17/09/2017

Músico fala sobre a cultura da viola caipira em Holambra

Cristiano Scuciatto dá aulas no município e explica integração entre instrumento e cultura holandesa

Da redação

A viola caipira ou viola de arame é um instrumento derivado das populares violas portuguesas, caracterizadas por cinco ordens de cordas metálicas, que foram introduzidas no Brasil na época da colonização ao serem trazidas por colonos e jesuítas no século XVI.

Inicialmente, foi um instrumento urbano ligado às sedes administrativas portuguesas. Esses aparelhos foram adaptados por artesãos brasileiros em sua produção artesanal. À medida em que eram difundidas, seja pelos bandeirantes e tropeiros no interior, seja nas cidades maiores, instâncias administrativas portuguesas na época (hoje capitais, como Recife, Salvador e Rio de Janeiro), as violas adquiriram as formas que conhecemos hoje.

Vários ritmos e toques surgiram nas diferentes regiões do país, como acompanhamento dos cantos. Dentre outras características, as cordas em cinco ordens e a forma ponteada de tocar a diferencia de outros instrumentos como o violão.

Em Holambra, a Orquestra de Viola Caipira é resultado da Oficina de Viola Caipira, liderada pelo maestro Cristiano Scuciatto. As aulas, que são uma iniciativa cultural da Prefeitura de Holambra, tiveram o apoio da Diretora Municipal de Cultura e Turismo, Alessandra Caratti, desde o início de 2015. Para tanto, a oficina é começou a ser realizada no espaço da Biblioteca Municipal de Holambra.

Posteriormente, ainda em 2015, as atividades foram transferidas para o Teatro Municipal e, em 2016, passou a acontecer no Centro de Convenções de Holambra, ao lado do Moinho Povos Unidos.

De lá para cá foram várias apresentações públicas, como o Dia do Rei, inauguração de áreas públicas, participação em programas de TV, comemorações de Natal e um desafio particular, tocar por aproximadamente três horas aos domingos na Expoflora, com um repertório já consagrado e com um grande carinho e receptividade por parte do público.

E quem está à frente do projeto na ‘Cidade das Flores’ é Cristiano Scuciatto, de 42 anos, que há duas décadas é envolvido em diversos projetos musicais. Nesta entrevista, o professor da Orquestra de Viola de Holambra, natural de Itu (SP), conta algumas curiosidades do instrumento que, segundo ele, ajudou a fundar a história do Brasil.

Há quanto tempo você toca viola caipira? Por que escolheu tocar este instrumento? Como professor dou aula desde 2012, porém, me envolvi com o instrumento ainda muito novo. Escolhi a viola porque é um instrumento bom demais da conta! (Risos).

Quais as principais diferenças da viola caipira para o violão? Essa é uma pergunta interessante. A gente não costuma prestar atenção, mas ‘violão’ é o aumentativo de ‘viola’. Ou seja, alguém fez uma viola um pouco maior e com seis cordas e pronto: estava feito o violão. Claro que existem outras diferenças, como afinação. A principal diferença mesmo é que a viola possui dez cordas duplas.

É muito difícil aprender viola? Qualquer instrumento é difícil. Eu diria que a viola é um pouco mais fácil por ter a afinação aberta, ou seja, as cordas soltas formam um acorde. Isso ajuda muito quem está iniciando. Porém, cada instrumento possui a sua peculiaridade e exige anos de prática para atingir um nível profissional. Com a viola caipira não poderia ser diferente.

Qual o perfil dos seus alunos? A média de idade é entre 30 a 60 anos, na maioria homens. Mas o perfil é muito variado. Existem médicos que palestram nos EUA até um pedreiro ou motorista.

Com que idade você aconselha iniciar as aulas? Quem tem mais idade pode fazer as aulas? Não existe limite de idade. Qualquer um pode fazer as aulas, mas o ideal é que seja a partir de 10 anos. Isso por causa do tamanho da mão, já que a mão muito pequena pode atrapalhar na hora de tocar. Se não fosse esse detalhe, poderia ser antes.

Há quanto tempo atua em Holambra? Estamos indo para o terceiro ano de atividade em Holambra.

Como vê a importância da viola caipira para cultura do Brasil? A gênese da cultura do Brasil, principalmente no interior de São Paulo, está no braço da viola caipira. Os caipiras, bandeirantes, todos sempre tiveram alguma relação com a viola. A importância é ímpar, principalmente no estado de São Paulo e em Minas Gerais.

E para Holambra? Em Holambra é interessante, porque os imigrantes holandeses, quando vieram para cá, conviviam com a tradição deles mesmos, que agarram com unhas e dentes, e também com a cultura daqui, como a Festa de São João e a Catira. A Orquestra de Viola é um símbolo da união perfeita destes dois povos, que hoje já são um só.

Holambra é conhecida por manter vivas várias características da cultura holandesa. Como você faz para aliar o projeto da viola caipira dentro da comunidade holandesa da cidade? Pode não parecer, mas é muito fácil. Os holandeses vivem duas culturas, a holandesa e a brasileira. Eles adoram a nossa cultura, adoram a gente. Vários imigrantes holandeses são também nossos alunos.

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