06/12/2020

Economista faz análise sobre empregabilidade em Holambra

Ricardo Buso Por razões bastante práticas todos sabemos que a economia brasileira há algum tempo desacelera sua capacidade de gerar empregos. Como se não bastasse a perversidade da trajetória, em 2020 ainda fomos atingidos em cheio pela pandemia, que até dispensa comentários. Hoje podemos afirmar que a taxa de desemprego no país é de aproximadamente […]

Ricardo Buso

Por razões bastante práticas todos sabemos que a economia brasileira há algum tempo desacelera sua capacidade de gerar empregos. Como se não bastasse a perversidade da trajetória, em 2020 ainda fomos atingidos em cheio pela pandemia, que até dispensa comentários.

Hoje podemos afirmar que a taxa de desemprego no país é de aproximadamente 14%, mas, como assunto é amplamente repercutido, vale esclarecer a que se refere o número.

Tal famosa taxa é sempre expressa como uma proporção (percentual) sobre a chamada “PEA”, População Economicamente Ativa, que contempla cidadãos em idade de trabalho que estejam trabalhando (formal ou informalmente) ou a procura de emprego. Exclui, portanto, estudantes de tempo integral, profissionais liberais, empresários, ou mesmo quem tenha desistido de procurar por trabalho.

No Brasil, apesar de variações mensais, conforme conjuntura econômica e características regionais, podemos usar como referência que a PEA corresponde a cerca 50% da população total do país.

Esclarecido o detalhe essencial podemos nos deter à economia holambrense.

Para as cidades brasileiras de porte inferior ao das capitais de Estado, onde Holambra se encaixa, nos deparamos sempre com grande dificuldade de encontrar estatísticas atualizadas, o que nos faz recorrer às estimativas e, no caso do emprego, também ao bom e velho CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Definitivamente ele não é o melhor retrato da situação de emprego porque contempla apenas trabalho formal, aquele conhecido como “de carteira assinada”, mas é bastante preciso no que se propõe, tem divulgação mensal e transmite algum indicativo sobre tendências para outros segmentos.

Um exame detalhado do Caged nos permite extrair que em outubro de 2020 a cidade de Holambra empregava 9.121 trabalhadores no regime CLT, “de carteira assinada”, já contando que ao longo do ano, com maior gravidade no segundo trimestre, 495 postos formais de trabalho haviam sido encerrados até o período de referência.

A conta deixada em empregos perdidos no ano, que não são apenas os formais, se originou da inimaginável crise que, em razão da pandemia, conseguiu atingir simultaneamente dois motores da economia holambrense: turismo e produção de flores.

Mesmo assim, estimando a PEA (População Economicamente Ativa) da cidade em cerca de 7.250 habitantes, somente o CAGED nos demonstra que há mais empregos formais que a massa de mão-de-obra local.

Contudo, mais surpresa cabe à análise quando admitimos que, pela média nacional, os empregos formais representam apenas 1/3 das oportunidades de rendimento à população, sendo outros 2/3 preenchidos por colocações informais, profissionais liberais, trabalhadores domésticos, servidores públicos, empresários, entre outros.

Isso nos leva a evidenciar excedente gerado de vagas ainda maior em relação à PEA local, classificando Holambra entre os raros casos nacionais.

Não é possível, porém, afirmar que não há desemprego em Holambra. Muito pelo contrário, optando por um simplista modelo híbrido entre a média nacional e as particularidades locais, não encontraremos dificuldade para estimar cerca de 850 desempregados na cidade.

A divergência se encontra na mobilidade da mão-de-obra.

Por conta da inserção na Região Metropolitana de Campinas o excedente de vagas é parcialmente preenchido por moradores dos municípios vizinhos. Mas não há de que reclamar, já que moradores de Holambra também ocupam postos de trabalho na região. É o exato raciocínio metropolitano, benéfico no resultado final, pelo meu ponto de vista.

Cabe analisar que, para ser atrativo aos trabalhadores de cidades vizinhas, os postos de trabalho preenchidos pela mobilidade podem ser os de maior remuneração, que exigem maior qualificação profissional e até especialização.

É dedutível então que no investimento em qualificação profissional esteja parte da solução para garantir acesso aos holambrenses às melhores colocações de trabalho, reduzindo, de fato (não pela média), o desemprego local, cuja atenuação, indiscutivelmente, contribuirá para o desenvolvimento sustentável no município.

Em tal sentido, a articulação para instalação do campus da FAAGROH na cidade foi iniciativa certeira do governo local, justamente pela oportunidade de qualificar a população para uma atividade econômica da vocação do município. Óbvio que nem tudo se resolve, já que falamos de uma instituição de ensino particular, mas outro incentivo desenvolvimentista do governo é o programa de concessão de bolsas de estudo para alunos da instituição.

Sem dúvida mais iniciativas serão necessárias, mas o caminho está bem aberto.

Empresas desejam profissionais mais qualificados e Poder Público começa fazer sua parte para o desenvolvimento. O que falta agora? A determinação dos cidadãos em buscar qualificação para competir melhor no concorrido mercado de trabalho.

*Renato Buso é economista do CORECON/SP 29.777-1.


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