26/03/2017

Economista estuda desempenho do emprego em Holambra e sinaliza melhora

Ricardo Buso é natural de Araras (SP) e fala sobre desempenho econômica do município durante crise

Leonardo Saimon/Michael Harteman

Holambra contratou mais trabalhadores do que demitiu durante o ano passado. A variação entre o número de empregados e desempregados foi tímida, mas teve o melhor desempenho se comparado à Região Metropolitana de Campinas (RMC). A boa posição da Cidade das Flores surpreendeu o economista Ricardo Buso. Após analisar o desempenho de cada cidade da RMC, ele resolveu estudar a economia de Holambra mais a fundo.

Apesar de não ser daqui, a cidade lhe traz fortes recordações e o tornou entusiasta da região. “Foi na edição de 2003 da Expoflora que Fernanda (hoje minha esposa) aceitou namorar comigo. É uma ligação já bem estreita (risos)”, conta Buso. Como turista, já aprovou a cidade como rota contínua para seus finais de semana.

Ao Portal Holambrense, o economista conta sobre o trabalho que desenvolveu ao estudar o município, técnicas que usou para concluir o estudo e quais são suas perspectivas sobre o emprego em Holambra para os próximos meses.

IMG_2287-1489414257

Por que você escolheu estudar Holambra? Na verdade o objetivo inicial não era estudar Holambra, mas verificar o desempenho do emprego formal na Região Metropolitana de Campinas (RMC) durante o biênio 2015/2016. Porém, para se chegar a um resultado consistente não poderia simplesmente analisar o desempenho consolidado (da região toda) e publicar. Foi preciso abrir os dados de cada um dos 20 municípios e considerar suas particularidades, até que Holambra, com o segundo melhor desempenho regional, me despertou atenção, ao ponto de merecer uma análise isolada mais profunda, que rendeu o artigo.

Quanto tempo levou para que você conseguisse finalizar seu estudo? Foram cerca de noventa dias para a RMC toda porque tive apenas os finais de semana para me dedicar ao assunto. Nesse período, tratei de iniciar recuperando os dados do Caged desde janeiro de 2015, abri-los mês a mês para cada cidade e ainda segregar os dados apresentados por setor de atividade econômica. Para isso, construí uma planilha eletrônica que já calculava as variações a partir dos dados digitados e, simultaneamente, elaborava os gráficos, que é a ferramenta básica da análise.

Quais métodos você usou para construir seu artigo? O primeiro passo foi estabelecer tipo de trabalho a estudar e a fonte de dados. A opção se deu pelo emprego formal (especificamente), conforme os dados mensais divulgados pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), mantido pelo Ministério do Trabalho e Emprego. A vantagem dessa fonte é a divulgação sistemática e com pouco tempo de defasagem para todos os municípios brasileiros. De nada adianta trabalhar com os dados completos de emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que, para municípios desse porte, podem apresentar defasagem de dois anos para divulgação. Também foi necessário delimitar o período que o estudo abrangeria. A escolha do biênio 2015/2016 foi decorrente do auge da atual crise econômica brasileira. Em seguida, conforme a variação apresentada, estabeleci o número inicial de empregados que o Caged considerava em cada setor econômico no último dia útil de 2014. Com esse modelo “em pé”, foi só seguir com os saldos líquidos mensais e apurar variações por mês, por cidade e por setor econômico. Tudo isso é sempre apresentado em termos proporcionais (percentuais), tendo em vista as severas diferenças de dimensões e população de cada município da RMC. Embora trabalhamos aqui apenas com o emprego formal, o foco está na variação, que não tende a ser tão diferente do emprego total, especialmente em tempos de crise.

IMG_2259-1489414248

O que você observou nos resultados do seu trabalho? Num contexto em que o País, o Estado de São Paulo e a Região Metropolitana de Campinas (RMC) apresentaram encerramento da ordem de 7% dos postos formais de trabalho no biênio 2015/2016, qualquer resultado menos grave que esse já seria digno de comemoração. Isso porque as oportunidades de desvio dessa média estão sempre muito mais relacionadas à política macroeconômica nacional que à capacidade dos municípios. Em tais condições, o resultado positivo de 0,2% (quase estabilidade) para Holambra no mesmo período é realmente uma honrosa exceção, que demonstra uma dinâmica econômica bastante diferenciada.


Holambra mostra uma dinâmica econômica realmente diferenciada


Você esperava este resultado? Sinceramente, não. Ao trabalhar com uma perda média de 7% na região, qualquer resultado melhor (ainda que negativo) já seria bom. Imagine algum município que apresentasse perda de 3,5%, que, apesar de ruim, já seria metade da queda média da região e realmente diferenciado da maioria. Mas não mostrar perdas de emprego formal no acumulado de dois anos muito críticos da economia, em que o Produto Interno Bruto (PIB) Nacional recuou mais de 7%, não era esperado mesmo. Os holambrenses devem comemorar o resultado.

A que se deve, na sua concepção, o desempenho positivo do município? Para exibir um resultado tão acima da média, a cidade de Holambra mostra uma dinâmica econômica realmente diferenciada. Embora venha me aprofundando nos dados econômicos locais, não sou nenhum especialista da economia holambrense, mas, como demonstrei no artigo, o emprego formal na cidade tem um amparo muito robusto da Agropecuária, cerca de 47%, e foi esse setor que no país foi responsável por não deixar o cenário de emprego ainda pior. Pela grande expressividade em Holambra, entendo que ele foi o maior responsável por esse efeito benéfico. Excluindo agropecuária, é importante destacar que os três grandes setores, Indústria, Comércio e Serviços, detêm uma participação bem equilibrada na matriz de emprego formal, o que ajuda a diluir riscos.

IMG_2266-1489414252

Você identificou que a Agricultura também contribuiu para este desempenho. A agricultura já conseguiu no país todo atenuar os impactos da crise em emprego. Como em Holambra o predomínio desse segmento é notório, ele se potencializou. É preciso ainda considerar que a agricultura de Holambra entrega um produto diferenciado, com valor agregado, e que caracteriza a cidade como polo nacional produção de flores. Tal particularidade consegue uma proveitosa sinergia entre agricultura e turismo, que é bastante significativa para a cidade. Exemplo maior (que não é único) disso é o sucesso da Expoflora, há tantos anos sustentado.


Os holambrenses devem comemorar o resultado


Em um dos gráficos você apontou que o emprego formal em Holambra em relação à população economicamente ativa (PEA) resultou em uma porcentagem no valor de 103%. O que isso significa?  Esse é o ponto mais delicado do artigo, que merece uma atenção especial. No âmbito nacional a taxa de desemprego é sempre expressa sob a forma de proporção (%) sobre a PEA (População Economicamente Ativa), que representa o total estimado de empregados do país mais o total de desempregados, aptos a trabalhar e que estejam, de fato, procurando emprego. Por esse raciocínio, com base em dados nacionais do emprego total do mês de janeiro, apurei que a PEA do Brasil representa cerca de 49% da população total. Como não temos esse dado da PEA por município da RMC, atribui a todos eles uma simulação de PEA também de 49% da população, tal qual a do Brasil. Dessa forma, conclui que, somente com os trabalhadores formais (registrados), a taxa de emprego em Holambra é de 103% da PEA. Se conseguíssemos estimar as demais categorias de emprego seria ainda muito maior. Mas não pretendo insinuar que não exista desemprego entre os holambrenses. Ocorre que o total de vagas de emprego formal na cidade de Holambra é preenchido também por trabalhadores que residem em outros municípios da região. Num segundo exercício, partindo do pressuposto que o Veilling Holambra, que tem sua história ligada a cidade, mas precisou se mudar para a vizinha Santo Antonio da Posse, transferi hipoteticamente o total estimado de trabalhadores do Veilling para os números de Holambra, e o resultado foi uma taxa de emprego de 108% da PEA, a segunda melhor da RMC.

Como você vê o futuro econômico de Holambra a partir da geração de emprego? Um município que gerou empregos em plena crise econômica mais aguda do país, quando a grande maioria desemprega, me parece estar com um futuro econômico razoavelmente pavimentado. Todavia, em 2017 a agricultura não deve contribuir de forma tão exuberante em relação aos demais setores, quanto nos dois últimos anos. E isso atinge Holambra. Mas é importante lembrar que a agricultura de Holambra não se confunde com a predominante do país, marcada pelas tradicionais commodities agrícolas. É diferenciada pela capacidade de agregar valor. Enquanto isso, a partir do segundo semestre, devemos assistir a uma recuperação de outros importantes setores, como indústria, serviços e comércio, que funciona como um “termômetro” da atividade local. Para adiantar um pouco, já comecei a estudar os impactos de emprego em Holambra do ano de 2017 e no mês de janeiro a cidade figurou com o melhor resultado da RMC, com crescimento de 1,3%. Falando de um futuro mais abrangente, entendo que a cidade precisa tratar geração de emprego não como objetivo, mas como consequência. O objetivo precisa ser o desenvolvimento, que tem como consequência natural a geração de emprego. É mais sustentável!

IMG_2284-1489414255

O que mais te chamou atenção nos resultados de Holambra? O maior destaque para mim é o peso da Agropecuária na matriz de emprego formal. Enquanto muitos municípios insistem na visão limitada de que o desenvolvimento se dá apenas pela atração de grandes indústrias, Holambra se agarrou a sua vocação agrícola, que é motivo de orgulho no país, e colhe os frutos desse aposta segura. Também chama atenção o equilibro da proporção ante os demais segmentos econômicos na matriz de emprego formal, que, como disse, ajuda a diluir riscos.


Continuarei estudando o emprego formal em Holambra


Quais os impactos deste resultado para a cidade?  Uma cidade isolada do profundo abalo de empregos do período consegue transmitir estabilidade e segurança. Com a atividade econômica menos impactada é possível que o choque de receitas fiscais do município (que deve acontecer) em tempos de crise seja menos intenso que em outras cidades. Tal segurança, se adequadamente propagada, pode atrair investimentos produtivos, ativando um potencial ciclo desenvolvimentista. Por outro lado, considero importante uma atenção maior à questão da contratação de trabalhadores das cidades vizinhas, que identificamos no exercício do Emprego como proporção da PEA. Talvez capacitar a mão-de-obra local seja um indutor do desenvolvimento.

Você pretende continuar estudando o emprego formal em Holambra? Certamente continuarei estudando o emprego formal em Holambra. Mas gostaria de me aprofundar também em outros aspectos da economia local. Para um economista é muito estimulante conhecer o rico desenvolvimento de um município tão jovem, que lá em 1948 nasceu da determinação de imigrantes que encararam a diversidade cultural e iniciaram a instalação de tudo isso. Já pelo lado pessoal, me considero um entusiasta dessa cidade acolhedora, que há tantos anos frequento como turista. Diga-se de passagem, foi na edição de 2003 da Expoflora que Fernanda (hoje minha esposa) aceitou namorar comigo. É uma ligação já bem estreita.

……………………………………..

Tem uma sugestão de entrevista? Clique aqui e envie para o Portal Holambrense.


Comentários

Não nos responsabilizamos pelos comentários feitos por nossos visitantes, sendo certo que as opiniões aqui prestadas não representam a opinião do Grupo Bússulo Comunicação Ltda.