casa Legislativa

Leonardo Saimon

Após uma tragédia na família, Astério Pinto Filho resolveu se dedicar ao voluntariado e, por isso, passou grande parte de sua vida em prol das pessoas que se encontram em situação vulnerável. Ao chegar em Holambra há 15 anos, seu tato pelo trabalho social o acompanhou e sua fama logo correu pela cidade. Em 2004, se lançou como candidato a vereador e após quatro anos, tentou reeleição contra sua vontade. Na ocasião, contudo, conseguiu ter um número expressivo de votos nunca visto antes na história de Holambra e da região.

Em entrevista ao Portal Holambrense, Astério relembra trajetória como vereador e diz o porquê de ter abandonado a política. Há um ano e cinco meses, o assistente social fundou a Organização Não Governamental (ONG) ‘Mão Amiga e Holambra’ que conta, atualmente, com 12 moradores. A ajuda para manter a casa vem de vários lugares e Astério se vê abençoado por isso. O ex-parlamentar não nega as dificuldades em manter o local com ajuda dos próprios moradores e enaltece que sua gratidão excede os problemas.

Confira a entrevista na íntegra: 

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Como você veio parar em Holambra? Eu fiquei três anos e meio sendo voluntário em casa de recuperação em várias cidades da região até eu me casar. Fui transferido para Cosmópolis (SP), em uma dessas casas de recuperação, onde eu fui aluno e ali eu conheci a minha esposa, que na época, dava estudo. Ela que me trouxe para Holambra.

O que você faz hoje? Hoje, eu sou assistente social concursado pela Prefeitura. Também sou assistente social voluntário de uma instituição chamada Lar Feliz em Jaguariúna (SP). Eu estou há 15 anos nessa entidade. Quando vim a Holambra, esse foi meu primeiro trabalho. Nessa instituição eu presto serviço de plantão aos finais de semana. Eu fico responsável pela instituição a cada quinze dias. E, além disso, eu tenho um espaço que é uma hospedaria, uma pousada aqui em Holambra.

Você se engajou politicamente. Como isso aconteceu? Na verdade, eu nunca tive feeling para política. Eu achava que eu nunca ia me envolver. Um ano antes das eleições, houve uma cogitação para nomes de possíveis candidatos em Holambra. Isso foi em 2004. Duas pessoas chegaram comigo e disseram que eu deveria sair como candidato. Foi o seu Geraldo o dono de uma pizzaria aqui da cidade e a Dra. Nádia, uma pediatra que também trabalhava no Lar Feliz. Ela que colocou isso na minha cabeça e na cabeça da minha esposa de que eu deveria sair. Na primeira votação tive um número de votos expressivos, por sete votos, eu não fui o mais votado e aí eu trabalhei os quatro anos. Mas, na minha reeleição, eu não queria porque eu não me identifiquei muito dentro da política. Você trabalhar de forma voluntária, independente da política, é muito mais gratificante do que trabalhar na política. Apesar que de que ela abre muitas portas. Acabei saindo novamente com o apoio de mais pessoas. Sem gastar quase nada, sem compromisso nenhum. Porque meu trabalho foi em quatro anos, não ia ser em época de eleição que eu iria começar a fazer. E eu tive a, felicidade na época, de ter mais votos do que dois candidatos a prefeito. Foi um período muito conturbado, que foi o período da Margareti. Sofri muito na política, minha família sofreu, meu filho sofreu. Foi quando tomei a decisão de nunca mais trabalhar na política. Naquela eleição, também, eu fui o candidato mais votado da história e a nível de porcentagem da Região de Campinas. Eu tive a maior porcentagem percentual, baseado no número de população de cada cidade. Eu tive 9.9 de percentual de vereança de todas as cidades da região. Tudo por causa do trabalho que eu desempenhei.


“Trabalhar de forma voluntária, independente da política, é muito mais gratificante”


Que tipo de trabalho você realizou na cidade? Eu abracei muita a causa social. Todos sabiam desse meu trabalho social. Eu realizava um projeto social “Acolher”. Eu levava balão pula-pula, cama elástica, eu cortava o cabelo, levava mais cabelereiro para fazer escova, levava as meninas para fazer unha. As pessoas que vinham davam um quilo de alimento e aquele alimento a gente levava para a família que precisasse. A Câmara Jovem também foi um projeto que eu idealizei. Meu filho tinha oito anos que o projeto foi implantado e no ano passado ele teve a oportunidade de participar da Câmara Jovem. Além disso, fui premiado como o vereador mais votado da história e fui premiado duas vezes como vereador mais ativo em Holambra.

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Você não gostava de política, mas tentou reeleição e ganhou. Por que? Porque eu congrego em uma igreja e essa igreja nunca teve um vereador, só lançava. Quando eu fui eleito, eu trabalhei para todas as denominações, desde as evangélicas até a espírita. Eu era um vereador de referência para as denominações quando elas queriam reivindicar, solicitar algum coisa. Na eleição, após a minha primeira candidatura, teve uma prévia, na igreja em que congrego, em que outros quatro também queriam ser candidatos. E eu liberei minha vaga porque eu não queria. A igreja convocou uma reunião e todas as pessoas que queriam ser candidatos abriram mão da candidatura para me apoiar.

Você disse que foi bastante ajudado. De que forma as pessoas prestavam ajuda a você? Quando eu cheguei aqui na cidade, eu casei e minha esposa logo ficou grávida. Eu vim de uma casa de recuperação como voluntário onde fiquei por três anos, mesmo tendo uma formação em Educação Física pela PUC – e mesmo depois de ter trabalhado como segurança em Paulínia (SP). Eu tinha essas duas formações quando cheguei na cidade. Só que como a cidade era pequena, ela tinha pouco espaço de trabalho. E a primeira oportunidade que tive foi de trabalhar em um restaurante aqui em Holambra. Era época de Expoflora, eles estavam contratando. Eu peguei e abracei essa oportunidade grande que me deram, mesmo eles sabendo que eu vinha de uma casa de recuperação. Depois, eu fiz uma prova para trabalhar em uma outra empresa e eles também me deram uma oportunidade. Também fiz concurso para Guarda Municipal e fiquei em segundo lugar. Só que eu atuei por 40 dias porque depois fui chamado para trabalhar como funcionário fixo do Lar Feliz. Lá, eu tive ajudantes que pagavam para eu auxiliar na instituição. O salário era até bem menor que o de Guarda Municipal. Eram três empresas que mandavam todo o mês um valor na conta do Lar Feliz para me repassar.


“Fui premiado como o vereador mais votado da história, e fui premiado duas vezes como vereador mais ativo em Holambra”


Por que você decidiu montar uma ONG em Holambra? Porque eu sempre fui ajudado. Então, desde quando eu cheguei em Holambra presto ajuda. Eu sempre fiz o ato social de estender a mão, assim como estenderam na minha vida quando eu cheguei em Holambra. Eu sempre ajudei levando pessoas ao centro de reabilitação, de pegar pessoas da rua. Então, eu sempre fiz esse ato social, independente de política. Uma das coisas que me afastou da política é de fazer as coisas em troca de voto. Eu costumava levar pessoas para minha casa para eu poder ajudar. Até que surgiu a oportunidade de alugar um imóvel e desse imóvel, eu traria as pessoas que estão necessitando, sem condições de moradia, pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade.

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Como surgiu a Mão Amiga? Eu levava as pessoas para a minha pousada. Mas lá é um comércio, é o meu trabalho. Foi quando minha esposa e eu chegamos nessa conclusão de que eu não podia estar fazendo isso sempre. Então surgiu essa casa, que é uma casa grande e espaçosa. Porque não adianta eu pegar um espaço pequenininho e fazer um acúmulo de pessoas. Não era essa a intenção Depois disso, eu convidei o atual coordenador da casa, o Denner, para tocar na igreja ai eu expressei pra ele a minha vontade de montar essa casa.  E ele falou que aceitava vir, então eu trouxe o Denner que morou junto com uma outra pessoa de Holambra morando que estava em um dos meus chalés, dentro de um trailer. O que eu fiz quando eu era solteiro, ele está fazendo aqui hoje.

Qual a proposta da ONG? É uma ONG que estende a mão, por um momento. Esse é um lugar de passagem para tirar o morador de rua e devolver pra casa dele. A intenção é de proporcionar o banho, o almoço, a janta e depois essa pessoa segue caminho. Só que alguns não tem esse caminho, estão sem direção. Essa pessoas acabam ficando aqui.  Nós incluímos novamente uma pessoa que estava perdida, desacreditada, que estava sem vínculo nenhum para que ela tenha uma vida digna. Como sou assistente social acabo por ter esse contato porque trabalho com população de rua.


“Esse é um lugar de passagem para tirar o morador de rua e devolver pra casa dele”


Você acredita que pessoas em situação de vulnerabilidade são um problema em Holambra? É, por ser uma cidade bonita, turística e as pessoas a veem assim. Porém, muitos passam por aqui, mas a cidade não tem morador de rua. Cidadãos holambrenses que moram na rua. O que nós temos são pessoas de fora que passam pela cidade, por isso que há uma necessidade de ter uma casa de passagem.

Hoje, você abriu mão da política, mas continuou com o trabalho social. O que te move a ser um voluntário? Eu dei aula no bairro do Matão, em Sumaré, lá pelos anos de 1990. Naquela época, eu já fazia um trabalho contra as drogas. Naquela época, eu tenho fotos disso. E eu via um problema muito sério com as drogas lá naquele bairro. E o que mais me afetou a ponto de me levar a ter esse senso na minha vida foi a morte de um irmão assassinado. Ele deixou dois filhos e, infelizmente, por causa das drogas. Após conhecer casa de recuperação, eu resolvi largar tudo para ser voluntário.

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