31/07/2016

Atleta de Holambra acompanhará seleção de basquete da Nigéria nas Olimpíadas

Fred Scheltinga fala sobre paixão pelo basquete e as expectativas como voluntário nas Olimpíadas Rio 2016

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Leonardo Saimon

Enquanto caminha pelos corredores da escola em que trabalha na cidade de Artur Nogueira, Fred Scheltinga se destaca pelos 2,10 m de altura. Durante o trajeto, amigos de trabalho o cumprimentam. De forma amistosa, ele retorna os gestos, mas segue rumo à quadra de basquete próximo de onde deve ser a entrevista. A serenidade do atleta parece fazer sumir qualquer tipo de ansiedade, embora falte poucos dias para o embarque de Fred rumo ao Rio de Janeiro, onde será voluntário nas Olimpíadas.

Morador de Holambra desde 2010, Fred declara o carinho que sente pela cidade, já que a família costumava visitar parentes que residiam no município quando era criança. “Por este laço familiar e por ser uma cidade tranquila, eu acho que Holambra acolhe muito bem ”, afirma sem rodeios. Ele não hesita em apontar algumas limitações que impedem o Brasil de crescer ainda mais no basquete e por isso dispara: “No Brasil, o basquete não tem a mesma visualização que tem o futebol, tanto em valores, quanto em divulgação”. Apesar disso, acredita que o município tem potencial em lançar novos atletas profissionais.

Em conversa com o Portal Holambrense, Fred fala sobre a paixão pelo basquete que o acompanha desde os 14 anos. Ele comenta do desempenho do Black Horses na temporada da Copa Itapira e por fim, revela detalhes sobre o trabalho que deve desempenhar durante as Olimpíadas Rio 2016. Na semana passada, o atleta recebeu as últimas instruções para o evento, ocasião em que pegou a camisa e o crachá que o identifica como voluntário.

Como foi o seu primeiro contato com o esporte e com o basquete?  Eu sempre fiz de tudo, sempre fui muito participativo. Fiz natação porque os médicos falaram que era bom para o desenvolvimento, principalmente pra gente que é alta, melhora a postura e depois fiz futebol. Entre 14 e 15 anos tiveram uns jogos escolares lá em Maracajú (MS) mesmo onde comecei a jogar basquete. O professor do time municipal me chamou para jogar basquete pela cidade e fomos disputando a etapa estadual no Mato Grosso do Sul e fui convocado para a seleção estadual. Depois participei de um campeonato brasileiro em Joinville em 1999 e de lá eu apontei para o basquete mesmo. Como era um campeonato brasileiro e tinham outros estados, um técnico de Belo Horizonte do Minas Tênis me chamou para fazer uma peneira, foi quando eu comecei no basquete mesmo. Fui para Belo Horizonte, joguei no Minas Tênis, depois fui para Ribeirão Preto jogar no segundo ano de Juvenil em São Paulo que era um dos times de ponta na época e acabei migrando para onde era o melhor lugar pra mim. Joguei em Joinville e de lá fui para os Estados Unidos, jogar basquete universitário onde fiquei quatro anos e meio jogando baquete universitário. Tudo por meio de bolsa e voltei em 2010 pra cá, joguei em Artur Nogueira na época em que tinha um time de basquete e depois fui pro Peru jogar um torneio e voltei para terminar a faculdade.

Você pensou em jogar basquete profissionalmente? É sempre a intenção né, tive tudo para me tornar um jogador profissional. Estive nos melhores times da época, tive um dos melhores treinadores, o lula, que era técnico da seleção brasileira, outros já tinha disputado olimpíadas. Eu tive contato com grandes atletas na época. Agora, poderia ter virado profissional, sim, mas como eu joguei por 10 anos no “profissional” e tive mais sucesso na base e no juvenil do que no adulto. Fui para os Estados Unidos, quando eu voltei eu vi que o mercado era diferente, não recebia tanto. Fui até me aventurar no Peru, mas depois que eu voltei e já estava com quase trinta anos de idade, então resolvi terminar a faculdade mesmo. Tive uma chance de jogar.

Uma de suas paixões atualmente é o Black Horses. Como você entrou no time? Eu sempre tive a oportunidade de jogar, sempre, graças a Deus tive convites para participar de outras equipes, até mesmo aqui na região. Agora aqui em Holambra, existia um grupo de amigos que sempre gostava e quanto eu estava de férias ou tinha chance, brincava com eles. Depois de formado, sobrou tempo vago a noite porque eu não precisava ir mais para a faculdade. Então eu conseguir montar um horário que eu participasse mais com eles. Vendo a vontade deles de jogar, de ter algo mais do que simplesmente se reunir num rachão de segunda-feira e sim participar de campeonatos. Então passamos a conversar com o grupo e levando um pouquinho mais pra frente.

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Como você avalia o desempenho do time nesta temporada? Acho que vai muito da união do grupo. O comum no Black Horses é: o gostar de jogar basquete. Todo mundo se une ali e faz o que gosta. Tipo o povo se une para jogar futebol e a gente se une para jogar basquete. A gente sacrifica um pouquinho o tempo que a gente tem livre para jogar ou participar de uma competição. E assim o campeonato que a gente está jogando é bem equilibrado as equipes são intermediárias. Não tem nenhuma equipe que é muito mais forte do que as outras. Além do fato da gente jogar algum tempo junto, nos favorece. Nós já temos um entrosamento, não é uma equipe que se juntou para jogar um campeonato. O time tem um grande potencial e atletas que ajudam bastante, por isso que está dando certo.  Dá pra equipe ficar entre os quatro.

Além da Copa Itapira, vocês têm em vista outros campeonatos? Em um primeiro momento, esta copa foi a mais viável pra gente. Era um campeonato que a gente ia disputar quase o ano inteiro e o custo benefício, a economia, por ser sempre na mesma cidade e as taxas de inscrição e a taxa de arbitragem não serem tão caras, tornou tudo mais acessível pra gente. Mas no futuro, se tiver algum patrocinador, a gente pode pensar em algo a mais. Um campeonato mais forte que tem em Campinas ou que é um pouquinho mais caro e o nível é um pouquinho maior. E quem sabe até disputar os jogos regionais. Movimentar o basquete mesmo.  O jogo em Holambra mesmo foi fundamental para mostrar o trabalho e o basquete na cidade, sabe?

Você acredita no potencial de Holambra para formar novos atletas profissionais? Com certeza. Acho que o Léo é um bom exemplo disso. E além do Léo, muitos outros poderiam estar surgindo. Porque o Léo partiu de um projeto social. Esses projetos são extremamente importantes pra despontar, pra pegar iniciação, como Campinas é uma cidade grandes e tem grandes times de iniciação, as cidades pequenas como Holambra, dependem desses projetos para incentivar a qualquer esporte. Tanto que a copinha que teve em Holambra incentiva pessoas de foram virem olhar.

Quem são suas referências no esporte? No Brasil, o Oscar sempre foi um grande ídolo pra mim. Mas da NBA, eu sempre gostei de assistir o Michael Jordan e torço para o Chicago Bulls até hoje por causa dele. E também gosto do Tim Duncan, do San Antônio que acabou de se aposentar.

Outro momento marcante na sua trajetória de vida são as Olimpíadas. Como surgiu a oportunidade de ser voluntário? Desde 2014 eu tenho feito as etapas que pedem. Eu tinha uma professora na faculdade que faz parte do Comitê Olímpico e essa professora dava aula de basquete e de outras matérias também. E a gente se deu bem, pelo fato de ela ser ex atleta também e dava aula na escolinha américa, ela que me colocou nessa escola para dar aula. Ela recebeu o convite para trabalhar no comitê, e no meio de uma brincadeira, a gente estava se despedindo, eu falei: ‘Ah bem que você poderia arranjar um ingresso dá final do basquete pra mim né?’. Ela riu e disse: ‘A gente vai conversando.’ Isso em 2014. Ela comentou que tinha aberto vagas para ser voluntário nos jogos e como ela estaria me indicando para o coordenador do basquete, eu consegui um código com o Paulo Villas-Boas que hoje coordena o basquete nas Olimpíadas foi quando consegui dar um passo à frente dos voluntários por conta da indicação. Em vez de eu correr igual a todo mundo em todas as áreas das Olimpíadas, eu já fui especificamente para o basquete. Desde então tenho feito os cursos, online e presencial que eles pediram pra gente fazer, participei do evento-teste que aconteceu no início do ano no Rio de Janeiro. Cada dia que chega a expectativa é muito grande.

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Onde que você estava quando soube que iria ser voluntário? Qual foi sua reação? Eu vinha acompanhando. É lógico que de 2014 pra cá, muita coisa pode acontecer, né? Então é difícil você criar uma expectativa grande e depois chegar na última semana e se frustrar. Mas eu acho que foi em 2015 quando chegou a carta-convite. Eu estava em casa lendo os e-mails. E por incrível que pareça, chegou no Spam porque não era um contato fixo. Eu assistia nos jornais que os convites já tinham saído, mas pra mim não chegava nada. Como devido ao trabalho eu sempre checo o e-mail, eu olhei a lixeira e tinha uns cinco ou seis e-mails do Rio lá com algumas instruções. Foi dando aquela ansiedade.

Em que você vai trabalhar lá? Eu vou acompanhar a seleção de basquete da Nigéria. Eles passaram a escala essa semana pra gente. Onde a seleção da Nigéria for eu serei o guia deles para o que eles precisarem, tanto para a tradução da linguagem, quanto o cumprimento do cronograma do time. Acompanho nos treinos, nas refeições. Sou o primeiro cara para tirar as dúvidas do pessoal, seja para treinos ou para jogos. Estarei o dia inteiro com a seleção.

Você falou em cursos. Que tipo de curso você precisou fazer? Como vários voluntários são de fora da cidade, então eles apresentam a cidade pra você. Eles deram um curso de quatro meses de inglês pra você aperfeiçoar o inglês.  Mais para você saber onde irão acontecer cada modalidade das Olimpíadas. Maracanã, Copacabana, onde serão as competições, um resumo do que vai acontecer nas Olimpíadas. E essa semana que eu recebi minha escala de trabalho, eles detalharam mais ainda. Eles falam minuto a minuto do que eu farei lá.

Você vai por conta, ou é tudo custeado pelo Governo Federal? Na verdade, o Rio 2016 eles só bancam a alimentação nos dias em que você trabalha e o transporte na cidade. O local onde eu vou ficar no Rio de Janeiro e o transporte até o Rio de Janeiro é por conta. Alguns dizem: ‘ah mais você vai gastar muito dinheiro’. Se eu fosse pra Londres assistir as últimas Olimpíadas, eu ia gastar muito mais ou se eu for em Tóquio eu vou gastar o triplo também. Então foi a chance, agora ou nunca por ser as Olimpíadas no Rio de Janeiro. Graças a Deus eu tenho um amigo aqui de Holambra que mora em Jacarepaguá, na cidade do Rio, que me cedeu o lugar para passar os dias. Eu vou ajuda-lo no aluguel, então deu certo.

Quando você embarca? Eu vou no dia primeiro de agosto. Segunda-feira agora.

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