25/12/2016

Padre de Holambra reforça o papel da fé em reflexão sobre o Natal

Pároco garante que é possível ter fé na religiosidade da celebração apesar do saber científico

Texto: Leonardo Saimon / Fotos: Diego Faria

Cansada da viagem, Maria sentia as dores que anunciavam o nascimento do Salvador do mundo. Aquela noite, parecia como as outras em Belém da Judeia, exceto pelo nascimento do “Deus que se fez carne” e habitou no meio do seu povo, segundo narra a Bíblia dos cristãos. O Natal – data comemorativa a esse acontecimento -, como se vê hoje, no entanto, passou a ser comemorado a partir do terceiro século da era cristã. Nessa época, passou-se a ser celebradas as primeiras festividades sobre o nascimento de Jesus. Mesmo não se sabendo, ao certo, a data exata da nascença do Deus-menino, o ocorrido marcou o mundo.

Em entrevista ao Portal Holambrense, o padre Paulo Henrique Dias relembra a origem bíblica do Natal e diz que o momento é de altruísmo. “Se Deus saiu da eternidade para ir ao encontro do ser humano porque nós não podemos sair do nosso comodismo para ajudar os necessitados?”, indaga o pároco. Ele aconselha, ainda, como é possível manter a fé religiosa frente a onda de ceticismo existente atualmente na sociedade, e deixa um apelo aos holambrenses.

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Qual o significado do Natal para a comunidade cristã? O significado do Natal tanto para a comunidade primitiva quanto para comunidade atual é o mesmo. A forma de entender talvez tenha mudado porque o nosso tempo mudou a forma de interpretação das coisas. Então, nós temos um Natal, hoje, no meio de muitas vozes. A voz do comércio, a voz do consumo, a voz do prazer, a voz de buscar um outro sentido diferente de todos. Mas para resumir, o Cristo tem uma proposta coerente, verdadeira e que dá solidez na vida das pessoas e isso se assemelha à comunidade primitiva. No âmbito político, que segurança nós temos? Aquele que era governador, presidente, senador pode mudar do dia para noite porque pode estar envolvido com alguma coisa, típico também do que acontecia com o Império Romano. As pessoas, na época, conviviam com um governo corrupto que logo caiu. Hoje, vemos o cristianismo inserido dentro de uma realidade multiforme. E uma realidade onde as pessoas que querem viver a fé tem a liberdade e acreditam por amor e por carinho.

Qual papel Jesus desempenhou nesta terra para que seu nascimento fosse lembrado por mais de dois mil anos? O primeiro impacto que Jesus causou foi justamente sair da eternidade para ir ao encontro do outro. Coisa que o mundo antigo não tinha. Se convencionava, na época, um deus impessoal, que não ligava para os problemas do mundo. E Jesus fez o inverso, ele saiu de onde estava e pensou “o que vocês vivem é importante para mim. Eu estou ao lado de vocês em qualquer momento que vocês precisarem”. Ele mudou a história da humanidade. Ele reconfigurou a forma e o sentido do amor.


“Se a gente tirar a fé do Natal, ele se torna uma festa como qualquer outra”


O Natal faz algum sentido para uma pessoa cética? O Natal para uma pessoa cética, eu acredito que faça algum sentido sim, agora para uma pessoa ateia talvez não tenha sentido algum. Porque uma pessoa cética quer explicação para tudo, aquela explicação racional, tudo para ela é difícil de acreditar. O ateu simplesmente não acredita, não quer acreditar, tem outra perspectiva de vida. Para uma pessoa cristã pode até fazer sentido, agora para uma pessoa cética, ela pode ficar apenas com o que é alegórico do Natal. O ateu pode estar junto das pessoas que ele gosta, colocar enfeites como árvore de Natal, papai Noel e um presépio, porém para ele não haverá um significado real de fé.

Existe diferenças na forma de ver o Natal entre os católicos e protestantes?  Se nós entendermos o Natal como o nascimento de Jesus, eu acho que isso é algo comum porque Natal significa nascimento. Agora, a forma de festejar ou não festejar é o que muda. Tem igrejas que acreditam não ser necessário festejar, e há outras como a nossa que festejam não só o nascimento de Jesus como todos os eventos ligados a ele como batismo, a chegada dos reis magos, o dia que a virgem Maria recebeu a visita do anjo, o dia que ela ascendeu aos céus. Todas essas datas são comemoradas pela Igreja Católica e com o nascimento não seria diferente.

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O Natal era uma festividade que existia no Império Romano e foi incorporado no rito católico. Como isso se deu? A própria organização da identidade de igreja começou a ganhar uma definição até o quarto século. E, desde então, a festividade do Natal também foi fixada para que todos festejassem juntos no mesmo dia. Essa data não é exatamente a data que Jesus nasceu, mas é uma data para comemorar um dos acontecimentos da vida de Jesus.

Qual o papel que os pais desempenham na propagação da mensagem natalina para os filhos? A catequese é fundamental na vida da criança e dos adultos também. Mas seriam formas diferentes. As crianças possuem um imaginário mais fértil e com isso o pai e mãe conseguem aproveitar melhor a mensagem do Evangelho para ajudar as crianças até a enxergarem com outros olhos o Natal com uma mística maior. E depois, com o passar do tempo, os pais e a própria comunidade vai aperfeiçoando isso, ajudando o adulto a tornar sua fé adulta. Os pais tem uma responsabilidade sim. Como a gente sempre trabalha com analogias, então, uma igreja doméstica formada pelo pai, pela mãe e os filhos ajuda na catequese enquanto infantil. Conforme essas crianças vão crescendo e a fé delas amadurecendo, elas passam a integrar a comunidade que é sua nova família, a família da igreja.


“Que cada família e  cristão veja o Natal como uma oportunidade de renovar sua fé”


Como o senhor enxergar a realidade de um Natal cada vez mais consumista? Há duas formas, talvez, de entender o Natal. Essa ideia do consumo, do material, que é simplesmente sensível é fruto do nosso tempo. Um tempo que quer gerar capital, quer produzir, quer fazer com que a economia cresça, tudo baseado na nossa forma econômica. Agora a visão do Natal não muda. Ele sempre representou o nascimento de Jesus.

Tende a ser negativo essa forma como em nosso tempo representamos o Natal? Toda expressão que termina como “ismo” não é muito bem visto. Senão seria consumo e não consumismo. O “ismo” que é o problema porque remete à extremidade, excesso de alguma coisa. Nós somos consumidores, mas não precisamos ser consumistas.

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Padre, como é possível manter uma fé nestas festividades religiosas em um mundo secularizado e descrente? Aqui mesmo em Holambra, as famílias se reúnem não como uma festa somente, mas relembrando o significado religioso. Se a gente olhar para a história da humanidade, a gente vai perceber que o ser humano sempre se pautou em algumas crenças, algumas seguranças, sejam elas religiosas, mitológicas, filosóficas ou científicas. Não é que houve uma evolução de uma coisa para outra, mas nós nos apegamos a determinadas forças ou determinados poderes que conferimos a algum tipo de saber. Hoje, tem-se a ideia de que a ciência explica tudo. E se a gente olhar a própria história da ciência, vamos perceber que ela não sabe tudo. Se nós dissermos que a ciência sabe tudo, nós vamos bloqueá-la de evoluir. Já que ela sabe tudo não há necessidade de evoluir. Absolutizar algum tipo de ciência ou algum tipo de saber é um risco. Agora, nós vemos sim, a fé sendo posta em xeque ou um saber subordinado a outro saber. Isso é complicado. Como é que nós vamos comparar dois tipos diferentes de saber que têm suas próprias causas e suas próprias formas de entender, submetendo um ao outro? A gente precisa entender que são sabedorias diferentes. Se a gente tirar a fé do Natal, ele se torna uma festa como qualquer outra. Um carnaval fora de época, por exemplo.

Nesta época, percebe-se um espírito solidário que não se vê de forma mais intensa no resto do ano. Por que? É uma pergunta interessante esta (risos). Nós fazemos todo um processo de evangelização, mas o Natal tem seu efeito próprio também. Poderíamos colocar vários fatores para este motivo. O próprio significado do Natal, que é um Deus que sai da eternidade e corre ao encontro dos mais fragilizados, motiva a isso. Se o Deus onipotente, sai de sua condição divina e vem ao encontro do ser humano, como é que eu ser humano não posso sair da minha condição de comodismo e socorrer os que mais precisam? Outra, nós temos o fator econômico. As pessoas estão com o 13°, um salário mais “gordo”, então, quando ela vê alguém mais necessitado ela vê quando irá custar nada ajudá-lo. Aí, a gente já extrapola o motivo solidário e vai por conta do econômico. Agora, imagine que nós tivéssemos que deslocar o Natal para janeiro quando precisa-se pagar IPVA, material escolar, a pessoa pode pensar “eu sei que você está precisando, mas eu também estou”.


“Ele mudou a história da humanidade, reconfigurou a forma e o sentido do amor”


Qual o melhor presente que uma pessoa poderia dar e receber neste Natal? Um grande presente que podemos dar e receber é a fé. Este presente é o maior de todos. E nós vivemos, hoje, como se ela fosse somente um elemento em meio a outros. E isso não é verdade porque a fé rege os demais sentimentos que nos acompanha, como o amor, a euforia, a alegria, a felicidade, a prosperidade e a educação. É a fé que dá sentido a isso tudo.

Qual a mensagem que você deixa aos holambrenses neste Natal? Que cada família e cada cristão veja o Natal como uma oportunidade de renovar a sua fé. Buscar um novo caminhar para o ano de 2017, e que essa experiência de fé leve-os a compreender melhor o que é amar alguém, estar feliz, estar com alguém e o que é preservar a vida.


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