08/01/2017

Morador de Holambra atrai turistas com fabricação de cachaça artesanal

José Roberto Marchesini fala em Turismo Rural como forma de fortalecer seguimento no município

Texto: Leonardo Saimon / Fotos: Diego Faria

O turismo é o ponto forte de Holambra. Para que o setor ganhe fôlego é necessário investimento e dedicação de autoridades locais, mas além disso a cidade também pode contar com iniciativa de moradores que agregam valores à cidade por meio de ideias inovadoras. Graças a uma dessas propostas inusitadas, o que era hobby terminou como uma nova opção para os turistas de Holambra. Só que nem tudo são flores na cidade.

O Rancho da Cachaça é também uma ótima opção para quem curte Turismo Rural e deseja umas férias alternativas ao convencional. Além de aproveitar a cachaça feita de forma artesanal, os visitantes podem desfrutar de uma vista paradisíaca em meio à natureza. Em clima de férias, o Portal Holambrense entrevistou o empreendedor José Roberto Marchesini que conta um pouco sobre a história do local e de como surgiu a ideia de montar uma pousada atrelada à arte de fazer cachaça.

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Como você chegou em Holambra? A minha família mora aqui na parte baixa onde fica o Rancho da Cachaça, que antigamente era Jaguariúna, há mais ou menos 150 anos. Eles vieram da Itália e começaram a mexer com agricultura de subsistência. Eles criavam porcos, plantavam milho, enfim, eles trabalhavam com agricultura de subsistência mesmo. E aqui estamos até hoje. Quando eles chegaram, só havia mata e, por isso, precisaram desbravar isso tudo aqui. Na verdade, toda essa parte baixa que você vê aqui é tudo parente. Em 1945, chegaram os holandeses e daí começou a história que a gente conhece da colonização holandesa.

E quando surgiu a ideia de construir o Rancho da Cachaça? Depois da agricultura de subsistência a gente começou com a plantação da laranja. Meu pai era produtor de laranja na época e, depois de um tempo, o mercado da laranja ficou defasado. Foi quando meu pai decidiu parar. E aí vem a história do Rancho. Em 2000, meu pai faleceu e um ano depois a gente resolveu começar a fazer cachaça. Em 2006, a gente abriu o Rancho depois de fazer um trabalho como Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), lá em Jaguariúna. Fizemos este mesmo trabalho em Holambra também para saber junto ao Senar o que era de fato o Turismo Rural. Começamos com 14 propriedades e, hoje, sobreviveu apenas o Rancho da Cachaça e o Sítio Arurá. De lá para cá, passamos a investir em hospedagem. Eram quatro apartamentos, depois seis, depois oito, subimos para 11 e, atualmente, temos cerca de 19 apartamentos disponíveis para estadia.

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E por que apostar neste segmento de cachaça artesanal? Bom, como todo negócio no Brasil, começou como um hobby. Nós precisávamos ter alguma coisa aqui no sítio para sobreviver na propriedade. Senão, ela teria que ser vendida. Fazer cachaça artesanal começou como um hobby de como fazer a melhor cachaça. Fazendo uma fermentação natural, tirando a cabeça, tirando a calda, aproveitando o miolo, envelhecendo a cachaça. Adotando um preço que dê para as pessoas comprarem e que esse preço não fique defasado. Foi aí que nós conseguimos mostrar para todo o Circuito das Águas que temos que ter preço bom para termos uma qualidade boa.

Quando começaram a produzir a cachaça, vocês já comercializavam? Sim, mas só para a cidade de Jaguariúna.

O retorno financeiro veio a curto, médio ou longo prazo? O retorno foi a longo prazo. Para chegar no objetivo que eu queria, foi a longo prazo. Porém a cachaça traz pessoas para a hospedagem, traz pessoas para almoçar, a cachaça traz pessoas para visitar o nosso pomar. Então, por meio da cachaça a gente consegue um público grande.


“Fazer cachaça artesanal começou como um hobby


Quando você começou na produção da cachaça, você idealizou também a parte da hospedagem? Jamais imaginávamos mexer com hospedagem. Só que depois de muitas reuniões, e depois que as pessoas passaram a cobrar, foi necessário. Porque as pessoas chegavam aqui e viam essa paisagem maravilhosa e queriam ficar, tomavam uma cerveja e depois queriam dormir aqui. Foi quando resolvemos fazer a hospedagem.

Qual o tamanho desta propriedade? São 65 mil metros quadrados. Nós aproveitamos para o turismo 45 mil metros quadrados.

Qual é o perfil das pessoas que vocês recebem aqui? Pessoas que querem sossego. Comumente, são pessoas que buscam por paz, alegria e querem sair um pouco da rotina do dia-a-dia. Esse é o perfil das pessoas que passam por aqui. É o momento em que cada um encontra harmonia na natureza.

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Como é feito a cachaça artesanal?  A cachaça artesanal é aquela que tem fermentação natural. O que seria isso? Uma fermentação a base de milho, ou farelo de arroz ou a própria cana. Essa é a base da fermentação. Você tem que deixar o processo mais natural possível. Como que destilar naturalmente? Simples. Nosso alambique é de cobre e você põe o mosto, que é o caldo de cana fermentado. Depois de colocar o fogo, quando o alambique chega entre 80°e 85°, o álcool sobe e se condensa, saindo em forma de cachaça. Nesse processo, a gente tira a cachaça ruim, aproveita-se o miolo e tira a calda, que é a última cachaça que sai. Basicamente, esse é o processo.

E como funciona o envelhecimento da cachaça? Você deixa a cachaça em um barril entre um ano e meio até cinco anos, em barris de carvalho ou de madeira. Nós temos 22 barris funcionando e cada um comporta até 180 litros mais ou menos.

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Como você vê o Turismo Rural em Holambra? Eu acho que o Turismo Rural sobrevive bem em Holambra. Falava-se muito em turismo o ano inteiro, mas quando o turista chegava aqui não tinha para onde ele ir. Hoje, nós temos o Rancho. O Rancho da Cachaça investe na produção artesanal da cachaça. Aqui nós temos uma linda vista panorâmica. Investimos também na alimentação e visamos realizar um trabalho pedagógico com os bichos, enfim, recebemos pessoas do Brasil todo e do mundo inteiro. Temos a obrigação de mantermos o turismo durante o ano inteiro, assim como as autoridades competentes. Esse é o nosso lema, contribuirmos para o turismo na cidade.


“Temos a obrigação de mantermos o turismo durante o ano inteiro, assim como as autoridades competentes”


Você tem falado bastante no Turismo Rural. Qual o papel dele no Brasil? O Turismo Rural está começando a ser reconhecido pelas nossas autoridades e governante para se tornar uma atividade rural, acho que falta pouco para que isso aconteça. Além disso, a gente tem um grande público procurando uma propriedade que tenha meio ambiente. E as pessoas querem paz, querem ter calma, elas querem ser não um número e sim serem chamadas pelo nome. Tudo isso o Turismo Rural proporciona.

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