21/08/2016

Especialista fala sobre desafios ambientais de Holambra

Biólogo há mais de 30 anos, Geraldo Eysink é sócio da empresa responsável pela restauração das Nascentes holambrense.

interna 1-1470857876

Leonardo Saimon

Natural de Holambra e biólogo por formação, Geraldo Eysink recebe a equipe do Portal Holambrense na empresa do qual é sócio e na primeira oportunidade parece se mostrar otimista quanto ao futuro de Holambra nas questões ambientais. Não nega que o município poderia ter feito mais e melhor ainda na década de 80 quando ele apresentou projetos sustentáveis às lideranças locais.

Como ‘águas passadas não movem moinho’, e de moinho Holambra entende muito bem, a cidade resolveu deixar os erros para trás e apostar em um município mais sustentável. Para isso, uma série de investimentos no setor ecológico e ambiental mostrou ser realidade aos longos dos últimos meses na cidade. Uma dessas iniciativas surgiu por intervenção do Ministério Público que pressionou o Executivo à implantar novos métodos de descarte de esgoto no perímetro rural.

Já em outros casos, esses projetos são respostas a investimentos firmado entre instituições financiadoras e o Governo do Estado de São Paulo, por conta disso o município deu um grande passo rumo às restaurações das nascentes que resultarão na preservação hídrica da cidade, além de recuperação das estradas e áreas de degradação do solo nas propriedades rurais.

Durante entrevista, Eysink fala sobre o presente e o futuro dos desafios ambientais em Holambra e como o Brasil tem trabalhado pautas ambientais.

Como você avalia as questões ambientais no Brasil? É uma pergunta um pouco complexa. Eu acredito que dos anos 80 pra cá começou lentamente uma mudança de postura com relação a questão ambiental, especialmente no estado de São Paulo. São Paulo tem sido o carro-chefe de vários grandes projetos. Vemos um melhor controle de frente industrial, da poluição do ar. Quando eu trabalhava na Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) eu via uma mudança de comportamento, mas ainda muito aquém do necessário. O Brasil é um país muito grande tem cerca de 8,5 milhões de km² e então é um território muito diverso e ainda existem muitas coisas que precisem ser feitas. Estamos amadurecendo de uma forma interessante tanto no comportamento das pessoas, como no papel da imprensa, nas universidades que estão preparando melhor os seus alunos e também na área técnica.

Existem profissionais suficiente para atender as necessidades do país nesse setor ambiental? Não. O que acontece é que, em São Paulo, por exemplo é uma estado que oferece oportunidades melhores de remuneração, e com isso dificilmente você convence pessoas em larga escala para atuar na região amazônica. Como estamos em um país muito grande em diversidade ambiental, não temos especialistas para todo o tipo de variedades que o país apresenta.

Diante deste cenário, Holambra vê essas pautas ambientais como algo urgente, ou ainda precisa amadurecer nas questões? Eu acredito que Holambra tem alguns diferenciais. Primeiro, nós temos muitos universitários na cidade, isso significa que o entendimento é diferente. Um engenheiro agrônomo, por exemplo que precisa lhe dar com terras, solos e plantas, percebe que o ambiente no qual ele está inserido. O produtor também tem esta percepção. Atualmente, os agricultores possuem filhos que trabalham no ramo agronômico e atuam na própria terra, mas de uma forma muito mais técnica e correta. Por isso, Holambra tem este privilégio. Quando você entende o seu território, o seu ambiente você passa a ter um cuidado maior por ele.

interna 2-1470858205

O fato de Holambra ser uma cidade com muitos produtores e desenvolver diversas atividades agrícolas, contribui para a conscientização ambiental? Lógico. A gente percebe muito bem. Se um produtor não tiver água, ele não consegue cuidar das flores e das plantas. Por isso, ele precisa tomar muito cuidado com a água e muito cuidado com o equilíbrio ambiental.

Qual o maior problema que o a cidade enfrenta hoje e que podem melhorar no aspecto sustentável? Holambra tem se empenhado bastante em questões ambientais, mas é lógico que existem muitas coisas a serem feitas. Por exemplo, foi aprovado o projeto de restauração das nascentes, mas que foi proposta lá em 1989. O melhor é que a cidade tenha um Plano Diretor para que se tenha todos os tópicos ambientais formatados e efetivamente instalado.

A conscientização e sensibilização dos moradores também contribui para diminuir problemas que causem danos ao Meio Ambiente? Sim. A educação é o único caminho para a mudança. Não basta só plantar árvores, mas precisa cuidar delas e preservá-las. E não é só árvores, mas esse tipo de educação serve para qualquer coisa ligada a questões ambientais.

O projeto Nascentes de Holambra é uma realidade que visa diminuir alguns problemas ecológicos que a cidade enfrenta… Todos os projetos que são desenvolvidos são grandes oportunidades que nós temos de fazer uma mudança para que isso se perpetue e incentive outras pessoas e outros municípios. Esse projeto Nascentes de Holambra é uma grande oportunidade para nós mesmos, mas há um grande custo. Por isso é melhor, preservar porque é muito mais barato e efetivo do que restaurar. Mas a recuperação das nascentes é um assunto que vai ser preciso levar para as escolas e para mídia, para considerar a importância de preservar as nascentes. Ao se recuperar as nascentes, eu garanto água para abastecimento. Eu estou desenvolvendo outro projeto que se chama Pagamento por Serviço Ambiental (PSA). Ou seja, a ideia é pagar para pessoas que tem terras onde passam os nossos córregos. Eles vão receber dinheiro para preservar os rios, ao invés de ser um produtor de flores, ele vai ser produtor de água e quem vai pagar a conta, é o usuário.

interna 4-1470858242

Por que as nascentes da cidade se encontram nessas condições? Esses problemas não são somente em Holambra. É um desprivilegio de todos os municípios que não tiveram um projeto de gestão ambiental. As pessoas estão começando a entender o porquê de preservar. Antes a preservação era coisa de biólogo, hoje as pessoas entendem a importância de preservar o Meio Ambiente. A percepção aos problemas ambientais é muito importante.

O projeto funciona em três etapas, essas fases acontecem de forma simultânea? Sim são simultâneas. Na primeira fase do projeto, foi de levantamento das nascentes, localização, diagnóstico, se está ou não preservada, quantas espécies precisa plantar, se é necessário colocar cerca ou não. Esta parte já está bastante avançada. Agora é pegar alguns lugares estratégicos para implantar o projeto efetivamente. Pegar as mudas e plantar é quase o resultado final do projeto. O nome é Nascentes de Holambra, mas existem muitos projetos paralelos e tem a proteção efetiva da nascentes. No futuro, estamos elaborando um projeto para apresentar para o PCJ que é o controle da qualidade e da quantidade de toda a bacia hidrográfica de Holambra.

O projeto deve trazer resultados a curto, médio ou longo prazo? É um processo. Não dá para recuperar um ambiente a curto prazo. Você planta, mas até as árvores crescerem e começar de novo a ter uma função é um processo longo. Não adianta dizer “está tudo plantado, está tudo recuperado”, não, isso é apenas um começo. Mas eu vejo que os reflexos são quase que imediatos. O grande reflexo como esse de recuperação das nascentes é você conseguir mostrar para a população o quanto isso é bom e importante. Daí a educação ambiental começa a funcionar, porque há uma mudança de pensamento.

Os custos para este tipo de projeto são altos … Sim. Quando você tem um ecossistema equilibrado ela presta um serviço ambiental. Por exemplo, a abelha produz mel, que é um dos serviços ambientais que ela presta, mas o serviço real mesmo é a polinização das flores e a consequência é o mel. O ambiente preservado presta vários serviços que nem a gente mesmo imagina, que é maior do que ter que restaurar ou ter que plantar as mudas para o reflorestamento.

Uma vez restaurada, quais serão as medidas para manter essas nascentes? A empresa HC2 foi contratada para fazer uma manutenção mínima de dois anos. A estratégia também é que cada proprietário de terra onde há uma nascente a preserve. É muito importante o compromisso do proprietário, porque ele está ganhando esta restauração. Se a pessoa custear esta restauração por conta ela vai pagar uns R$ 150 mil reais.

interna 3-1470858272


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.