07/05/2017

Morador de Holambra conta como superou dificuldades para empreender aos 18 anos

Geovane de Souza Pereira tem 24 anos, mas aos 18 resolveu empreender. Ele conta qual foi a fórmula do sucesso

Leonardo Saimon

Geovane de Souza Pereira tem 24 anos, mas aos 18 resolveu empreender. Ele conta à equipe do Portal Holambrense qual foi a fórmula do sucesso. Mas antes, uma pausa na entrevista. Ao ver um cliente assíduo, ele levanta, anda em direção ao balcão e fala: “Otávio, aqui ó. Dá uma olhada nesse [boné] que eu separei pra você. É meio grandinho, mas acho que dá”. Ele pega o chapéu e entrega na mão de Otávio. O tom amigável dispensa qualquer técnica de venda e como o seu público é da mesma faixa de idade, não é difícil fazer amigos. Dessa forma, clientes como Otávio, retornam outras vezes.

Geovane relembra sua trajetória e sabe que não foi fácil. As dificuldades da infância, porém, apenas o incentivou a vencer. Seus pais, a dona Lindenalva e o seu Joel, mostraram a ele que a vida pode ser dura, mas que ele não precisa sofrer com ela. Nas horas vagas, Geovane também dedica tempo a duas bandas.

Dia 25 de maio, inclusive, tocará com uma delas, exatamente, no dia de seu aniversário de 25 anos. Coincidências a parte, o universitário – que é filho único – conta como conseguiu montar sua própria loja sendo ainda tão jovem.

Confira na íntegra:

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Aos 24 anos, você é dono de um negócio. Sua família tinha condições para te dar algum suporte financeiro?  Não, não tinha. A única condição que a minha família tinha, quando eu era pequeno, era de pôr comida na mesa. Quando eu era criança, muito criança mesmo, meu pai, minha mãe e eu – eu sou filho único –, morávamos em uma casa em Artur Nogueira, no bairro São Vicente. Lá tinha uns problemas com enchente e em uma dessas enchentes nossa família perdeu tudo. A gente já não tinha praticamente nada, e o pouco que tínhamos, a gente perdeu. A Prefeitura, na época, ajudou com colchão, comida, e aí deu uma reerguida. Só que eu era pequeno, mas eu lembro de certas coisas, de certos momentos. Eu lembro da água entrando, do muro despencando, eu lembro dos meus pais desesperados porque a gente não tinha muita coisa, e o que tinha água estava levando, levou tudo. Depois, a gente conseguiu mudar para uma casa melhor, bem simples, mas era melhor. Ficava em um terreno que não seria inundado por enchente. Foi uma vitória! Tinha as derrotas, mas ali começaram as vitórias também.

Como nasceu essa sua vontade de empreender? Eu sempre olhava para os comércios e achava muito legal. Quando minha mãe falava que ia ao Centro, eu queria ir junto com ela. Quando ela ia a bancos, essas coisas, eu sempre ia junto. Ela ia pagar conta ou ia comprar coisas no mercado, nas lojas, mas eu queria junto. Eu achava bonito, eu queria que meu pai tivesse alguma coisa, eu queria que meu pai tivesse um comércio para que eu pudesse ajudar. Só que não dava, né? O meu pai ganhava quase o tanto para gente comer. O meu pai sempre foi funcionário público, ele está aposentado pelo Departamento de Estradas e Rodagem (DER). Ele era o administrador máster das rodovias, mas teve concessão aí terceirizou, daí virou um pequeno órgão que só fiscaliza. Naquela época, o governo não valorizava muito e o salário era o que dava para comer. Graças a Deus a gente nunca passou fome. Mas dava para comer e comprar uma roupinha ou outra sem luxo nenhum. E minha mãe cuidava de casa. Então, não tinha como ter um comércio. Impossível.


“A única condição que a minha família tinha, quando eu era pequeno, era de pôr comida na mesa”


Como surgiu a oportunidade de você morar em Holambra? Meu pai sempre teve o sonho de morar em Holambra. Era meta da vida dele. Até que a gente pôs a nossa casa para vender e ficou por três anos à venda. Chegaram e asfaltar a rua que eu morava, aí vendemos. Chegou aqui em Holambra, os financiamentos que ele queria fazer não eram aceitos. Para você ver, o salário dele era tão baixo que nem a Caixa Econômica aprovou um financiamento para ele. Como a gente tinha vendido a casa, tivemos que alugar um sítio. Só que um ano depois, meu pai disse que ou a gente entrava na casa só com a laje, sem telha e sem vidro nenhum – não estou exagerando. Ou a gente morava lá, ou a gente não ia ter casa aqui. Meu pai tacou plástico na janela para não entrar friagem e não entrar chuva. A casa só no tijolo, não tinha pintura, portão, quintal só a laje. E era um torrão de terra em volta. Aquele contra piso, aquele tijolo na parede. O sofá, era rasgado, tinha uns buracos porque o sol estragou. A gente só conseguiu mudar com energia elétrica porque um primo nosso deu de presente a instalação.

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Dentro desta realidade, você tinha algum tipo de educação financeira por parte dos seus pais? Durante este período, eu estava na fase de descobrir as coisas. Aos 12, 13 anos, meus pais viram que eu logo, logo iria descobrir o mundo, então, eles sempre me falavam: ‘Ó, você tá vendo que a gente está nessa situação, mas a gente vai sair dessa rapidinho. Só que você precisa saber se controlar’. Meu pai, é um herói. Meus pais são heróis, na verdade. Enquanto minha mãe dava os conselhos de vida, meu pai dava os conselhos financeiros. Eles diziam que era melhor aprender com pai e mãe do que aprender na rua. Porque com os outros o tipo de educação era diferente.

Que tipo de educação financeira seu pai te passava? Economizar. Por exemplo, se você tem uma casa pra terminar, por que que você vai passear? Para que você vai planejar uma viagem? Se você tem o arroz e o feijão na sua casa, que graças a Deus você tem, e precisa pagar uma conta ou construir uma casa, por que você vai pra um restaurante? Isso é algo para você fazer quando se tem dinheiro sobrando. Com essa situação da casa, meu pai foi tão seguro que mesmo com o salário bem baixo, ele conseguiu, em menos de um ano, colocar madeiramento, conseguiu rebocar. Com um ano e pouco, ele conseguiu pintar, e hoje, a gente tem uma casa própria em Holambra, terminada e num bairro bom. Tudo feito a partir da garra e do foco do meu pai. Foco é o que meu pai tem.


“Enquanto minha mãe dava os conselhos de vida, meu pai dava os conselhos financeiros”


E você herdou isso dele? Sim. Porque, se eu não tivesse isso, eu não teria essa loja hoje.

E como que você conseguiu ter essa loja? Na verdade, eu tive ajuda de dois amigos. O Alexandre e o Bruno. Eu comecei a tocar, ter banda e a molecada que andava comigo era a que sempre andava de skate. E eu sempre fazia o som para essa molecada. Assim, comecei a ver oportunidade porque a gente sempre combinava de ir a Campinas comprar roupa. Aqui não tinha loja. E esses meus amigos sempre me incentivavam a montar alguma coisa. A gente planejou e desistiu umas vinte vezes. A gente fez uma pesquisa de marketing sem saber o que era isso. Agora que eu faço faculdade de Marketing que eu vim entender que eu fazia marketing e não sabia. A gente pesquisou até o número do tênis que a molecada calçava. Mas isso, porque o Alexandre, na época, fazia Administração. Então, ele guiou a gente. Ele pegou a minha experiência que eu tinha no meio dos moleques e fui selecionando as marcas. Cada um juntou um pouquinho, a gente não tinha nada.  A gente começou com 10 shapes, 20 camisetinhas, coisa mínima. E em menos de um ano, a loja triplicou, quadriplicou de clientes e de estoque. Os dois sócios viram que não era coisa para eles, que essa loucura de ter comércio era coisa pra mim mesmo. Então, eles me venderam a parte deles e mais uma vez meus pais entraram em ação e me ajudaram a comprar as partes deles porque a loja valorizou demais. Ai, a loja passou ser só minha. Mas eu também tive foco, no começo eu saia com os amigos e levava só R$ 5 no bolso para dizer que tinha.

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Há quanto tempo você tem essa loja? Há seis anos.

Que dica você deixa para quem deseja montar o próprio negócio? Primeiramente, você tem que procurar uma coisa que você gosta muito. Por que? Porque você vai viver para isso. Você vai se doar para isso. Você precisar ter amor pelo que você vai fazer, mas esse amor é só 50% do negócio. Os outros 50% são as burocracias, viabilidade. Seu cliente vai comprar mesmo? Uma coisa é ele dizer que gosta outra coisa é ele dizer que vai comprar. A cidade que você está é viável para o seu negócio? Tem muito concorrente? Ou, você está sendo empreendedor por oportunidade ou por necessidade? Tem demanda? E o mais importante qual o diferencial do seu negócio? Ele tem algum diferencial? O amor é 50% e você precisa saber a viabilidade do negócio.

Você sentiu os efeitos da crise? Afetado todo mundo foi. Se eu falar que eu não fui, é mentira. Inclusive, eu tenho 24 anos e vejo no jornal que é a pior crise da história. Eu não fico com medo disso. Eu ergo a cabeça e penso: ‘Beleza, se é a pior crise da história, será a maior oportunidade da minha vida’. Primeiramente, eu vejo assim, foi com essa crise que eu mais aprendi. Antes, por exemplo, eu não gostava de ler sobre política, hoje eu leio sobre política, sobre economia – coisa que eu odiava. Eu propus um desafio para mim, toda vez que eu fosse ao shopping eu compraria um livro para mim da minha área. E o que eu faço para contornar a crise? As vendas deram uma diminuída? Sim. Mas é algo que dá pra administrar. O meu público é jovem. E jovem não tem família para criar nem casa para cuidar então eles gastam parte do salário deles aqui. Para isso, eu diminui as marcas importadas, eu mantive, mas coloquei várias marcas nacionais que têm a mesma qualidade e tem saída mais rápida. Então, coloquei um produto mais acessível a todos, mas com a mesma qualidade. E assim que a gente contorna.


“Se é a pior crise da história, será a maior oportunidade da minha vida”


Além de administrar sua loja, o que mais você costuma fazer? Eu toco em duas bandas. Uma de poprock e uma de hardcore, que é um tipo de rock. E também leio muito sobre aviação, sou viciado por aviação. Tudo que acontece na aviação eu estou por dentro.

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Como nasceu o amor pela música? Eu devia até ter falado antes, quando começou a vontade de ter a loja, não era porque eu andava de skate, era porque eu tocava e via, nos shows, todas essas marcas. Então, eu posso dizer que senão fosse a música e os locais em que eu estava eu não teria a loja. Eu pensava na possibilidade em ter um negócio porque quando eu quisesse sair para tocar, bastaria eu deixar alguém. Porque eu quero levar a música profissionalmente também. A loja é um sonho que eu realizo, uma coisa que eu adoro e não atrapalha a minha carreira de músico também.

Quais são os seus sonhos daqui para frente? Eu quero fazer a loja crescer. Eu quero que as minhas bandas tenham um espaço no cenário musical brasileiro, tenham reconhecimento. E quero continuar vivendo o que eu gosto. Apenas o que eu gosto, se Deus me permitir.


“Quero continuar vivendo o que eu gosto. Apenas o que eu gosto”


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