25/06/2017

Chefe do Departamento de Cultura assegura novidades para Holambra

Carina Betlin elenca papel que a pasta desempenha e garante: “Cultura não é só evento”

Leonardo Saimon

Carina Bentlin é jornalista, mas seu currículo ostenta uma vasta experiência cultural. A atual chefe do Departamento de Cultura possui extensão em Gestão Social, pós graduação pela Universidade Girona – que é uma universidade espanhola – em Políticas Culturais, foi bolsista pela Unesco, pelo Comitê Internacional de Documentação Museológica (Cidoc), e tem formação em Documentação Museológica. Carina foi secretária de Cultura em Cosmópolis (SP) e foi convidada para trabalhar em Holambra este ano. A jovem garante que os holambrenses podem esperar muitas novidades e, em entrevista ao Portal Holambrense, ela adianta algumas.

Desde abril, Carina tem sido responsável por trazer diversas opções culturais, dentre elas, o concerto com o maestro João Carlos Martins, que ocorreu na última quinta-feira (22).

“A gente está trabalhando em algumas vertentes agora que vai ser a formação cultural, a participação cultural, e trazer algumas inovações na área da cultura. Alguns eventos mais abrangentes para contemplar os vários setores da arte”, garante a jornalista.

Carina também discorre sobre o papel social da Cultura e reforça a amplitude que este elemento carrega. Quanto a Holambra, ela retoma as discussões sobre o Conselho de Cultura, a situação do Teatro Municipal e o tombamento de prédios históricos do município. Por fim, ela reafirma o que os holambrenses podem esperar do departamento para os próximos meses.

Confira a entrevista na íntegra: 

Carina Betlin 2-1498242949

Carina, como a gente deve entender o conceito de Cultura? A Cultura, dentro do poder público, é um pilar para o desenvolvimento de uma cidade também. A Cultura é muito mais do que um entretenimento ou um evento. A Cultura tem que ser entendida como uma possibilidade de formação profissional, formação cultural… Afinal de contas, todos os setores da Cultura são artistas, são profissionais. E a Cultura também gera renda para a cidade. Então, a Cultura é o pilar para o desenvolvimento. Por que que eu falo que Cultura não é só evento? O evento ele é bacana, mas quando ele acaba o próprio nome já diz: evento ‘É vento’. Acabou! A Cultura deve ser entendida de uma maneira geral como um pilar de formação, de desenvolvimento, para aumentar a qualidade de vida das pessoas, para aumentar o bem-estar das pessoas em relação a cidade e para que fique um legado para cidade, no ponto de vista do desenvolvimento, de formação cultural e para as pessoas que se beneficiam disto.

Você comentou que Cultura gera renda. De que forma? Por exemplo, se você vai a um espetáculo – só para dar exemplo da cadeia produtiva – tem o prestador de serviço do som, de iluminação, o ator que tem o seu cachê, o grupo de teatro. Isso já gera renda para diversos profissionais. Isso é uma parte. Outra parte, por exemplo, eu sou o público e estou indo assistir a uma peça teatral, eu vou, compro meu bilhete, entro, assisto o espetáculo, saio, vou comer alguma coisa, enfim, em linhas gerais, existe toda uma cadeia produtiva de um espetáculo. No campo da formação cultural, é um professor, é um oficineiro cultural que está dando aula, que está ganhando seu salário e gera renda porque ele vai consumir.

Qual o papel do poder público na Cultura? Quando se fala em Cultura é necessário sempre ampliar e não só pensar na esfera pública. Porque o poder público não produz Cultura, quem produz são os artistas. A atribuição do poder público é criar condições e políticas públicas para que a Cultura aconteça no município, para que os artistas tenham espaço, para que haja formação de público, para que a população sinta interessada em assistir um espetáculo. Então, o papel do poder público em todas as esferas é criar terreno fértil para que a Cultura se fortaleça, se desenvolva, apareça.


“O poder público não produz Cultura, quem produz são os artistas”


Carina Betlin 4-1498242984

Quais os impactos culturais na sociedade? Eu costumo dizer que a Cultura tem o papel principal de ampliar as esferas do ser. Ou seja, se eu tenho uma formação cultural, assim como de educação, mas a Cultura aprimora um pouquinho mais, eu mudo meu olhar, eu mudo minha forma de agir, minha forma de trabalhar; eu me formo como cidadão. A Cultura, às vezes, parece simbólica demais e ela é. A gente brinca ao dizer que o médico cuida do físico, a Cultura cuida da alma das pessoas. Então, ela tem esse papel simbólico mesmo. Talvez, por isso, as pessoas tenham dificuldades em entender a amplidão dela porque a Cultura é imaterial. A gente não pode reduzir a Cultura a um produto final, a Cultura permeia todas as áreas por meio dessa capacidade de ampliar a sensibilidade das pessoas.

Como começou se envolvimento com a Cultura? Eu sou formada em Jornalismo, mas antes do Jornalismo, eu já atuava na área cultural. Tenho uns dez anos de trabalho na Cultura. Além disso, eu sempre trabalhei em projetos sociais. Tenho extensão em Gestão Social, pós-graduação pela Universidade Girona – que é uma universidade espanhola – em Políticas Culturais. E fui bolsista pela Unesco, pelo departamento que se chama Cidoc – Comitê Internacional de Documentação Museológica. Então, tenho formação em Documentação Museológica. E faço mestrado em memórias. Tudo isso é fruto da minha atuação há mais de dez anos na área cultural. Fiquei seis anos em Cosmópolis (SP), onde fui secretária de Cultura até março desta ano. Recebi o convite de Holambra e quis experimentar um outro perfil de cidade e comecei em abril.

O que você percebeu de diferente ao assumir Holambra? O interessante de Holambra é que, além da atuação do poder público, você vê muitas iniciativas dos moradores em relação à Cultura. Acho que é uma vocação da cidade. Holambra tem desde o início uma tradição de cooperativa. Isso acaba se tornando nítido em outras relações. Por exemplo, você tem o ‘Piquenique Literário’, que é organizado por um grupo de pessoas, você tem uma série de eventos na cidade que o poder público só dá o apoio, mas é feito pelos moradores; temos o ‘Clube’ com sua programação própria, o ‘Instituto Dança Viva’, com programação própria, o ‘Ecoa’ que também foi um evento muito legal, feito por algumas pessoas. Nesse ponto de vista, Holambra é muito desenvolvida. Eu falo isso com um olhar de fora. Eu já passei por várias cidades muito maiores, com bastante equipamentos culturais, que não tem isso. Isso é um tesouro porque é tão difícil fazer as pessoas participarem da vida da comunidade, e isso é natural em Holambra, que vem da iniciativa dessas pessoas. Isso é um sonho de qualquer gestor de Cultura porque o intuito é fazer com que pessoas produzam Cultura.


“O médico cuida do físico, a cultura cuida da alma”


Carina Betlin 1-1498243006

Existe alguma peculiaridade da relação entre os holambrenses com a Cultura? De uma forma geral, Holambra, por ter essa vocação turística, contribui muito para a Cultura. Primeiro porque você tem pessoas que se sentem estimuladas a visitar à cidade. Além disso, os moradores têm uma autoestima interessante em relação ao município. As pessoas gostam de dizer que moram aqui. Eu percebo isso na fala em geral. As pessoas gostam de Holambra, então, isso é muito importante para a Cultura. Porque, se o cidadão não gosta da cidade onde ele vive, ele não sente vontade de ir a um espetáculo, por exemplo; ele não sente vontade de participar da vida cultural da cidade. Isso é muito positivo e Holambra é um terreno muito fértil para a Cultura. Enfim, Holambra é o que é por conta de sua Cultura, de sua história, de sua memória. Essa raiz é uma raiz cultural que respingou na parte econômica.

O que a pasta de Cultura tem desenvolvido em Holambra? Algo que a gente trouxe foram projetos do ProAc que não geram custo algum para o município. A gente conseguiu aumentar a quantidade de ações culturais, sem custo. O que traz uma economia ao município e variedade de atrações. Quatro dias de circo sem custo algum. Concerto com o maestro João Carlos Martins sem custo algum. A gente dá todo o apoio, estrutura e funcionários. Vou tentando articular por meio da minha rede de contatos. Em Cosmópolis (SP), oitenta por cento da programação enquanto eu estava lá, era dessa maneira. Articulando com contatos, grupos artísticos sem custo ao município. É uma tarefa árdua, mas a gente consegue trazer.

E que situação se encontra o teatro de Holambra? Existe uma emenda parlamentar para equipar o teatro, que é o que está faltando. Quanto a isso, a gente conseguiu dar uma boa adiantada. A gente contratou um técnico de teatro para fazer todo o projeto de som, de iluminação, a acústica. Porque tem que ser um cara do teatro, tem que ser específico para que a estrutura fique boa. E ele está terminando de fazer esse projeto, compra dos materiais, licitação, instalação, até tudo ficar pronto. Então, assim, ele está na fase de compra dos equipamentos. Está fechado lá, porque falta a parte interna. O importante é que vai sair e vai ficar bem legal porque o rapaz que está fazendo o desenho técnico da iluminação, faz vários teatros na região.


“Holambra é um terreno muito fértil para a Cultura”


Carina Betlin 3-1498243025

Carina, alguns parlamentares cobram o tombamento de prédios históricos. Há alguma coisa sendo feita pelo departamento nesse sentido? Dentro do Conselho, vai existir uma pasta de Patrimônio Histórico. Então, essa questão do tombamento vai poder ser levada para o Conselho. Digamos que o primeiro passo já foi dado de que, até o final do ano, a gente institua o Conselho para começar operar no ano que vem. Só um dado técnico, que é um pouco minha área também, falando como profissional, o pessoal confunde muito tombamento e você pode até conferir no site do Condefat – Conselho Nacional de Patrimônio. Existe tombamento estadual, federal e isso foi até uma informação de um especialista em tombamento. Esses imóveis que esse parlamentar citou nem precisa passar por um processo de tombamento do Estado. Porque o Estado só tomba patrimônio que tenha relevância histórica e cultural para o Estado. Como é algo local, um simples Projeto de Lei, denominando o valor patrimonial, já protege. O tombamento não é o único instrumento de preservação de um prédio, mas tem coisas mais simples que protegem. Tendo a pasta do Patrimônio Histórico, Cultural já resolve essa discussão.

O que Holambra pode esperar da Cultura nos próximos meses? Uma continuidade e um fluxo maior de ações culturais, projetos permanentes, que tenham continuidade. Uma aproximação maior com leis de incentivo ProAc e Lei Rouanet trará projetos para a cidade. Vai ser enviado um Projeto de Lei do prefeito instituindo um programa falando da formação cultural. É um projeto para implantar oficinas culturais em Holambra. Vai ser algo bem legal porque, até então, a gente tem algumas oficinas culturais. Tem a viola, teve por algum tempo o teatro, mas esse projeto vai instituir o programa para que Holambra tenha essas oficinas de formação cultural de maneira permanente. Serão vários tipos de formação ao longo do ano com dança, teatro, com música e isso vai sendo implantado aos poucos. Isso deixa legado. A prioridade vai ser atender pessoas mais carentes. A gente está nos preparativos finais para ser enviado à Câmara.


“A gente conseguiu aumentar a quantidade de ações culturais, sem custo”


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