16/04/2017

Artista Plástico fala de trabalho exposto durante Semana Santa em Holambra

Glauco Zia expõe pelo segundo ano trabalho que retrata morte e ressurreição de Jesus

Alysson Huf

A Arte atrelada a religião marcaram a Semana Santa em Holambra. O município trouxe 14 telas pintadas pelo artista plástico, Glauco Zia, que ficarão expostas até hoje (16) na Praça dos Coqueiros. Com expressões diferenciadas do artista, as obras ganham técnicas e perspectivas diferencias, sem divergir da fé. Todos os painéis de Zia foram pintados à mão; um verso bíblico ao lado da obra completa o ambiente e traz o significado de cada quadro.

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Glauco Zia nasceu na cidade de São Paulo e mudou para Artur Nogueira (SP) depois que o pai comprou um comércio na cidade. Ele é casado e tem um casal de filhos e há anos vem se dedicando integralmente para o mundo das artes.

Ao Portal Holambrense, Glauco fala sobre as obras que produziu a Holambra e que tipo de mensagem quis passar o público. Ele também conta de como se descobriu artista e sobre o convite que recebeu do Padre Paulo Henrique para pintar novamente os quadros que estão expostos.

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Glauco, como você descobriu sua vocação artística?  Na pré-adolescência, com 12 anos. Aos 12, eu já gostava de desenhar os colegas da escola. Então, percebi que eu tinha facilidade com o desenho e para criar. Eu comecei primeiro estudando a parte técnica, fazendo Desenho Técnico no Senai. No Ensino Médio, eu optei em fazer um técnico em Publicidade no colégio. Nessa parte, eu aprendi como desenvolver campanhas, como eu poderia usar essa parte artística dentro da publicidade, mas não era ainda bem isso que eu queria. Daí, eu busquei uma faculdade de Educação Artística. A partir desse momento, eu descobri o mundo das Artes, digamos assim. Abriu um leque de possibilidades.

Onde você fez faculdade? Em 1996, eu me formei na PUC de Campinas. Lá eu fiz Educação Artística com especialização em Artes Plásticas. Depois eu fiz uma pós em Arte, Produção e Ensino também na PUC. Antes mesmo até da faculdade, eu comecei a fazer alguns grafites aqui na cidade, em alguns comércios. Eu misturava grafite e a grafia, desenhava letreiros e logotipos. Descobri mais esse dom de pintura também. Na faculdade, então, eu comecei a aprender mais técnicas da arte, tive História da Arte. De lá pra cá, me tornei um pesquisador de Artes Plásticas.

Então, você sempre trabalhou com Artes? Eu vim lecionando Artes, trabalhei em algumas escolas e hoje trabalho na Prefeitura de Holambra e tenho um Ateliê de Arte onde eu trabalho, que é no NAOTT. Eu dei uns cursos para a população também e tem o meu trabalho como artista plástico, como pesquisador de Artes Plásticas. Participei de um curso de Artistas Plásticos Contemporâneos chamado de Núcleo Olho Latino entre 2000 e 2005 onde a gente fez muitas exposições pelo Brasil e em alguns outros países também. Era um grupo de pesquisas de Artes Contemporâneas. Ele existe até hoje na Região Metropolitana de Campinas.

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“Optei em fazer um desenho mais simples inspirado na figura de Jesus, que para mim foi uma pessoa simples”


Você pintou 14 painéis para Holambra. Certo? Sim. Foram 14 painéis de 2,20 m por 1,60 m. Cada um contando uma passagem da Via Sacra.

Como surgiu o convite para pintar esses quadros? Na verdade, é a segunda vez que eu faço. Eu fiz em 2014, eles foram apresentados nesse mesmo período. E agora, o padre Paulo pediu para eu refazê-los. Mas me deu a liberdade de refazer do jeito que eu achasse melhor.

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Qual foi a diferença entre as duas obras? Então, da primeira vez eu representei um estilo vitral, puxando para o vitral, estilizado. E dessa vez eu optei em fazer um desenho mais simples inspirado na figura de Jesus, que para mim, foi uma pessoa simples. Então, eu queria mostrar de maneira simples a passagem da Via Sacra. Eu fiz uma pesquisa visual dos movimentos que trataram desse assunto, que já foi muito abordado na história da Arte, em diversas épocas. E o que me interessou bastante foi o desenho bem detalhado da parte do Renascimento, Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael. As expressões dos maneiristas que eram o Tintoretto, o Greco e a pintura experimental dos pré-modernistas, que foram Cézanne, Van Gogh. Então, eu procurei criar uma arte original minha onde eu conseguisse expressar de uma maneira única e original, uma pintura relativamente simples, mas expressiva. Eu desenhei numa composição em linhas simples, enxutas, vamos dizer assim. E optei por substituir a paisagem de fundo por tintas escorridas, escolhi substituir a luz de sombra da anatomia dos corpos por espatulados e pinceladas falhadas, criando um resultado diferenciado do que foi criado até hoje.


“Eu decidi apresentar esse tema tão conservador de uma maneira vanguardista”


O que você quis passar com essa arte? Eu quis passar espontaneidade. Uma imagem espontânea. Valorizar apenas a expressão dos rostos, das poucas figuras que têm. Apenas os protagonistas de cada cena. Que as vezes são duas pessoas, as vezes são três. Como se fosse uma imagem narrativa, como se fosse uma imagem de uma história em quadrinho, sem fala. Que retratasse bem a cena, de uma maneira simples, mas com um resultado bem elaborado, bem acabado. Eu usei uma cor para cada quadro. Uma monocromia. Tonalidade de uma mesma cor em cada quadro, para tornar uma pintura suave e sem contrastes.

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O que você achou do resultado? Eu gostei do resultado. Como eu faço uma experimentação de materiais durante todo o meu trabalho, também fiz uma experimentação de uma técnica nesse trabalho. Então, o resultado foi uma surpresa. Foi algo bem agradável.

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Quanto tempo você levou para pintar os painéis? Entre esboço até o acabamento, desde o início do trabalho, das pesquisas e do esboço até o final, um mês.


” O Processo de pintar requer uma parte lógica, uma parte racional e uma parte intuitiva “


No processo da pintura você é movido mais pela razão ou pela emoção? É uma pintura engajada em um tema sério. Precisa-se seguir uma metodologia só que mesmo com toda essa metodologia, por ser uma arte experimental também, a intuição é muito importante durante o fazer. Porque os resultados vão aparecendo ora você gosta, ora você permanece com ele. Em alguns momentos você apaga e faz tudo de novo. Então, o processo de pintar requer uma parte lógica, uma parte racional e uma parte intuitiva em sintonia com essa racionalidade. Para mim, pintura artística é bastante razão e bastante emoção.

Como que o público tem reagido à sua obra? Até agora, poucos vieram falar comigo sobre as obras. Mas os poucos que vieram gostaram muito. Eu fiquei um pouco apreensivo, esperando esse primeiro retorno porque eu ousei em fazer algo diferente. Quando a gente ousa a fazer algo diferente, a gente sabe que está sujeito a crítica, e pessoas vão gostar, outras pessoas não vão gostar. Mas a gente tem que ter coragem quando a gente quer inovar e tem que correr esse risco. Eu decidi apresentar esse tema tão conservador de uma maneira vanguardista.

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