19/06/2016

Diretor da Hortitec fala sobre o evento em Holambra e do agronegócio nacional

Em entrevista ao Portal Holambrense, Renato Opitz comenta sobre como segmento tem reagido diante da crise política e econômica que o país assiste.

 

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Durante a próxima semana, Holambra sediará a 23° Exposição Técnica de Horticultura, Cultivo Protegido e Culturas Intensivas (Hortitec), dos dias 22 a 24, no Pavilhão de Exposições da Expoflora. A feira é considerada o maior evento do setor em toda a América Latina e espera reunir 28 mil visitantes este ano. O evento surgiu do ideal de um grupo de empresários, que sentia a necessidade de ter no Brasil um evento nos moldes das principais exposições no exterior, onde os participantes pudessem ter contato com empresas expositoras, conhecendo as necessidades do setor e realizando negócios.

Com o passar dos anos, a Hortitec ampliou a sua atuação e passou a contar com expositores dos setores de horticultura e fruticultura. Em 2015, em sua 22ª edição, participaram aproximadamente 460 empresas e mais de 28.427 visitantes. O espaço também proporciona parceria com universidades e escolas técnicas e dá oportunidades aos estudantes de exporem trabalhos e ideias durante o encontro. Para falar sobre o sucesso e consolidação do evento nos últimos anos, o Portal Holambrense entrevistou o idealizador e diretor da Hortitec, Renato Optiz.

Na ocasião, o engenheiro Agrônomo explicou o papel que Holambra exerce em receber esta feira e reforça que a cidade é referência em tecnologias no setor. “Embora o setor de flores seja muito menor do que verduras e frutas ele foi o que alavancou essa tecnologia”, frisa. Além disso, Optiz aborda temas polêmicos como o uso do agrotóxicos e como o segmento tem reagido diante da crise política e econômica que o país assiste. Segundo o Ministério da Agricultura as vendas externas do agronegócio cresceram 7,4% até maio deste ano.

Quais são as novidades que os agricultores e empresários podem esperar na edição de 2016? A Hortitec hoje é o principal evento da área em toda América Latina. Então o que acontece, a Hortitec que começou na parte só de flores e plantas ornamentais, ao longo dos anos foi-se aumentando a sua abrangência e hoje ela atrai, não só os produtores aqui de Holambra, mas produtores de todo o Brasil e muitos até do exterior. Produtores de verduras, legumes, frutas e todos os outros segmentos. Esse pessoal vem atrás de novidades para produção. Então, todo ano uma série de novidades, desde novas variedades mais produtivas de tomate, do pimentão, ou novidades para começar a produzir no inverno ou no verão, na primavera, na região sul, na região norte ou nordeste. E que é fundamental para o público consumidor acabar com esse problema de desabastecimento. E os produtores acabam produzindo mais em estufa, então por exemplo, vamos pegar um caso real de hoje, com esse frio das últimas semanas, se você vai no Ceasa, praticamente você está achando pouca verdura e legumes porque muita coisa se perdeu com a geada. Então se você produz na estufa ai você consegue controlar a temperatura. Então, não existe um destaque específico para uma novidade grande, o que tem muito são mais de 400 empresas expositoras e cada uma delas traz para o produtor alguma novidade, alguma variedade nova, alguma estufa diferente, algum adubo, embalagem, inofensivos.

Você comentou de expositores internacionais … Isso, exatamente! Por exemplo, a Holanda é o principal país em termos de produção em novas tecnologias de estufas e de Israel vem muitas técnicas novas na parte de irrigação, então ai você junta isso. São países que são líderes no mundo nessas tecnologias. E eles fazem parcerias com empresas do Brasil, de Holambra e região e procuram desenvolver novos produtos para o mercado brasileiro.

Como são definidas as empresas que atuam na exposição? Basicamente há um trabalho que já tem 23 anos então há toda um know-how. Primeiro precisa ser uma empresa séria, segundo lugar uma empresa que tenha algum produto ou serviço interessante para o mercado. A gente hoje tem até uma fila de espera de empresas que querem entrar na Hortitec. Não adianta eu ter várias e novas empresas de um mesmo produto que já tem. Um dos critérios que a gente usou este ano foram esses sistemas alternativos de energia, empresas que desse possibilidades para que o produtor gaste menos energia. Ano passado e ano retrasado quando teve a crise hídrica, a gente procurou expositores que tinham sistema de irrigação que trouxesse algum tipo de economia no uso de água para evitar desperdício. As novidades se adequam a realidade do Brasil.

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Como que surgiu a ideia da exposição que atualmente tem porte internacional? Há mais de vinte anos, porque pra você ter uma ideia essas exposições já existem no exterior, nos Estados Unidos, na Europa. Já os produtores aqui de Holambra, muitos têm ascendência holandesa, então já vem com esse know-how. Mas no Brasil não tinha nada, então pensamos em começar a fazer alguma coisa. Não foi nem uma baita reunião, foi mais uma conversa de mesa de bar assim. Foi então que um grupo de pessoas se juntou e nem foi aquela ideia de fazer um plano de negócio, mas a coisa foi crescendo e desenvolvendo e depois ao longo do tempo se criou uma empresa que faz toda essa organização.

Porque Holambra foi escolhida para sediar este evento? Qual o papel que a cidade desempenha ao receber esta feira? Holambra é referência em termos de tecnologia e o que acontece é que o principal polo é esse vínculo dos holandeses. A Holanda é o principal centro internacional de produção, comercialização de flores, frutas e verduras. Então Holambra já tem essa fama há muitos e muitos anos. E ai o que aconteceu foram justamente os holandeses que vieram pra cá produzir flores, eles tinham todo esse contato com a tecnologia e o setor de flores, embora ele seja muito menor do que verduras e frutas ele foi o que alavancou essa tecnologia. A primeira produção em estufa e padronização das técnicas de pós colheitas, vieram do cultivo de flores. Embalagens e ai as outras culturas vieram atrás disso justamente para poder abastecer o mercado.

No ano passado, por exemplo, a feira bateu recorde de visitantes com cerca de 28 mil pessoas. Ao que você atribui os sucessos quem tem sido as edições anteriores? A Hortitec está sempre, cada vez mais profissional. Evoluindo, modernizando, trazendo novidades, trazendo expositores mais interessantes, Holambra é conhecida pelo seu profissionalismo, pela sua competência, fazendo a coisa bem feita e investindo em boas instalações, como este recinto da Expoflora. É uma somatória, sempre ter cursos palestras interessantes, tudo isso acaba agregando e fortalecendo.

Quais os impactos positivos que Holambra recebe ao sediar a Hortitec? Em primeiro lugar, há uma divulgação positiva do lugar, que inclusive já está sendo feito há duas semanas. Num cenário onde você liga a televisão, acessa a internet, redes sociais e você ouve falar ou de crise, tanto política como econômica, ou se está falando de violência, de assalto, estupro, ou até mesmo atentados como este que a gente acabou de ver em Orlando (EUA). Então você vê uma tendência de divulgação de fatores negativos, mas nesse meio tempo Holambra entra, quase sempre, com notícias positivas. Você atrela negócio, sucesso e beleza. Além de tudo isso, você atrai uma série de novos investidores para a cidade.

O diretor comentou sobre as crises vivenciadas pelo país. Como você avalia os impactos da situação política e econômica neste setor? Afeta de uma maneira geral, se toda a economia cai, com certeza o poder aquisitivo das pessoas diminui, e elas compram menos. Na verdade, acaba afetando menos Holambra do que outras regiões porque Holambra como tem, não só produção de ótima qualidade como tem um esquema de comercialização com as cooperativas daqui, empresas que estão a frente. Então, sempre em época de crise, todo mundo pensa como é possível economizar e ao vir a Holambra é mais fácil de se conseguir tecnologias em baixo custo. Aqui tem todo um mix de produto grande para o atacadista, ele vem num lugar só, em um curto espaço, sempre consegue reduzir.

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Quais são as expectativas para a edição deste ano? As expetativas são muitos boas. Claro que todo mundo está sabendo que, principalmente por conta da crise política que interfere na situação, que reflete na crise econômica, está todo mundo talvez em compasso de espera, mas por outro lado, o produto de flores em geral ele é muito arrojado, ele gosta de investir, gosta de ter novidades. Então sempre quando um evento desses traz uma série de novidades em termos de produtos e serviços, é uma injeção de ânimo.

A gente percebe que a Hortitec tem uma representativade tão forte quanto a própria Expoflora. Há parceria entre os dois eventos? Sim sim, a gente faz muita coisa em conjunto, embora sejam empresas diferentes. Por exemplo, os investimentos que são feitos no recinto são, muitas vezes, em parceria e a gente também procura trabalhar com diversos parceiros na área de limpeza, segurança, transporte. A gente faz parcerias com a rede hoteleira, hospedagem. Os nossos parceiros na área da alimentação, os restaurantes, também são os mesmo. Então isso na verdade ajuda a movimentar todo o comércio.

Agrotóxicos tem sido um assunto amplamente discutido nos últimos anos no campo do Agronegócio. Como você avalia este tema? Eu acho que é uma tendência natural que vem acontecendo nos últimos anos, de se usar cada vez menos defensivos agrícolas. E não só usar menos, como usar melhor. Há cerca de 25 anos atrás, usava-se muito mais e de classe toxológica muito maior. O que acontecia, você andava pela cidade, e não se via pássaros, animais porque existiam aquelas pulverização que matavam tudo.  E ao longo dos anos tem se usado menos defensivos e com classes toxilógicas muito mais baixas. E também o fato de você produzir dentro de estufa, a própria estufa é uma barreira física para o inseto entrar então você não precisa pulverizar tanto. E este ano mais duas empresas estão trazendo tecnologias de inimigos naturais que é quando você combate a praga com o próprio predador desse bicho.

As vendas externas do agronegócio cresceram 7,4% até maio deste ano, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e superaram inclusive as importações. Como você avalia este desempenho brasileiro no cenário internacional? Essa porcentagem é até baixa porque muito disso tem a ver com câmbio, tanto hoje como quando era comparado há um ou dois anos atrás que facilita muito a exportação. Outro ponto é que até pouco tempo atrás o mercado interno era muito interessante. O cara não queria exportar, agora que o mercado interno caiu, o produtor tem que se virar, tem que exportar Então esse número é baixo, deveria e poderia ser bem maior. Ai o Brasil tem um vasto campo para melhorar porque há uma burocracia brasileira muito grande, tudo no que em outros países é muito mais rápido.  Com pequenos ajustes dá para avançar muito.

Como o agronegócio brasileiro é visto no exterior? Depende muito do produto. Em alguns setores como soja, milho, café, algodão, frango o Brasil está entre os principais como os Estados Unidos ou a China. Mas especificamente no setor nosso aqui, flores frutas e verduras, o país ainda é muito pequeno. Menos de 2% da produção nacional de flores é exportada, é quase tudo mercado interno, frutas e verduras é um pouco mais, mas não muito. Qual é o nosso principal problema dentro desse setor: são produtos perecíveis. Diferente dos produtos citados acima como a soja que você prepara, embala e pode estocar por meses, uma flor que é colhida hoje, se ela amanhã ou depois de amanhã no máximo não chegar no ponto de venda, esqueça.

Como você vê a Hortitec daqui há dez anos? Olha, a Hortitec, na verdade, tem uma característica interessante.  Nós, da empresa, somos muito profissionais e a gente não é de dar grandes pulos, grandes saltos. A gente pensa em crescer, crescer lentamente, mas constantemente e fortemente para cada vez se profissionalizar. Então não quero dar esse super passo, queremos permanecer forte, com um bom trabalho. Acredito que daqui há mais um tempo a Hortitec vai, não necessariamente crescer muito, mas ela vai se estruturar e ficar cada vez melhor.

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