13/08/2017

Coordenador do grupo Amor Exigente incentiva voluntariado em Holambra

Romeu Rodrigues Junior convida comunidade a se envolver em trabalhos sociais com adictos

Da redação

Com mais de 30 anos de existência, o ‘Amor Exigente’ surgiu com a iniciativa do padre Haroldo, de Campinas (SP). Assim, o pioneiro implantou a primeira unidade terapêutica no Brasil. O sucesso do projeto ocasionou na adesão de diversos voluntários de distintos municípios, como Holambra.

Iniciado em fevereiro de 2016, o programa tem como plano principal dar suporte às famílias de dependentes de drogas (adicto), ao próprio adicto e, também, desenvolver um trabalho de prevenção na comunidade.

Para falar sobre o assunto, o Portal Holambrense entrevistou o coordenador do ‘Amor Exigente’, Romeu Rodrigues Junior, que conta sobre os desafios do trabalho e, também, dos resultados do programa.

Leia a entrevista na íntegra:

Qual a origem do programa Amor Exigente e como ele chegou à Holambra? Em 2014, o coordenador da pastoral da criança – Valter Hulsor – daqui da cidade realizou algumas reuniões que mobilizaram as entidades nas questões das drogas. E no final desses encontros, encaminhamos documentos para a prefeitura, para que nossas ideias fossem colocadas em prática. Dentre muitas coisas que discutimos, surgiu a ideia e a oportunidade de implantar, em Holambra, o ‘Amor Exigente’. Minha mãe tem contatos com o pessoal do projeto em Mogi Guaçu (SP) e, através dela, consegui o telefone dos voluntários de Mogi Mirim (SP) e essa equipe veio à Holambra para realizar treinamento e capacitação. Assim, começamos em fevereiro de 2016 os trabalhos. A casa de apoio acabou sendo um espaço que coube bem a questão do ‘Amor Exigente’.

Qual a finalidade do programa e quantas pessoas são atendidas hoje no município? Trabalhamos com três grupos de pessoas: a família do adicto, o próprio adicto e trabalhamos com a prevenção da comunidade. O ‘Amor Exigente’ é um projeto de auto e de mútua ajuda. Temos dentro de nossas reuniões um primeiro momento de apresentações; nele explicamos o que é o programa. Já em seguida, realizamos um momento espiritual, porém não temos ligação com nenhuma igreja específica. Há voluntários evangélicos, espíritas, católicos e, da mesma maneira, os participantes também podem ter diferentes crenças. Valorizamos a questão da espiritualidade, porque isso na recuperação do dependente é essencial. Posteriormente, vamos à questão do princípio. Há um livro onde encontramos 12 princípios básicos, entre assuntos éticos, de sigilo e espirituais. Nos guiamos através disso para instruir pessoas à novas condutas. A cada mês falamos de um princípio, mas para cada grupo há uma abordagem diferente do mesmo tema. Estamos atendendo em torno de 20 pessoas no momento.

É a favor da internação compulsória? Sou à favor da internação compulsória se a pessoa apresentar perigo para si ou para a sociedade e família. Apenas quando o indivíduo não consegue tomar decisões sozinho é necessária tal medida. Mas creio que a internação advinda da vontade do adicto tem maiores chances de trazer resultados positivos.


“Valorizamos a pluralidade espiritual”


Em maioria, quais as principais motivações que levam ao vício e são relatadas nas reuniões, e qual o fator que mais colabora para o dependente se libertar desse quadro? O problema começa nas raízes culturais. A bebida, por exemplo, é uma droga lícita, então a sociedade encara com mais naturalidade. Lembro quando meu pai bebia whisky e me dava o restinho que ficava no copo; eu tinha quatro anos, na época. Há pais que querem fumar cigarro e pedem para o filho acender. É por causa do contexto e do que as famílias vão passando que surgem os problemas com vício. Crianças em certos ambientes com bebidas e outras substâncias, violência doméstica, falta de diálogo entre familiares, tudo isso contribui; tudo isso são raízes culturais que permanecem ao longo do crescimento de um indivíduo. Esses traumas vão se acumulando e gerando baixa autoestima, o que é revertido no uso de drogas. Ao ir à escola, crianças encontram amigos na mesma circunstância, e acaba por virar uma cadeia de mesma vivência. Aí que pode começar o uso constante e, posterior, vício químico.

Quais os maiores dramas vivenciados por famílias de adictos? O último a perceber é o adicto, geralmente quando já está bem debilitado. Há quem fique sem tomar banho, sem fazer a barba, cortar o cabelo, trocar de roupa…Até chegar a esse ponto demora-se anos, mas a família percebe o impacto no início. A mudança de comportamento da pessoa em casa é notada, porém o motivo nem sempre é sabido no começo. Na minha experiência com meu irmão, apenas após 11 anos soubemos que havia problemas com droga em casa. A família é a que mais sofre inicialmente

Qual o caso que te marcou mais? Acompanhei um caso por alguns anos. Uma mãe desesperada com sua filha morando na cracolândia, pedindo ajuda. Conseguimos fazer a internação dessa mulher, que permaneceu apenas dois dias na clínica. Ao sair, voltou para a cracolândia, ficou grávida e mesmo assim permaneceu no vício. Medidas foram tomadas para que a criança não ficasse com a mãe que continua nas ruas até hoje nessas condições. A família se dispõe a ajudar, mas infelizmente ela não aceita auxílio. Nesse caso, acredito que seja correta a internação compulsória, sou à favor.

Qual o melhor caminho para a reestruturação do indivíduo e da família? Talvez o maior problema seja o preconceito. Então se rotula a pessoa como drogada, irresponsável, perdido; e às vezes esse rótulo permanece no ambiente familiar e na sociedade de forma mais evidente. A própria estrutura social não está preparada para tal aceitação. Há iniciativas mas a demanda é muito grande. O ‘Amor Exigente’ é um caminho, com ajuda de clínicas, casas de apoio… O sucesso se dá também pelas empresas que abrem as portas para contratar esses jovens. Além disso, não adianta o adicto ir às reuniões e não ter apoio da família e de uma crença. Tudo isso irá auxiliar para o cidadão se reerguer e andar sozinho de forma reestruturada.


“Sou à favor da internação compulsória se a pessoa apresentar perigo para si”


Qualquer um pode ser um voluntário do ‘Amor Exigente’? Sim, não há limite de idade, não tem critério de formação também. Fazemos um treinamento de doze semanas com o voluntário. As pessoas de todos os sexos podem ajudar seja na organização ou no acompanhamento mais próximo do adicto e das famílias.

Qual o maior desafio enfrentado pelo programa? A primeira dificuldade vem da própria família, em se expor. Geralmente, as pessoas querem esconder o problema e resolver de forma velada, por isso que prezamos tanto pelo sigilo dos participantes. A segunda dificuldade é com relação ao voluntariado. São poucos os que se dispõem a servir o outro sem receber remuneração. Começamos com 12 voluntários e, agora, temos cinco. Quem deseja participar, fique à vontade! Nossas reuniões ocorrem às segundas-feiras das 20h às 22h na Casa de Apoio, localizada no Jardim Holambra.

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