30/10/2016

Imigrante holandês fala sobre início de Holambra

Jan Eltink fala sobre chegada e adaptação da família em solo brasileiro.

Leonardo Saimon

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Foram tempos difíceis, lembra o holandês Jan Eltink. Em terras estrangeiras como imigrantes, muitos eram os desafios para se adaptar na tão almejada terra prometida, como acreditavam alguns. “O Brasil era um dos poucos países que aceitavam imigrantes e havia muitos incentivos para nós virmos para cá”, comenta o agricultor que aos 75 anos se sente como um dos pioneiros neste processo de imigração.

Holambra começou a receber os holandeses em 1948. Mas só depois de cinco anos, em 1953 é que a família de Jan resolveu trilhar este destino incerto e aparentemente sem volta. “Por conta da realidade daquela época, meus pais imaginavam que iriam para nunca mais voltar”, diz Eltink. As lembranças deste holandês se mantêm tão vivas quanto os acervos históricas cujo museu de Holambra abriga. Este espaço de tantas recordações se mistura com a realidade vivida por ele.

A viagem

No dia 29 de maio de 1953, a família de Jan embarcou em Notre Dame e começou a viagem rumo ao Brasil. A família simples, que morava a cerca de 200 quilômetros da capital Amsterdã, trabalhava e sobrevivia com agricultura familiar, um dos requisitos para quem desejasse migrar à nova terra. A promessa era de que, ao chegar no país, eles encontrariam terra necessária para aplicar o conhecimento adquirido na Holanda. “Nós viajamos por três semanas. Como eu era novo, tinha uns 11 anos, tudo era uma aventura para mim”, comenta Jan. A desconfortável viagem contava com outras quatro famílias, todas tão grandes quanto a de Jan Eltink.

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Em Santos atracava o barco, mas só em Holambra começava outra etapa da vida. Na antiga comunidade, moravam outros holandeses que vieram antes e os nativos. A recepção do brasileiro acalentou os corações esvaídos.  Ao chegar nas terras da Fazenda Ribeirão, os desafios eram vários: o idioma, a comida e a terra, que estava desgastada. Cada hectares de terra, produzia em torno de 30 sacas de milho, hoje chega a se produzir 200 sacas. Aos poucos, se aprendia o idioma e assim transcorriam os dias. “Eles apontava para um enxada e diziam: ‘isto é uma enxada’. Apontavam para a terra e diziam: ‘isso é terra’. E desse jeito fomos aprendendo o idioma”, explica Eltink.

As flores

Nem tudo era flores em Holambra. Muito pelo contrário. “Existiam bem poucos produtores de flores que vieram nas viagens. Comumente, eles plantavam em pequenos espaços no quintal das casas, mas não havia incentivo para este tipo de plantação”, revela Jan. O acordo era de que eles produziriam comida e não flores. A comunidade contava com estruturas precárias, ineficientes e simples, de educação, saúde o que fosse. “Os tempos eram outros, então naquela época não importava se você era crianças, você devia ajudar na agricultura, na colheita e nos trabalhos de casa”.

Jan conta que na década de 60, a produção de flores já se mostrara promissora. E muitos tinham visto neste seguimento uma oportunidade para ascender economicamente. Ele conta que, gradativamente, a exportação de flores para o Brasil aumentou e agora a cidade ganhava um novo status que a acompanharia por muitos anos. Com o aumento da produção, mais recursos entraram na cidade e algumas melhorias podiam ser vistas.

História viva

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A vitalidade deste imigrante impressiona, mas não mais que seu conhecimento. Jan Eltink ainda trabalha na agricultura, contudo, dividi o tempo para também se dedicar ao museu de Holambra. No local, é possível identificar objetos que remetem a época e reconstroem de forma visual a história. E lá está Jan, que ajuda os turistas e curiosos a entenderem a história da cidade, nenhum detalhe passa despercebido. No museu, é possível identificar a família de Eltink pelas fotografias, no momento do embarque e no Brasil. Seguindo sentido inverso, alguns dos filhos de Jan moram e constituem família na Holanda, local que voltou muitos anos depois para conhecer melhor. “Eu não sou um pioneiro, mas sinto como se fosse um. Consigo lembrar exatamente como tudo aconteceu”, frisa Jan.

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Família de Jan Eltink durante o embarque em 1953.


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