Duas crianças e um sonho

Para o feriado de 12 de outubro, quando se comemora o Dia das Crianças, que tal assistir a um filme indiano? Pode parecer pouco conveniente, afinal, nós estamos sempre acostumados com filmes norte-americanos ou, no máximo, algum longa-metragem europeu, mas ‘Dhanak’ é um daqueles filmes que vão fazer você se apaixonar do começo ao fim pela história.

Ao longo de toda a narrativa, conhecemos um pouco da cultura indiana, através das músicas, danças típicas e, até mesmo, os tipos de moradias e alimentação. Conhecemos a beleza exuberante do deserto, as vibrantes cores das vestimentas femininas e o incrível amor entre irmãos. Ganhador de prêmios importantes em festivais, ‘Dhanak’ contará a respeito de uma grande aventura entre dois irmãos por uma das regiões da Índia, tudo porque acreditam em um sonho.

Pari é uma menina muito esforçada e preocupada com o bem-estar de seu irmão mais novo, Chotu. Órfãos de pai e mãe, vivem com os tios paternos, os quais têm uma vida difícil. Chotu é cego e exige cuidados constantes, principalmente de sua irmã Pari. Mas nem sempre foi assim. O menino perdeu a visão após se mudar para a casa dos tios e ter acesso à pouca alimentação. A partir dos quatro anos de idade, ele foi perdendo gradativamente sua visão e apenas uma cirurgia, muito cara, poderia fazer Chotu enxergar outra vez.

Todos os dias vão juntos para a escola e antes de iniciarem a longa caminhada, jogam uma moeda (como se fosse o nosso “cara e coroa”) para ver quem vai contando uma nova história sobre o super-herói preferido de cada um. Pari sempre consegue encontrar romances em suas narrativas e, ao contrário dela, Chotu sempre tenta “encaixar” aventura e muita ação em suas histórias. Um não consegue viver sem o outro, não porque Chotu dependa de sua irmã para chegar aos lugares ou entender as matérias escolares, mas porque eles se amam e desfrutam de um único sonho.

São crianças, mas sabem que a coisa mais importante da vida seja, talvez, apenas poder enxergar o pôr do sol, ou rolar pelos areais do deserto. Chotu, em um momento do filme, é chamado de ‘menininha” porque está sempre segurando a mão de sua irmã, uma vez que precisa ser guiado pelo longo caminho da casa até a escola e vice-versa. Porém, para ele, isso não é motivo de vergonha, pelo contrário, Chotu tem medo de nunca mais poder segurar a mão de sua irmã, a pessoa que mais ama no mundo.

Pari decide então iniciar uma aventura com seu irmão e, então, fogem de casa com destino à uma região onde o grande herói de Pari, um ator de filmes indianos, estará gravando cenas de seu próximo trabalho. A ideia toda pode parecer maluca, mas Pari viu um cartaz colado perto do cinema de sua cidade, no qual aparecia o seu ator preferido dizendo ser o homem que poderia doar olhos. Ingenuamente, ela transforma a ficção em uma chance de concretizar sua promessa de devolver a visão a seu irmão.

Ao longo da grande aventura, conhecem todos os tipos de pessoas e participam de festas grandes. Com a delicadeza infantil, “aquecem” o coração de pessoas que convivem com a solidão e acabam também enfrentando perigos, mas nunca perdem o que poderíamos chamar de determinação, vontade de encontrar o herói em quem acreditam e realizar o único sonho que têm.

A trilha sonora é belíssima e muito tocante. Além disso, percebemos que o verdadeiro herói, na verdade, foi uma menina, a Pari. Ela não apenas lutou por sua promessa, mas por seu irmão também. Se a gente pode aprender algo com as crianças é como a ingenuidade de cada uma pode mudar um pouco o coração do outro, assim como elas são corajosas e acreditam que os sonhos mais malucos podem ser realidade.

Já ouviu falar que “a gente aprende mais com a criança do que ela com a gente”? Pois é, essa frase pode ser totalmente correta. Pelo menos, é uma grande lição que vamos levar do filme ‘Dhanak’.

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Verônica Lazzeroni Del Cet é estudante de Letras na Unicamp