02/07/2017

Psicóloga fala de ação que desenvolve em Holambra voltada ao aprendizado infantil

Andrea Cristiane Prequero é voluntária do movimento internacional Aliança Pela Infância no município

Leonardo Saimon

Andrea Cristiane Prequero integra um time de seis voluntárias que, juntas, formam o Núcleo Aliança Pela Infância em Holambra. O movimento de caráter mundial chegou ao município há quase uma década para discutir o direito da criança e do adolescente em viver sua infância. Na última semana de maio de cada ano, o Núcleo desenvolve a Semana do Brincar e o Dia Mundial do Brincar como forma de garantir tal vivência.

No início de junho, a Câmara aprovou por unanimidade o Projeto de Lei que institui a Semana Municipal do Brincar, institucionalizando o projeto que antes era opcional nas escolas. A ação vai ao encontro da atuação da Aliança Pela Infância, que desde 2009 promove a Semana Mundial do Brincar. Nesse período são realizadas atividades gratuitas para as crianças e palestras e debates sobre a temática do brincar para os adultos.

A iniciativa tem como objetivo sensibilizar e conscientizar a população holambrense sobre a importância das crianças brincarem mais para que, através de práticas lúdicas, desenvolvam competências cognitivas e emocionais.

Leia a entrevista na íntegra: 

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Como se deu seu contato com o voluntariado? Na verdade, eu sou voluntária há muitos anos. Desde que eu era adolescente. Minha mãe era envolvida com essas questões de campanha de alimentos, cesta de natal, para levar em alguma instituição. Nessa época, a gente já fazia isso. Quando eu fiz faculdade de psicologia, eu sempre fui voluntária em instituições. No Núcleo da Aliança, eu estou há uns três, quatro anos e conheci esse projeto através do Terra Viva. Meu trabalho é na área de Responsabilidade Social, que a área em sim, tem como objetivo também criar espaço de voluntariado.

Como é desempenhar um trabalho social em Holambra? Eu acho que em Holambra isso é muito mais forte porque faz parte da cultura holandesa. A questão social na cultura holandesa se dá de maneira mais intensa do que a nossa. Eu vejo várias iniciativas, as pessoas são bastante engajadas. Eu percebo que Holambra tem muito mais essa força, essa cultura de voluntariado.

O que á o núcleo Aliança Pela Infância? A Aliança é um movimento mundial em defesa da criança no sentido dos direitos da possibilidade da criança se desenvolver, principalmente, através do brincar. Não é, apenas, esse desenvolvimento formal da escola. A gente tem trabalhado com esse conceito do A, B, C e D da infância que é esse direito de Aprender, de Brincar, de Comer e Dormir. Então, a gente desenvolve todo esse trabalho de como a infância tem sido conduzida pelos adultos.


“A questão social na cultura holandesa se dá de maneira mais intensa do que a nossa”


A falta desse direito ainda é um problema para Holambra? Eu vejo que é um problema geral. A gente tem essa obrigatoriedade na educação formal dentro de sala de aula e da alfabetização, que está ficando cada vez mais engessada; e os espaços do brincar onde a criança se desenvolve de uma maneira livre vai ficando cada vez mais restrito. Na minha visão, quanto mais a gente vai cercando a criança, quanto mais a gente vai tolhendo essa liberdade de pensar, isso se torna um problema. E a família também se torna um agravante porque os pais trabalham muito e a criança fica na escola o dia inteiro. Na prática, a gente percebe que o espaço do brincar vem diminuindo. É como se a única forma da criança aprender fosse só na escola no espaço formal, mas isso não é verdade. A Aliança Pela Infância quer garantir o direito da criança ser criança, que ela explore o mundo da forma como ela vê o mundo e não da forma como adulto acha que a criança vai aprender. A questão da tecnologia é um problema? É um problema. O mundo das crianças tem ficado cada vez menor.

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E por que você acha que esse isso vem acontecendo? Eu acredito que isso tenha a ver com o desenvolvimento tecnológico. Os municípios também tem poucos espaços públicos para que essa criança possa brincar. E aí, a Aliança tem instituído o Dia do Brincar, que é para que essa criança tenha esse espaço livre de tecnologia. Nesse dia, a gente resgata essas brincadeiras mais lúdica, onde o corpo é muito presente. Então, acredito que esse desenvolvimento tecnológico tem acarretado alguns problemas. Temos visto muitas crianças e adolescentes com depressão, muitas crianças e adolescentes tendo contato com coisas extremamente negativas e autodestrutivas.

Então, a tecnologia interfere no aprendizado da criança? Sim! De certa forma, sim. Se a gente pensar em uma tecnologia onde a criança ou o adolescente fique cada vez mais solitários e individuais nesse aprendizado, sem dúvida. Porque o ser humano se desenvolve na troca. Numa troca que não se desenvolve só no mental, mas também no emocional, do fazer junto. A tecnologia é muito importante, é muito necessária, mas ela não pode ser prioridade.


“A Aliança Pela Infância quer garantir o direito da criança ser criança”


Como que o Aliança Pela Infância chegou em Holambra? Eu não vou saber te dizer, exatamente, desde quando. Mas esse Núcleo se formou através da Rosa Schoenmaker. A Rosa foi uma das pessoas que fundou o núcleo de Holambra com outras voluntárias que fazem parte do Núcleo ainda. O projeto se formou a partir do Dia do Brincar, organizando esse dia para a comunidade com o resgate dessas brincadeiras mais antigas.

O que vocês desenvolvem no Núcleo? A gente organiza a Semana do Brincar, que agora foi aprovada pela Câmara, então, isso é uma vitória do núcleo, um ganho para as crianças e para os educadores também. O que é a Semana do Brinca, é uma parceria que a gente tem com o Departamento de Educação de Holambra a fim de garantir que esse espaço das crianças sejam garantidos. Então, todos os dias as escolas dedicam um momento para que a criança possa brincar, seja um brincar dirigido, mas de preferência que surja das crianças mesmo. O Núcleo acompanha essas escolas, fotografa, oferece aquilo que nós conhecemos sobre o brincar. Oferecemos também a capacitação dos educadores. Todo ano, a gente faz essa capacitação para educadores da rede pública e da particular. A gente também faz o Dia do Brincar, que é uma manhã de brincadeiras e aí onde tem maior número de voluntários. A pastoral leva os voluntários, os jovens do Interact também se voluntariam, os escoteiros. É uma grande turma que faz esse dia acontecer. Este também é o intuito da Aliança aproximar a familiar e o brincar dessa criança.

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Quais são os problemas da criança crescer em um ambiente sem o brincar? Não sei te dizer, se a gente pode denominar de ‘problemas’. Mas o que a gente tem visto é esta perda de espontaneidade da criança, de ela não conseguir expressar aquilo que ela é. O adulto não precisa ensinar a criança a brincar, se você deixar um grupo de crianças ali sem nenhuma orientação, daqui a pouco, elas estão brincando.  A criatividade faz parte da natureza da criança. Quando a gente não permite isso, ela perde essa espontaneidade infantil. Se eu te falar um problema, para mim, seria a falta de criatividade. Você vai comprometendo, o pensar, o sentir e o agir.


“A criatividade faz parte da natureza da criança. Quando a gente não permite isso, ela perde essa espontaneidade”


Como que os pais e educadores de Holambra têm correspondido ao projeto de vocês? A gente tem essa parceria com o departamento de Educação e esse engajamento. O departamento divulga essa capacitação, convida os professores. Temos o apoio da Prefeitura em ceder o Ginásio de Esportes e de toda articulação para ter o dia. Então, o que a gente percebe, apesar de todos esses anos acontecendo, ainda precisa de uma força bem grande para gente conseguir realizar. Eu acho que ainda está longe de ser o que poderia ser. Em termos de participação, de quantidade de criança, de famílias envolvidas. A impressão que a gente tem é que está todo mundo ocupado que elas não conseguem dedicar um tempo para isso. A gente tem esse apoio, mas ainda tímido para o que ainda pode ser.

A Câmara de Holambra aprovou um projeto que institui a Semana Municipal do Brincar. Como o Núcleo avalia essa decisão? O Núcleo solicitou isso para a Câmara. Para quê que a gente precisa ter isso como uma obrigatoriedade? É muito mais para garantir que todas as crianças tenham esse momento. Hoje, as escolas escolhem, fazem se tiver disponibilidade interna, professor faz se quiser. Este ‘obrigar’ vai fazer com que todos tenham essa experiência e consiga ver o resultado disso, você garante essa igualdade. Todas as crianças da rede vão ter essa semana garantida. Isso também mobiliza os educadores pra que eles percebam a importância desse momento. O adulto tem que ser o guardião dessa infância.


“O adulto tem que ser o guardião dessa infância”


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