Após a perda dos filhos, mães se reúnem em um grupo de acolhimento em Holambra

Raquel Santana

A abordagem diante da perda é intrinsecamente pessoal, e desde 2019, o grupo ProSeguir dedica-se a fornecer suporte ao luto em todas as suas manifestações, com especial atenção ao luto materno.

O projeto teve início em Campinas e, em 2022, expandiu-se para a Holambra. Sua principal missão é auxiliar diversas mulheres a compartilhar suas dores e encontrar um novo significado para suas vidas após a dolorosa perda de seus filhos.

Doni Candido, a psicóloga responsável pelo grupo, que se reúne mensalmente no espaço Bloemendaal, destaca: “Não há um termo específico para definir essas mulheres. Costumamos usar ‘mães enlutadas’, mas preferimos evitar essa expressão.”

Segundo Doni, o grupo proporciona um ambiente onde as mulheres podem expressar a saudade de seus filhos e discutir as batalhas diárias de superação. “Através dessa troca de experiências e testemunhos entre elas, elas vão ressignificando a própria vida.”

Doni explica que todas as mães chegam ao grupo em momentos diferentes. Algumas já se reestruturaram emocionalmente, permitindo-lhes ajudar outras mães do projeto, mobilizando recursos emocionais.

Neusa Aparecida Landucci, aposentada de 67 anos, é uma dessas mulheres. Ela compartilha: “Graças a Deus, me sinto resolvida hoje. Mas é um processo longo que cada uma vivencia de formas diferentes.” Neusa ingressou no grupo ProSeguir há um ano para oferecer auxílio, compartilhando sua jornada de 21 anos com o luto da perda de seu filho aos 4 anos de idade, vítima de um acidente doméstico

Ela conheceu o projeto através de Doni e de outra participante, a professora Edna Peretti, que ajudou a expandir o projeto de Campinas para Holambra. Inicialmente planejado para Cosmópolis ou Americana, o apoio de Paula Ostanello permitiu a criação de um grupo na Cidade das Flores. Edna comenta: “Começou com um grupo bom, depois diminuiu um pouco, mas é assim mesmo, né? Nós ainda estamos nascendo aqui.”

Edna, que perdeu os dois filhos, Gabriel e Giovana, em acidentes, compartilha sua história no grupo ProSeguir a convite de Doni. Ela inicialmente participava em Campinas, mas o desejo de levar algo tão significativo para perto de sua casa, em Cosmópolis, a motivou a ajudar na criação de um segundo ponto de reuniões.

“Deus guia nossos encontros. Vai à mãe certa, aquela que realmente deseja desabafar, conversar um pouquinho. Se quiser ficar em silêncio, também pode. Temos um respeito muito, muito grande. Esperamos que essa sementinha que plantamos dê muitos frutos”, comenta Edna.

Doni assegura que apenas por meio da escuta ativa e muita empatia entre as participantes do ProSeguir é possível uma reestruturação interna em cada uma delas. “É uma perda extremamente devastadora para uma mãe, como elas mesmas relatam. Elas perdem a própria identidade e não são mais as mesmas, o que pode interferir nos relacionamentos familiares, profissionais e sociais”.

Maristela Delgado, professora aposentada, de 61 anos, é participante desde a primeira reunião e afirma que o grupo é extremamente acolhedor. “Existe uma troca de experiências. Uma se apoia na outra. Quando uma está pior, as outras a levantam”, conta.

Há alguns anos, Maristela perdeu o único filho, Hugo Delgado Carlstron, na época com 25 anos, em um acidente de carro. “Ele estava voltando de uma festa, dormiu no volante e bateu atrás de um treminhão de cana. Ele era lindo, um modelo fotográfico. O que me conforta é saber que ele está ao lado de Deus e num lugar maravilhoso. Já a minha superação foi ir cuidar de pessoas que precisavam de ajuda. Idosos, acamados e pós operatórios. Me sinto útil”.

E foi a partir desse trabalho que Maristela conheceu Doni que a incentivou a contar sua jornada diária de superação. “Esse é o principal propósito do grupo. A troca de experiências e a escuta entre as mães contribuem para mobilizar recursos emocionais na reestruturação e ressignificação de suas vidas”, conclui Doni Candido.

Para mais informações sobre o ProSeguir:

Instagram: @proseguir.maesenlutadas

Campinas: psicóloga tanatóloga Monica Serpentini (19) 97103 – 1968

Holambra: psicóloga Doni Candido (19) 99787 – 0655

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